Rodger Rogério celebra 80 anos de vida e este presente aos cearenses acontece no palco do Cineteatro São Luiz

27 de janeiro de 2024 - 15:40 # # #

Texto: Antônio Laudenir, Secult Ceará

Cantor, compositor, físico, ator, radialista, poeta, professor… Muitas são as facetas de um mestre em plena atividade, cuja generosidade traz ao palco deste domingo (28) um show que passeia por clássicos da carreira e canções nunca gravadas ou apresentadas ao vivo

Ícone em noite de celebração com a plateia

Neste domingo (28), o palco do Cineteatro São Luiz, equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), será território de um verdadeiro presente aos cearenses. Às 18h, na data de aniversário, Rodger Rogério celebra 80 anos de vida com o público.

A comemoração reúne destaques da cena musical do Ceará e amigos de longa data, como o compositor Fausto Nilo. A família também marca presença nas interpretações dos sucessos. Participam o irmão Rogério Franco, os filhos Pedro Rogério, Daniela Rogério, Flávia Rogério, Rami Rogério, Mayra Rogério, Tainá Rogério e as netas Julia Fiore e Lucy Rogério. Emoções à vista.

Um repertório especial comemora os anos de caminhada artística, esta responsável por cravar o nome deste cearense pelos quatro cantos do mundo. São clássicos com “Ponta do lápis” (parceria com Clodo Ferreira, que segue no repertório dos shows de Ney Matogrosso), “O barco de cristal” (com Clodo e Fausto Nilo), “Quando você me pergunta” (com Antônio José Lima e Silva), “Retrato marrom” (com Fausto Nilo), “Falando da vida” e “Curtametragem” (ambas parcerias com Dedé Evangelista).

Todas as faixas são de Rodger Rogério e parceiros, com exceção de “Uma canção a mais” (de Rogério Franco e Dalwton Moura). Outro destaque da noite serão as canções mais raras de seu cancioneiro, como “Flutua Terra” (música e letra de Rodger), “Fox-lore” (de Rodger e Dedé), “Palavras no chão” (inédita de Rodger e Fausto), “Preguiça” (de Rodger e Ricardo Bezerra, registrada no álbum de Rodger e Vitoriano) e “Saudade, sangue e medo”, também inédita.

A semana do aniversariante foi de encontros com as amizades e muito ensaio. Produção caprichada para este momento de alegria em coletividade. Conversamos com Rodger Rogério sobre a estrada até aqui. Além de música, o mestre discorreu sobre os trabalhos no cinema, projetos em andamento, o cearense e sua cultura, e o trabalho com novas gerações. Teve até momento de uma reflexão com as graças da Física.

Em chão sagrado

Cerca de 48 horas antes da celebração no palco do Cineteatro São Luiz, Rodger Rogério abre as portas de casa. Na companhia do chapéu estimado, o sorriso é farto e anuncia a generosidade. O violão tem seu canto na sala, paciente entre jarros de planta. Uma parede da sala reúne momentos da vida.

São retratos, pinturas, recortes e homenagens. Estão ali as amizades, o cantar pelos palcos, o ator por detrás das câmeras. Traz um copo d’água enquanto o visitante detalha as intenções daquela tarde de sexta-feira. A semana foi de ensaios e de últimos ajustes para o esperado aniversário de 80 anos. “A ficha ainda não caiu”, sorri.

Vitoriano e Rodger Foto: Jacques Antunes

É o presente tão fértil de Rodger Rogério quem inicia o bate-papo. Parceria com o cantor e compositor Vitoriano, o álbum “Instante Zero ou O Primeiro Sinal Luminoso” acaba de ganhar o mundo. Elogios não faltam ao amigo pela criação dos timbres, temas e universos musicais. Cada faixa foi meticulosamente pensada neste feliz encontro fonográfico disponível nas plataformas de streaming.

“Acredito na humanidade, eu acho que a gente vem melhorando, apesar dos pesares. Se você olhar bem pra trás, verá que tem diferença para melhor. Percebo entre gerações, pois já convivi com várias. Pessoal dos 40 anos, turma de 30 e tal, que são ótimos e bons artistas. Pessoal muito talentoso. O que tem de instrumentista talentoso é impressionante. E compositores maravilhosos. Às vezes, passo o dia ouvindo só cearenses. Com a internet é fácil. É só procurar um pouco. Ouço muita gente mais nova do que eu. A maioria”, se diverte.

Ser cearense

Filho do aviador Pedro Rogério Aguiar e da professora Maria José Franco, Rodger Rogério cresceu entre os bairros São Gerardo, Porangabuçu, Centro e Jardim América. Ouvia no rádio Orlando Silva, Dalva de Oliveira, Cauby Peixoto, Luiz Gonzaga, Jackson Do Pandeiro, Marinês, Ary Lobo. Sons de marchinhas e sambas, sem falar da bossa nova já na adolescência.

Pelos 12 iniciou os acordes no violão. Jogou bola, tocou baixo em banda. Mas, a órbita girava em torno dos estudos nos cálculos e números. Graduou-se em Física pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Continuou os estudos na Universidade de São Paulo (USP) e fez Mestrado na Universidade de Brasília (UnB).

Em meio aos estudos, também constituiu família e tornou-se um dos precursores da geração conhecida como “Pessoal do Ceará”. Com Téti e Ednardo criou o cultuado disco “Meu Corpo, Minha Embalagem, Todo Gasto na Viagem” (1973). Dois anos depois dividiu com Téti a autoria do disco “Chão Sagrado” (1975). Outro petardo musical.

Sotaques, cores e reflexões sobre o Ceará

A faixa-título, parceria de Rodger e Belchior (1946-2017), embala a entrevista. Situa a conversa quando o tema é o jeito de ser cearense. O artista reflete sobre o sotaque, o modo meio desconfiado de nossa gente. Enaltece o berço cultural do Cariri, a Serra da Ibiapaba, a resistência da palmeira carnaúba.

O Ceará das artes plásticas, literatura, música popular e erudita. “Cearense tem uma forma de falar, de entender as coisas. Um jeito de descobrir como as coisas estão acontecendo e tal. Eu acho, tem um certo quê de cearense mesmo nisso. Como noutros cantos, mas.. Aqui é interessante, existe essa cultura da vaia que persiste. Não sei se a coisa é boa, mas é uma cultura já centenária de vaiar as coisas que não gosta. A famosa ‘Vaia ao Sol’ na Praça do Ferreira, enumera.

Luz, Câmera, Rodger

Das muitas expressões e formas de refletir o mundo pela arte, a atuação é outra trajetória luminosa do cearense. Após aposentar-se da lida acadêmica como professor de Física na UFC, Rodger Rogério ingressou no Curso de Artes Dramáticas (CAD) da universidade. Com os estudos na arte teatral, a timidez começava a ficar mais em segundo plano. Além disso, apareceram trabalhos em outra paixão, a sétima arte.

A estreia como ator nas telonas ocorreu em 1992, no curta-metragem “O Preso”, de Karim Aïnouz. As diferenças entre palco e cinema são apreciadas pelo artista. “É muito diferente, interessante. Tem uma coisa semelhante que é você estar se mostrando, fazendo a coisa que faz. No show você tem a plateia, para onde olhar. No cinema não tem isso, é como se tudo fosse parede. Tem um lugar onde fica a câmera e você sabe que é proibido olhar. Você trabalha ali, a sua atuação é ali, naquele ambiente. É cheio de gente ao redor e você tem que fazer como se não tivesse ninguém”.

A emoção de se ver pela primeira vez na tela de um cinema aconteceu no Cineteatro São Luiz, justamente o lugar onde, neste domingo (28), comemora 80 anos. “Poxa, foi no cinema da minha adolescência. Foi quando eu vi o filme do Rosemberg Cariry, ‘A Saga do Guerreiro Alumioso’. Nele, faço o prefeito da cidade. Quando me vi na tela do São Luiz eu chorei, passei o filme todo chorando e não consegui ver o filme, vi quase nada. Quando começava a melhorar, o personagem aparecia de novo e eu voltava a chorar”, conta.

Da alegria e paixão de fazer cinema

Daquele trabalho, responsável por uma alegria única, outros projetos começaram a enfileirar pelo caminho. De memória conta mais de 30 produções cinematográficas, entre curtas, médias e longas-metragens. Ficção científica, drama, suspense, comédia, policial, experimental, documentário… Diferentes gêneros audiovisuais imortalizam Rodger Rogério no território da sétima artes.

Dos papéis trabalhados, atuou em filmes como “Corisco & Dadá” (1996); aqui novamente com Rosemberg Cariry; “Águas de Romanza” (2002), “Capistrano no Quilo” (2006), “Homens com Cheiro de Flor” (2011), “Área Q” (2011), o multipremiado “Pacarrete” (2019) e o fenômeno “Bacurau” (2019).

Um dos trabalhos para o cinema de Roger Rogério será reexibido em janeiro. A partir do dia 25, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, equipamento da Secult Ceará, gerido com o Instituto Dragão do Mar, exibe a 10ª edição da “Mostra Retroexpectativa”. Uma ótima oportunidade para assistir o curta ‘Pode Me Chamar De Nadí’, de Déo Cardoso. A obra foi restaurada em 35 mm. Imperdível.

O causador do efeito

O show deste domingo também crava a chegada de disco com músicas de Rogério Franco e Alan Mendonça. Trata-se de registro único, pois será o primeiro trabalho como intérprete. Um material de inéditas está nos trilhos e reunirá temas de sua autoria e colaborações. Do repertório, três faixas criadas juntamente com o amigo Belchior.

Outro projeto futuro é a gravação de canções do filho, o pesquisador e professor do Curso de Música da Universidade Federal do Ceará (UFC), Pedro Rogério. Os 80 anos de Rodgér Rogério chegam como um presente à cultura dos cearenses. O Cineteatro São Luiz é o palco desta festa.

“Quero ficar tocando, cantando e, se possível, atuando a vida toda. Não parar. Gosto de fazer, faço procurando me esmerar, tentando melhorar, fazendo sempre o melhor. É isso. Fazer essas músicas”, compartilha.

E Rodger Rogério conclui a entrevista detalhando que a física também prossegue no cotiano do mestre. “Ainda leio. Procuro me manter atualizado com as fronteiras… Tem uma experiência onde tudo indica que o efeito veio antes. O efeito aconteceu antes do causador do efeito. Rapaz, uma loucura!”.

Serviço:

Rodger Rogério – 80 anos
Data: 28 de janeiro de 2024 (domingo) | Horário: 18h | Classificação indicativa: Livre | Duração: 70min
Entrada: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia)
Local: Cineteatro São Luiz – R. Major Facundo, 500, Centro
Horário de funcionamento da bilheteria: Terça a Sexta – 9h30 às 18h / Sábado – 9h30 às 17h. Horários sujeitos a alterações, de acordo com a programação. Telefone para contato: (85) 3252.4138
Venda online: https://bileto.sympla.com.br/event/89834