Após restauro completo e exposição inédita em Pacoti, Bode Ioiô volta triunfante para o Museu do Ceará
14 de março de 2024 - 18:39 #Anexo Bode Ioio #Museu do Ceará #Museus
Texto: Antonio Laudenir | Fotos: Jeny Sousa
Com o processo de restauração, um dos mais queridos personagens da cultura popular do estado tem sua história preservada para as próximas gerações. Nesta sexta-feira (15), acontece cerimônia de abertura do Anexo Bode Ioiô.
Ícone da cultura e personagem cravado no bem querer dos cearenses, o Bode Ioiô testemunha outro capítulo de sua trajetória centenária. Considerada uma das atrações mais populares do Museu do Ceará, equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará) que integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais do Ceará (Rece), a peça ganhou um completo trabalho de restauração.
Para garantir a perenidade desta memória, o trabalho foi realizado pelo Museu de História Natural do Ceará Prof. Dias da Rocha (MHNCE), da Universidade Estadual do Ceará (Uece). Localizado na cidade de Pacoti (102 km de Fortaleza), a instituição reúne laboratório e equipamentos específicos para execução deste processo.
Sob coordenação do curador da Coleção de Aves do MHNCE, Dr. Marco Crozariol, o restauro foi realizado pelo taxidermista Emerson Boaventura, referência nacional da área. Este verdadeiro “banho de loja” trouxe melhorias como higienização, esterilização, retoque na coloração de pelagem e inclusão de chifres, orelhas e um novo rabo.
Com Ioiô tinindo de joiado, uma equipe do Museu do Ceará pegou a estrada rumo a Pacoti na última terça-feira (12). Com o traslado, o famoso caprino retornou em grande estilo para casa e será presença ilustre na abertura do Anexo Bode Ioiô do Museu do Ceará, que acontece nesta sexta-feira (15), às 15h. Ioiô também será destaque em outras ações que serão articuladas ao longo dos meses pela instituição museológica mais antiga do estado.
Restauro do Bode Ioiô
“Foi um trabalho muito importante para mim. Em especial, porque eu já conhecia a história desse bode. A história que tanto corresponde ao fator cultural aqui do Ceará”, contextualiza o taxidermista Emerson Boaventura. Em vídeo de divulgação produzido pelo MHNCE, o profissional detalhou que a restauração somou 15 dias de atividade e aconteceu ao longo de três etapas.“Na primeira fase, por meio de uma câmara química, foi feita a desinfecção para neutralizar qualquer ocorrência de microrganismos. Em seguida, realizamos barreira química para refixação do couro do bode, acompanhada de limpeza da estrutura externa que compõe a pelagem”, situa.Na última etapa foi momento de inserir adereços naturais como orelhas, cauda e reinstalação de unhas. O trato também atendeu a região facial com a recomposição de narinas, lábio e área ocular como pálpebras. “Foi resgatada a pigmentação da coloração que representa o Ioiô, revitalização de olhos e narina. Fizemos uma barreira de encapsulamento para proteger os pelos da ação de fuligens e intempéries”, resumiu Emerson Boaventura.
A parceria com o Museu do Ceará rendeu frutos. Paralelamente ao restauro foi oferecido aos voluntários do MHNCE um curso de taxidermia artística, no qual a equipe aprendeu técnicas e puderam confeccionar 14 peças, dentre aves, répteis e mamíferos. Estes trabalhos produzidos em sala serão expostos na comemoração dos cinco anos do MHNCE, que acontece em agosto deste ano.
Encontro inédito na Serra
Historiador e assistente técnico do Museu do Ceará, Weber Porfírio, detalha que o Bode Ioiô é um animal taxidermizado há mais de 90 anos e está presente no acervo do Museu desde 1935. “Sua restauração é de grande importância, pois retrata um dos mais importantes personagens folclóricos, símbolo da irreverência cearense”, completa.
Este carinho da população confirmou-se a partir de um celebrado encontro em Pacoti. Após o restauro, a ação desenvolvida com o Museu do Ceará contribuiu para uma inédita exposição do Bode Ioiô no Campus do MHNCE. Pela primeira vez em sua história, o querido personagem é exibido fora da capital cearense.
Segundo dados do MHNCE, os três dias de mostra (de 1 a 3 de março) contemplaram mais de 700 pessoas, reunindo visitantes de mais de 20 cidades. Bióloga e curadora da Coleção de Entomologia do MHNCE, Sheila Fernandes explica que a “tour” de Ioiô foi um privilégio, pois demarca o primeiro encontro da população com a peça restaurada.
“Agendamos várias escolas, conseguimos o público dos turistas que sobem a Serra no final de semana. Foi bem produtivo, as pessoas estavam emocionadas e felizes de ter o Bode em Pacoti. Crianças chamavam os pais. Teve até uma família que veio de Eusébio (região Metropolitana de Fortaleza) só para ver o Ioiô”, situa a entrevistada.
Bode Ioiô volta para casa
O restauro do Bode Ioiô integra as iniciativas do projeto “Pensar Museus no Ceará”, da Associação de Amigos do Museu do Ceará, aprovado no Edital de Programação Cultural do Museu do Ceará. O projeto também inclui diversas atividades como debate, exibição de documentários e a “Formação em Museus”, que percorre seis municípios cearenses por meio do Sistema Estadual de Museus (SEM/CE).
Na última terça-feira (12), a equipe do Museu do Ceará realizou o transporte do Bode Ioiô. Um dos mais queridos personagens da cultura cearense será apresentado ao público durante ações organizadas pelo Museu ao longo dos próximos meses. A memória deste personagem segue preservada.
Agora, restaurado, a peça retorna à reserva técnica da instituição. A volta do bode à sua casa chega em momento oportuno. Nesta sexta-feira (15), às 15h, acontece a cerimônia de abertura do Anexo Bode Ioiô (que abriga a reserva). O destemido e aventureiro Ioiô será exibido na ocasião.
A expectativa é de que o ícone continue contando essa história do estado por muitas gerações. “Esse processo é dado para sustentar a preservação do Ioiô por pelo menos mais um século. Se for bem acondicionado e protegido a partir dessa fase de total revitalização e restauração, como manda os currículos da museologia na preservação expositiva, certamente, ele vai precisar de algum retoque daqui a 100 anos. Infelizmente, não serei eu a pessoa a fazer esse trabalho”, conclui o taxidermista Emerson Boaventura.