Público lotou o Cine-teatro São Luiz e se emocionou na segunda noite de programação especial de reinauguração

23 de dezembro de 2014 - 21:25

Uma segunda noite para o reencontro com um dos patrimônios mais queridos do Ceará, fechado há quatro anos. Um dia depois de ter sido reaberto ao público, o Cine-Teatro São Luiz voltou a ser ocupado nessa terça-feira (23) com uma programação que incluiu a reapresentação da Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho e a exibição do documentário de Joe Pimentel sobre o Cine São Luiz e do filme Anastácia, de do ucraniano Anatole Litvak, a mesma película apresentada ao público na noite de inauguração da sala de cinema, há 56 anos.

O Cine-teatro São Luiz ficou lotado para a segunda noite de programação especial de reinauguração do equipamento, um dos mais simbólicos e importantes do Ceará e um dos mais belos cinemas de rua de todo o Brasil. Os 1.100 lugares do cine-teatro foram ocupados nesta terça-feira, 23/12, por um público que se emocionou com a oportunidade de reencontrar o São Luiz, com direito a uma apresentação especial da Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho e à exibição de um vídeo-documentário produzido especialmente pelo cineasta cearense Joe Pimentel para contar a história do São Luiz. Fechando a noite, o filme “Anastácia”, o mesmo que foi projetado na noite de inauguração do cinema, em 26 de março de 1958, foi mais uma vez aplaudido pelos cearenses.

A sessão desta terça-feira foi especialmente preparada pela Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, diante da intensa demanda do público na última segunda-feira, 22. Como resultado, mais de 1.100 pessoas puderam apreciar de perto os detalhes da arquitetura e da decoração do São Luiz, que retornou à cena após obras de restauro e reforma que foram realizadas durante um ano, contando com investimento de R$ 15 milhões, pelo Governo do Estado, através da Secult.

Nesta terça-feira, a Orquestra de Câmara Eleazar de Carvalho esteve ainda mais próxima do público, apresentando-se no hall de entrada do São Luiz, cenário de encher os olhos, entre as paredes e escadarias em mármore e os lustres de cristal checo. A Orcec apresentou mais peças em seu repertório. Além de executar mais uma vez composições do cearense Alberto Nepomuceno, como “Batuque” e um dos movimentos da “Suíte Antiga”, a orquestra apresentou também uma suíte do inglês Gustav Holst e Verano Porteño, do argentino Astor Piazzolla. O maestro Arthur Barbosa, regente da Orcec, tornou a apresentar a composição “Toada e desafio”, de sua autoria, incluindo passagens por diversos ritmos, com destaque para o baião.

Em um dos momentos de maior encantamento, o maestro convidou duas espectadoras a reger a orquestra por alguns instantes. O resultado foram muitos aplausos do público e intensa emoção de dona Edir Holanda, que destacou a alegria em segurar a batuta e marcar o ritmo para os 22 instrumentistas da Eleazar de Carvalho. “Esta apresentação é nosso presente de Natal para vocês”, destacou Arthur Barbosa.

Foi então a vez de a beleza da sala principal do São Luiz ganhou destaque, com o público se acomodando para assistir ao vídeo especialmente preparado pelo cineasta Joe Pimentel para marcar a reinauguração do São Luiz. O documentário incluiu depoimentos de pessoas que vivenciaram o cinema ao longo de várias décadas, como Seu Vavá, que testemunhou a construção do são Luiz, e o nacionalmente consagrado cantor, compositor e arquiteto Fausto Nilo.

As cores e os diálogos de “Anastácia – A Princesa Esquecida” tomaram a tela, encerrando a programação da segunda noite de reinauguração do São Luiz. Com as plateias superior e inferior completamente tomadas, o público pôde conferir o resultado dos novos equipamentos de projeção e sonorização do cine-teatro, combinando referências clássicas à modernidade do novo espaço, também reformando seguindo as normas de acessibilidade, com conforto e segurança para o público, que mais uma vez se emocionou, com o novo São Luiz.

De volta ao cinema

Foram apenas nove meses de trabalho no Cine São Luiz, em 1960, que marcaram para sempre Maria Stela Rodrigues Barros, hoje com 75 anos e aposentada do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O pouco tempo exigiu trabalho intenso de dez horas por dia e a experimentação de diversos ofícios. “Fui bilheteira, telefonista, cicerone para acompanhar os visitantes, vagalume e porteira”, diz, orgulhosa, diante do equipamento reinaugurado nessa segunda-feira (22).

Por problema de doença, Stela precisou se afastar do trabalho, mas não deixou de frequentar a imponente sala de cinema e, como muitos outros cearenses, comemora a reabertura do equipamento fechado há quatro anos. “É um glamour para mim estar viva para ver a reabertura. É estupendo, espetacular. É como se eu estivesse renovando, voltando àquele passado”, observa, saudosa, mas também com uma alegria incomum de viver o tempo presente.

Sentimento semelhante tem o radialista Almino Menezes, ao relembrar a noite de inauguração, em 26 de março de 1958. “Foi uma noite inesquecível, exuberante, sensacional. Marcou a minha juventude”, relembra ele, que tinha apenas 17 anos, mas precisou usar paletó e gravata para entrar na mais charmosa sala de cinema da cidade. Pela memória afetiva que tem com o equipamento, Almino fez questão de ver o cinema nos seus primeiros dias em nova fase, agora como um cine-teatro.

Como a juventude não se mede pela idade, Maria Celeste Barbosa é uma jovem senhora aos 96 anos que se empolga com a vida e não deixou de ter a mesma reação ao saber, pela filha Salete, que o cinema iria ser reinaugurado. Celeste era uma satisfação só na fila para entrar no equipamento nessa terça-feira. O retorno ao São Luiz era uma forma de reviver um tempo em que ela ia ao cinema com o marido, falecido há 18 anos.