Conheça os Novos Mestres e Mestras da Cultura

21 de fevereiro de 2019 - 18:33 # #

 

 

A Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult) divulga, nesta quarta-feira, 20/02, o resultado final do Edital do “Tesouros Vivos da Cultura” do Estado do Ceará 2018 para reconhecimento dos novos Mestres e Mestras da Cultura, novos grupos e coletividades. Com esse resultado, mais uma meta do Plano Estadual de Cultura do Ceará foi atingida: a da ampliação do número de Mestres da Cultura do Estado. Confira o resultado no site de editais da Secult: http://editais.cultura.ce.gov.br/.

Com o Edital do Tesouros Vivos da Cultura 2018, foram contemplados 11 (onze) novos Mestres e Mestras da Cultura. Além deles, 02 (dois) grupos e 01 (uma) coletividade estão na lista. No processo seletivo, 119 inscrições foram validadas, sendo 105 inscritos para a categoria pessoa natural – mestres e mestras da Cultura, 11 para categoria grupos e 03 para coletividade.

O processo seletivo do Edital contou com a avaliação de uma Comissão Especial formada por Jana Rafaella Maia Machado, mestra em Preservação do Patrimônio Cultural pelo Mestrado Profissional em Preservação do Patrimônio Cultural – PEP-MP/IPHAN; Sílvia Maria Aragão de Andrade Furtado, mestra em Educação, pela Universidade Federal do Ceará, editora e secretária executiva da Fundação Waldemar Alcântara; Francisco Otávio de Menezes, historiador e coordenador do Arquivo Intermediário da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará; Raimundo Oswald Cavalcante Barroso, doutor em Sociologia, pela Universidade Federal do Ceará, professor da Universidade Estadual do Ceará, dramaturgo, poeta, jornalista, folclorista e teatrólogo; e Poliana Santos Braga, presidente da Comissão Cearense de Folclore.

1. Mestres e Mestras da Cultura

Adrião Sisnando de Araújo (Juazeiro do Norte – Cabaceiro) – Cabaceiro Siará, com 52 anos, é filho do Cariri cearense. Destaca-se pelas atividades de pesquisador e museólogo popular, coletando e mantendo um importante acervo no seu Museu das Cabaças, preservando a memória do povo cabaceiro.

Aécio Rodrigues de Oliveira (Crato – Luthieria) – Com 62 anos de idade, Aécio de Zaira tem como ofício, há 21 anos, a produção artesanal de instrumentos musicais (luthieria), por meio da reciclagem de madeiras mortas e outros materiais descartados no lixo, além de materiais em decomposição encontrados na natureza. Representa também através da música e da poesia popular as tradições do Cariri. Sua produção tem como raízes os saberes e fazeres de sua bisavó paterna, índia Kariri que morava na região rural do Crato. Seus conhecimentos foram adquiridos em família através da oralidade e do convívio cotidiano e, atualmente, transmite-os voluntariamente no quintal de sua casa em aulas de música e de luthieria.

Antônio Ferreira Evangelista (Juazeiro do Norte – Reisado) –  Mestre Antônio, 57 anos, natural de Juazeiro do Norte, é líder de reisado e brincante há mais de 40 anos. Tem uma ligação tão forte com a manifestação que se torna impossível separar sua existência da brincadeira do reisado. Começou a participar da atividade quando criança no Reisado do Mestre Pedro, após o falecimento do mesmo, Antônio e seus irmãos deram continuidade ao grupo que passou a ser chamado de Reisado dos Irmãos, em 1996.

Expedito Antonio do Nascimento (Juazeiro do Norte – Banda Cabaçal) – Mestre Expedito Caboco possui 69 anos, dos quais 60 têm sido vivenciando e difundindo a tradição das bandas cabaçais e 50 representando o personagem Mateus em reisados e guerreiros de Juazeiro do Norte. Mantém com muito afeto e respeito a cultura da banda cabaçal, que tem sido vivida e transmitida entre as diversas gerações de sua família. Recebeu de seu pai, João Marques de Souza, em 1971, a direção da banda cabaçal fundada por seu avô e irmãos deste, em 22 de março de 1901, sob as bênçãos de Padre Cícero. À frente da banda cabaçal, hoje denominada Banda Cabaçal Santo Expedito, mantém, com sua memória, criatividade e incrível habilidade, os repertórios, os instrumentos, as danças e os demais saberes e fazeres ligados a esta importante tradição.

Francisco Alves de Freitas (Caridade – Artesanato em Couro) – Conhecido como Chico Belo, nasceu há 70 anos em Caridade, no Sertão de Canindé. Desenvolve o artesanato em couro, ofício herdado do pai e do avô. Em suas mãos, o couro curtido vira selas e arreios, botas e sandálias, cintos e chicotes. Mestre Chico Belo se destaca pelo esmero e pela delicadeza do seu trabalho, certamente por considerar seu ofício uma arte.

João Pedro de Carvalho Neto (Fortaleza – Xilogravura e Literatura de Cordel) – João Pedro (54 anos), reside em Fortaleza desde 2001. Conhecido como João Pedro de Juazeiro, é um artista inquieto e muito produtivo na área de xilogravura e literatura de cordel. Começou a desenvolver seus trabalhos com xilogravura na Lira Nordestina, em Juazeiro do Norte. Além de produzir, preocupa-se em transmitir seus conhecimentos através de oficinas e fomentar sua arte em exposições. O Mestre empenha-se ainda em preservar a memória de seu povo, mantendo e protegendo um acervo de mais de 8000 mil peças composto por xilogravuras impressas e equipamentos para a fabricação dessa arte que tanto representa o Nordeste.

Raimunda Rodrigues Teixeira (Caucaia – Cultura Indígena – Povo Tapeba) – Dona Raimunda Tapeba (73 anos) é líder de seu povo, ocupando a função de pajé, sendo considerada a primeira mulher indígena a ocupar o papel de pajé numa etnia indígena no Ceará. Sua comunidade está estimada, atualmente, numa população de oito mil indígenas da etnia Tapeba, que vivem na margem do rio Ceará, em Caucaia. D. Raimunda mantém os costumes indígenas vivos através de sua memória e seus ensinamentos acerca das lendas, culinária, ervas, rituais e costumes. A Mestra Pajé Raimunda Tapeba é uma representante valente e incansável dos indígenas do Ceará.

Maria Josefa da Conceição (Porteiras – Comunidade Quilombola dos Souza – Dança do Coco e Maneiro Pau) – Conhecida como Maria de Tiê tem 58 anos, dos quais 41 anos são dedicado aos fazeres e saberes da dança do coco e do maneiro-pau na Comunidade Quilombola dos Souza, localizada no Sítio de Vassourinha, zona rural do município de Porteiras. Suas toadas e emboladas de coco divulgam as tradições e práticas culturais próprias de seu povo, como forma de reconhecimento e valorização da transmissão entre as gerações dos saberes de raiz cultural africana e afro-brasileira, esta advinda da singularidade, história e cultura repassada pelo seu pai, o Mestre Luiz Manoel de Souza, que foi mestre de reisado, embolador de coco e Maneiro-Pau. Maria de Tiê dedica-se também através de sua dança, cores e cantos à luta pelos direitos da mulher negra, pelo respeito à diversidade étnica e à sua própria história.

José Maria Pereira dos Santos (Aratuba – Cultura Indígena – Povo Kanindé) – Cacique Sotero, hoje com 75 anos, cresceu em meio às matas, acompanhando os pais desde pequeno nas caçadas e nos trabalhos agrícolas. Tem trabalhado na agricultura familiar de subsistência por toda a sua vida, dedicando-se também às lutas dos movimentos sociais e populares desde a década de 1960, especialmente como liderança indígena. É o idealizador do Museu dos Kanindé, o primeiro museu indígena do Ceará e segundo do Brasil, reinterpretando os saberes e técnicas herdados dos seus ancestrais.

Edite Dias de Oliveira Silva (Crato – Dança do Coco) – Dona Edite do Coco, com 78 anos de vida, é a principal responsável por manter viva a dança do coco na comunidade das Batateiras, no Crato. Ela lidera o Grupo de Mulheres do Coco da Batateira, um grupo de 17 agricultoras cratenses, com idades entre 56 e 84 anos, criado em 1979, quando ela e três amigas se reuniram para fazer uma apresentação da turma do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) na programação do Dia do Folclore na Praça da Sé do Crato. O grupo hoje é reconhecido com um dos mais importantes do Nordeste, tendo sido já objeto de diversas pesquisas.

Francisco Gildamir de Sousa Chagas (Aurora – Escultor e Luthier) – Conhecido como Gil D’Aurora, nasceu há 60 anos, em Juazeiro do Norte, mas, desde três meses de idade, reside em Aurora, considerando-se assim “aurorense de coração”. Aprendeu cedo com o pai e o avô a transformar madeira em arte e, no grupo dos notáveis escultores de Aurora, destacou-se nas esculturas em movimento. Gil foi deixando sua marca nos vários segmentos que explora, seja nas esculturas em movimentos, ex-votos ou móveis, mas foi inspirado pelo Mestre Antônio Pinto Fernandes que Mestre Gil D’Aurora entrou de cabeça no ofício de luthier, apaixonando-se fulminantemente pelas curvas e pela sonoridade da rabeca.

2. Grupos

Reisado Mirim Santo Expedito (Juazeiro do Norte – Reisado) tem origem na dedicação a esta expressão que é transmitida entre as gerações como tradição familiar. Foi fundado por um grupo de meninas entre nove e dezoito anos, que conquistaram o seu espaço em um universo marcadamente masculino, evidenciando a beleza mística encarnada de guerreiras ou semideusas. O protagonismo das meninas, sob a condução de Flatenara Silva, reconfigura o papel do feminino no universo do reisado e representa o futuro de uma tradição que, através dos jovens, encanta e atualiza a memória dos mais velhos e de seus antepassados.

Maracatu Rei de Paus (Fortaleza- Maracatu) é o maracatu em atividades contínuas há mais tempo em Fortaleza. Foi fundado há 65 anos pelos irmãos Antônio Barbosa, José Bernardino Barbosa e Geraldo Barbosa. Já recebeu vinte e sete (27) títulos de campeão do carnaval de rua de Fortaleza, destacando-se, tradicionalmente, nos seus cortejos, por seus ritmos, cores, loas, alas e coroação de sua rainha. A família Barbosa mantém com muito amor essa tradição familiar, buscando sempre fortalecer os elos afetivos da comunidade para com esta expressão afro-brasileira, promovendo momentos de aprendizado, socialização e ludicidade através de seus mutirões para confecção de material, ensaios e apresentações.

3. Coletividade

Associação União dos Moradores do Jatobá (Chaval – Farinhada / Mandiocultura)  foi reconhecida como coletividade pelo fazer cultural da farinhada, tradição ancestral da agricultura familiar da zona rural de Chaval. Sua prática resiste ao tempo há mais de 40 anos, e tem a farinha como referência de suas memórias, passando entre as gerações até os dias atuais. A casa de farinha é um espaço sagrado de produção de um dos principais alimentos do povo nordestino, lugar de convívio e socialização onde diversas famílias e gerações praticam a reciprocidade, alimentando seus laços de afeto e convivência. Em Chaval, a produção da farinha preservar a forma artesanal, baseada na herança ancestral indígena e afrodescendente. Dentre várias atividades realizadas pela associação está o rito que celebra a colheita da mandioca entre os meses julho a outubro de cada ano, reunindo as trabalhadoras e os trabalhadores rurais para vivenciar este momento de fortalecimento da identidade coletiva dando sentido ao conhecimento e à técnica do fazer tradicional.

Saiba mais

O aumento do número de Mestres e Mestras da Cultura do Estado se deu com a alteração da Lei dos Tesouros Vivos da Cultura, sancionada pelo Governador Camilo Santana, ampliando o limite de 60 para 80 mestres(as) reconhecidos(as).

Os Mestres da Cultura do Ceará são reconhecidos pelas leis 13.351/2003 e 13.842/2006 que instituem o registro dos Tesouros Vivos da Cultura do Estado do Ceará. Por meio de seleção pública, os mestres agraciados passam a receber um auxílio financeiro mensal e os grupos tradicionais recebem apoios para suas atividades.