Secult celebra o Dia dos Povos Indígenas

19 de abril de 2023 - 11:54 # # #

A Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará) celebra, nesta quarta-feira, 19 de abril, o Dia dos Povos Indígenas. Ressaltando a importância da luta indígena e da preservação das suas identidades e culturas, a Secult Ceará vem implementando políticas culturais que promovem a preservação e salvaguarda dessas identidades e ações que dão visibilidade à cultura e aos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas.

Estimulando a valorização do protagonismo dos diferentes povos indígenas do Ceará, a Secult ampliou a inclusão da pauta cultural indígena na programação de seus eventos. Um desses eventos foi a XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará, em 2022, que teve o escritor Daniel Munduruku como um dos curandeiros/curadores, contando com extensa programação de cultura indígena.

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Nos editais da Secretaria, a cultura indígena também está cada vez mais presente. Com a implementação de uma política de cotas e pontuação nos editais, a Secult também deu um salto em suas ações afirmativas, reservando uma cota de vagas destinadas a pessoas indígenas em seus últimos editais lançados, como o de Incentivo às Artes, Cultura Infância e Cidadania e Diversidade Cultural, Ciclo Natalino, Ciclo Carnavalesco, Edital da Paixão e Ceará Junino.

Ainda em 2017, foi instituído o Comitê Gestor de Políticas Culturais Indígenas do Ceará, como instância institucional de diálogo importante para o desenvolvimento de programas, projetos e ações que dão visibilidade à cultura e aos conhecimentos tradicionais dos povos indígenas. Com um papel central na política cultural, o comitê tem representantes das 15 etnias, organizações indígenas, organizações indigenistas e poder público. 

Com participação institucional do comitê, foram realizados o I e II Prêmio das Culturas Indígenas, com 41 iniciativas culturais indígenas reconhecidas pelas suas áreas de atuação cultural em diferentes territórios no Ceará. 

No Ceará, a população indígena é estimada em cerca 36 mil pessoas, formada por 15 povos indígenas – Anacé, Gavião, Kanindé, Kariri, Tremembé, Tapeba, Jenipapo-Kanindé, Pitaguary, Kalabaça, Karão, Tapuia-Kariri, Tubiba-Tapuia, Potyguara, Tabajara e Tupinambá.

Mestres da Cultura Indígenas

O Edital dos Tesouros Vivos do Ceará está inserido em uma política de reconhecimento, proteção e valorização da diversidade dos conhecimentos, fazeres e expressões das culturas populares e tradicionais no Ceará.

Conheça a seguir os Mestres da Cultura Indígena que foram reconhecidos pelo Governo do Cará, por meio da Secretaria da Cultura.

Luís Manoel do Nascimento – Mestre Pajé Luís Caboclo

Nascido no distrito de Almofala e com mais de 40 anos de pajelança, Mestre Pajé Luís Caboclo cuidando da saúde com os conhecimentos que tem sobre os efeitos das plantas medicinais, a memória ancestral dos remédios naturais. É ele quem visita as casas da aldeia Tremembé, levando auxílio para curas de doenças por meio da “sabedoria da natureza”, fazendo o seu povo entender o lado espiritual das enfermidades. Já foi  membro do Conselho de Saúde do Município de Itarema, participou do Conselho Distrital de Saúde Indígena, da Funasa e foi membro do conselho local de saúde indígena Tremembé, e também do Conselho de Saúde da Prefeitura de Acaraú. 

Francisco Marques do Nascimento – Mestre Cacique João Venâncio 

Exerce a liderança da Aldeia Indígena Tremembé da Praia de Almofala por atribuição da própria comunidade, cujo encargo de cacique lhe foi dado em 1991, sendo instrutor dos rituais sagrados indígenas, com o dever de repassar os conhecimentos para todos os povos indígenas. É um dos principais responsáveis pela continuidade da tradição do torém, ritual de dança próprio da etnia tremembé. Como pescador, retira da atividade o necessário à sobrevivência. Representa os povos indígenas do Ceará em assembleias, conferências, seminários, fóruns, encontros e debates promovidas no Brasil e estrangeiro. João Venâncio é o fio condutor de três documentários, “Os Tremembés da Alma Fala”, “Torém” e “As Caravelas Passam”, realizados por Ivo Souza.

Maria de Lourdes da Conceição Alves – Mestra Cacique Pequena

Primeira mulher a assumir a chefia numa etnia indígena brasileira, a Mestra Cacique Pequena reside na localidade de Lagoa Encantada, reserva indígena Jenipapo/Canindé. Sua história se confunde com os movimentos de resistência dos povos indígenas cearenses. De seu trabalho, em conjunto com outras lideranças, resultou a instalação da Escola Indígena de Ensino Diferenciado, na Lagoa Encantada; do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS indígena); de um posto de saúde, um museu e da Pousada Indígena Jenipapo-Canindé. Foram de sua iniciativa a criação e a fundação da Associação das Mulheres Indígenas Jenipapo Kanindé (AMIJK), instituída para possibilitar a salvaguarda do Patrimônio Cultural Indígena. Cacique Pequena utiliza sementes de pau-brasil, mucunã, jeriquiti, linhaça, para confeccionar colares e pulseiras. Plantas e raízes medicinais são elementos que ela utiliza para a produção de remédios caseiros e banhos. Ela repassa para seu povo receitas de lambedores que recebeu dos mais antigos. 

Raimunda Rodrigues Teixeira – Mestra Pajé Dona Raimunda Tapeba 

Dona Raimunda Tapeba mora na na aldeia indígena Tabepa da Ponte, Parque São Gerardo, às margens do Rio Ceará. É pescadora (catadora de crustáceos) e artesã, além de desenvolver também ações comunitárias no campo das plantas curativas, cultivando raízes e ervas medicinais de uso bastante comum entre os povos indígenas. É uma das guardiãs e detentora da memória relativa a todo o patrimônio vivo e histórico do povo Tapeba, tendo sido a primeira mulher indígena a assumir, no Estado do Ceará, a condição de Pajé. Com essa função, ela atua para transmitir e difundir os saberes, os costumes, as tradições e a história junto ao povo, especialmente crianças e jovens indígenas. Em seu cotidiano, realiza ações de aconselhamento, faz rituais de cura, indica e disponibiliza medicamentos da medicina nativa que tem sob seus cuidados. Também participa de rituais religiosos e manifestações culturais, ministra palestras dentro e fora de sua aldeia, compartilhando suas experiências e a de seu povo no movimento indígena local e nacional.

José Maria Pereira dos Santos – Mestre Cacique Sotero 

Um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aratuba, Mestre Cacique Sotero foi também o fundador do Museu dos Kanindé, espaço que mantém por mais de 20 anos. Criou, no âmbito do museu, o Núcleo Educativo do Museu Kanindé com o qual vem compartilhando, de forma coordenada, a sua prática museológica com as novas gerações e estudantes da Escola Indígena Manoel Francisco dos Santos. É considerado criador de uma linguagem museológica própria, que coloca a serviço da luta dos povos indígenas seus objetos, memórias e patrimônios culturais que, traduzidos da sua realidade tornam-se ferramentas de luta e afirmação étnica. Também é reconhecido como um dos mais antigos e único representante vivo, do grupo de pioneiros, na criação de museus indígenas no Brasil, o que o distingue como referência nacional nas práticas museológicas de caráter social e comunitária.

Raimundo Carlos da Silva – Mestre Pajé Barbosa Pitaguary (em memória)

Nascido na Pacatuba, onde hoje é território Pitaguary, Mestre Pajé Barbosa Pitaguary ajudava seus avós, durante sua infância e juventude, nos processos de cura por plantas e por rezas – mais especificamente, nas artes das raizeiras, das carimbeiras e das curandeiras. As curas podiam  ser tanto na esfera das plantas medicinais como na esfera espiritual. Essa sua aproximação com a espiritualidade, principalmente com a umbanda, o fez aprofundar esse conhecimento quando se tornou pajé. Como Pajé, teve grande importância devido sua contribuição no campo da saúde mental, através do uso e manipulação da Jurema, que auxiliava nos processos de cura e alívio do sofrimento. Além disso, ele também se destacava por sua atuação política, ajudando os que ainda não tinham conhecimento sobre os acordos e compromissos firmados com órgãos federais sobre as questões indígenas, e sendo um dos principais mediadores políticos do seu povo. Pajé Barbosa fez sua passagem para o mundo dos encantados no dia 8 de dezembro de 2022, tendo sido reconhecido, no mês anterior, como novo “Mestre da Cultura do Ceará”, ficando em primeiro lugar no edital.