Encontro de Periódicos Literários chega à quinta edição com presença de grandes publicações

19 de agosto de 2019 - 10:26

Parte da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará desde 2011, o espaço tem como objetivo contribuir para a preservação da memória literária brasileira

 

Até chegar ao leitor, o livro cumpre longas travessias. A cadeia produtiva é complexa e de muitos elos. Um bom escritor necessita de um bom editor; o texto precisa ser formatado em um projeto gráfico; as letras requerem papel ou tela; o livro, para circular, precisa de transporte e espaços – livrarias, feiras, bibliotecas. Com sorte, depois disso tudo, ele pousa em um par de mãos, um criado-mudo, escrivaninha ou em um leitor digital. Mas para continuar ecoando, o livro demanda porta-vozes. Quem fala deles – ou do conteúdo que ainda não virou livro? Quem conversa com os autores? Como se mantém tudo isso reverberando para sustentar o movimento da cadeia?

 

Uma das respostas está nas publicações especializadas – cadernos em jornais, revistas, periódicos, sites, blogs e outros espaços e publicações voltados à literatura. Seja de natureza jornalística – com críticas, matérias, entrevistas – ou dedicado à publicação de literatura em si – contos, crônicas, poemas, ensaios – esses veículos impactam fortemente o movimento do mercado editorial.

 

Frente a essa importância, a XIII Bienal Internacional do Livro realiza o V Encontro de Periódicos Literários Impressos e Eletrônicos, espaço já tradicional em sua programação. O eixo recebe editores de projetos do Ceará e de outros estados, em mesas-redondas que possibilitam a troca de ideias, expertises e experiências.

 

O encontro também é uma oportunidade para esses profissionais divulgarem suas publicações e ampliarem redes de contatos, além de evidenciar e fomentar a produção nacional de periódicos dedicados à literatura. Nesse domingo (18), a programação trouxe, pela manhã, Jose Anderson Sandes e Chagas Sales da revista Pequiá (Crato-CE); Nuno Rau, da revista eletrônica Mallarmagens (RJ); e Demétrius Galvão, da revista Acrobata (PI).

 

À tarde foi a vez de Raymundo Netto, da revista impressa e online Maracajá – suplemento literário mensal do jornal O Povo (CE); André Cananéa, da revista impressa e online Correio das Artes – suplemento literário mensal do jornal A União (PB); e Patrícia Lopes, do jornal impresso Folha de Curió (CE).

 

A mediação de todas as mesas ficou à cargo do editor, poeta, escritor e ensaísta Carlos Emílio Corrêa Lima (CE). Para ele, a importância do encontro, embora passe pela troca de conhecimentos e pela visibilidade dessas publicações, vai além disso. “Todas as pessoas que estão aqui instaladas e conversando durante esses três dias são profissionais responsáveis pela manutenção da memória da literatura brasileira”, resume.

 

Nesse sentido de memória e história, ele ressalta um critério da curadoria do encontro: “neste ano, o objetivo foi trazer revistas e jornais que tenham edições impressas, exclusivamente ou em paralelo com a edição eletrônica. Porque o virtual, embora muito interessante em termos de velocidade, poder de divulgação e rapidez, quando não se paga o provedor, o site acaba, deixa de existir, não há mais como acessar. Esse é o perigo”, aponta, enfaticamente.

 

“Vou dar um exemplo: o Cronópios, que foi o maior site de literatura do Brasil, não existe mais. Um milhão e 600 mil páginas deletadas, como a biblioteca de Alexandria. O editor morreu, a família não quis manter o site. Então o critério do impresso é uma preocupação conceitual e sobrevivencial. Com o futuro, com a memória dessas coisas”, explica Carlos Emílio.

 

Em uma comparação com o mercado fonográfico, seria como a grande dependência que se tem dos serviços de streaming atualmente, com milhões de pessoas abrindo mão de seus acervos físicos. “Cristiano Câmara, um dos maiores especialistas em música popular brasileira e amigo querido, costumava dizer que da passagem do disco de cera para o LP, 30% do que existia se perdeu, foi destruído. E da passagem do vinil para o CD e deste para os MP3 e streaming, aconteceu a mesma coisa. A humanidade vai perdendo seus registros”, esclarece.

 

Para contribuir com o movimento reverso, o Encontro de Periódicos Literários Impressos e Eletrônicos investe em reunir nomes de peso do cenário das publicações literárias impressas. “Temos aqui a única publicação impressa de São Paulo atualmente, a Intempestiva. Temos a única revista impressa de todo o estado da Bahia, a Organismo. Temos o suplemento literário mais antigo do Brasil, olhe bem, totalmente literário, o Correio das Artes, de João Pessoa, que tem 70 anos e é mensal. Vem encartado no jornal estatal A União. Temos o mais antigo suplemento literário do sudeste do País, o Suplemento Literário de Minas Gerais”, enumera Carlos Emílio. 

 

Presente na mesa da tarde, André Cananéa, editor do Correio das Artes, falou das dificuldades e desafios de manter um suplemento literário impresso no Brasil hoje, sobretudo em meio ao cenário de crise dos grandes jornais do País, com redações cada vez mais enxutas, público minguante de leitores e precarização do trabalho.

 

“Engraçado que, nesse mundo tão digital, é o físico que muitas vezes chama atenção, por isso o sucesso da volta do vinil. O processo com o suporte físico é diferente, não envolve tanta dispersão. Vivemos em um mundo onde se briga constantemente pela atenção do indivíduo. Essa é nossa briga no impresso, como fazer para o Correio continuar relevante”, observou Cananéa. Mudanças editoriais e na logística de distribuição

 

Também presente na mesa da tarde, Patrícia Lopes, da Folha do Curió, ressaltou a importância da representatividade, de um bairro se ver presente e representado em uma publicação, e não pelo viés da violência que assola as periferias das cidades. “Não somos mais o bairro da chacina (em 2015, o Curió foi cenário de uma chacina, com o assassinato de 11 pessoas pela Polícia Militar), mas o bairro da biblioteca”, comparou, citando a Biblioteca Comunitária Livro Livre Curió. 

 

“Um dos momentos mais emocionantes para mim foi quando alguém disse ‘Olha como o Curió é chique, tem até jornal’. O mesmo podemos dizer sobre a Bienal, olha como o Curió está chique, presente aqui. São espaços que temos que criar, precisamos criar coisas. Porque com a Folha do Curió e a biblioteca estamos conversando com e escrevendo sobre pessoas que ninguém escuta”, reforçou Talles Azigon, idealizador da Livro Livre Curió.

 

Como diz o editorial da sexta edição da Folha do Curió: “Esse jornal celebra tudo o que somos. Leiamos”.

 

Sobre a Bienal

 

A XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará é apresentada pelo Ministério da Cidadania e pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará. Realizada pelo Instituto Dragão do Mar, Governo do Estado do Ceará, por meio da Secult, e Governo Federal, a Bienal do Livro conta com os patrocínios de Bradesco, Cagece, Grendene e Cegás, e com os apoios de Fecomércio, Sebrae, Universidade de Fortaleza (Unifor), UNILAB, TV Ceará, Sistema Verdes Mares, Grupo O Povo, Café Santa Clara, RPS Eventos, Câmara Cearense do Livro, Sindilivros-CE, Câmara Brasileira do Livro (CBL), Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL), Associação Nacional de Livrarias (ANL), Prefeitura de Fortaleza e das Secretarias de Educação (Seduc), Turismo (Setur), Cidades (SCidades) e Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Estado do Ceará (Secitece).

 

XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará

De 16 a 25 de agosto, de 9h às 22h

Centro de Eventos do Ceará

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bienaldolivro.cultura.ce.gov.br