Secult Ceará realiza diplomação dos novos Tesouros Vivos da Cultura do Ceará

16 de dezembro de 2022 - 11:21 #

Foto: Thiago Nozi

A solenidade vai consolidar a ampliação de 80 para 100 do número de Mestres e Mestras da Cultura. Com a presença da governadora, Izolda Cela, e do secretário da Cultura, Fabiano Piúba, serão diplomados os novos Tesouros Vivos da Cultura, sendo 25 pessoas naturais, dois grupos e uma coletividade; cerimônia será realizada no Centro Cultural Cariri, equipamento da Rede Pública de Equipamentos Culturais do Ceará

A Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará) vai diplomar, na próxima segunda-feira (19), os novos Mestres e Mestras da Cultura do Ceará, selecionados por meio do XII Edital dos “Tesouros Vivos da Cultura” do Estado do Ceará. São ao todo 25 pessoas naturais, dois grupos e uma coletividade que receberão a titulação, com o objetivo de preservar a memória cultural e garantir a transmissão de seus saberes e fazeres artísticos e culturais. O evento será a partir das 16h, no Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, espaço que integra a Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secult Ceará, com gestão em parceria com o Instituto Mirante. A solenidade vai contar com a presença do secretário da Cultura do Ceará, Fabiano Piúba, e da governadora, Izolda Cela, além da apresentação cultural. A solenidade vai consolidar a ampliação de 80 para 100 do número de Mestres e Mestras da Cultura. 

Os Mestres e Mestras da Cultura são reconhecidos como difusores de tradições, da história e da identidade, atuando no repasse de seus saberes e experiências às novas gerações. Selecionados pela Coordenadoria de Patrimônio Cultural e Memória da Secult Ceará, após apresentação de propostas pela sociedade civil, os Mestres e Mestras passam a contar com reconhecimento institucional e recebem um subsídio no valor de um salário mínimo mensal, como auxílio para a manutenção de suas atividades e para a transmissão de seus saberes e fazeres.

O programa Mestres da Cultura se tornou um referencial do Ceará para o Brasil, recebendo, à época de sua criação, prêmio do Ministério da Cultura pela qualidade e pelos efeitos da iniciativa. 

Ampliação dos Mestres e Mestras da Cultura do Ceará

A solenidade vai consolidar a ampliação de 80 para 100 do número de Mestres e Mestras da Cultura, através de lei sancionada pela governadora Izolda Cela em uma solenidade realizada no dia 14 de junho de 2022, na Vila da Música Monsenhor Ágio Augusto Moreira, equipamento da Rece, gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar, na cidade do Crato. Essa ação contribui para o reconhecimento, a proteção e a valorização da diversidade dos conhecimentos, fazeres e expressões das culturas populares e tradicionais no Ceará. 

O Registro dos Mestres da Cultura Tradicional Popular do Estado do Ceará foi instituído, no âmbito da Administração Pública Estadual, em 2003, durante a gestão da então secretária da Cultura, Cláudia Leitão, do governo Lúcio Alcântara. Em 2017, o então governador Camilo Santana ampliou de 60 para 80 o número de Tesouros Vivos do Ceará, alcançando uma meta do Plano Estadual da Cultura.

Serviço

Solenidade de diplomação dos novos  Mestres e Mestras da Cultura do Ceará

Quando: segunda feira, dia 19 de dezembro

Horário: Apresentação cultural às 16h e cerimônia de diplomação às 17h

Onde: Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, Av. Joaquim Pinheiro Bezerra de Menezes, 1, bairro Gisélia Pinheiro, Crato-CE.

Confira a lista completa dos novos Mestres e Mestras da Cultura do Ceará

PESSOA NATURAL

1º Pajé Barbosa Pitaguary

Raimundo Carlos da Silva
Cultura Indígena | Pacatuba

Nascido na Pacatuba (onde hoje é território Pitaguary) em 1967, Pajé Barbosa é um dos seis filhos do casal Antônio Carlos da Silva e Maria Carlos da Silva. Nunca morou em outro município, tendo sua família morando na serra da Monguba e do Pitaguary, local onde ele viveu até recentemente. Desde pequeno estava muito ligado afetivamente às suas duas avós, Joana e Bela, as quais ele atribui a sua iniciação na arte de cura. Enquanto que sua avó Bela era raizeira, a avó Joana era parteira, curandeira e raizeira. Segundo Barbosa, “foi com elas que aprendi a cultura”. Durante sua infância, Pajé Barbosa convivia com uma rede de amigos e parentes de seus pais que recorrentemente se reuniam para conversar, contar histórias, cantar músicas etc. Nesses círculos de interação tinham personagens como o tio Zé Catingueira, tia Amélia, tia Augusta, tia Maria Evaristo, avó Joana, avó Bela, seu pai, sua mãe, entre outros. Podemos destacar que a convivência de Barbosa com esses parentes faz ele atribuir um sentido ao lugar onde estão habitando, ou seja, estrutura-se assim uma narrativa simbólica e afetiva em torno daquele território. São os seus antepassados que moraram ali, são as tradições da sua família (e de um povo) que foram construídas sob aquele espaço.

2º Zilda Torres

Zilda Maria Torres Guerreiro
Teatro de Bonecos | Itapipoca

Zilda Torres é atriz-bonequeira desde 1980, além de ser produtora, facilitadora de oficina, artista, artesã e pedagoga. No seu currículo constam diversas atividades desenvolvidas, como diretora da Cia. Boca Rica e autora de vários espetáculos. Vale destacar que a mestra recebeu o prêmio de melhor interpretação e manipulação no Festival internacional de Teatro de Torun, na Polônia, em 2001. No início de sua carreira, a bonequeira se destacou pelo Ceará organizando e executando o Festão da Criança, um projeto cultural que desenvolvia artes plásticas, teatro de bonecos, atividades recreativas e circenses, atuando, por vezes, como palhaça nesses eventos. Nesse mesmo período, desenvolveu atividades de docente, dando cursos de teatro de bonecos e terapia com bonecos, participou de seminários de Mamulengueiros, além de criar e executar o projeto “Teatro de Bonecos para cegos”, popularizando esse fazer e levando inclusão para pessoas com deficiência visual. Atualmente, a bonequeira continua seu trabalho com o Teatro de Bonecos e por onde passa leva alegria e entretenimento para todas as faixas etárias de públicos, garantindo a continuidade desta tradição e repassando seus conhecimentos adquiridos ao longo desses mais de 40 anos através de ações formativas.

3º Pádua de Queiroz

Antônio de Pádua Borges de Queiróz
Literatura de Cordel | Baturité

Pádua de Queiroz é poeta, cordelista, cantor, compositor, ilustrador e comunicador de rádio. Nasceu em Baturité – CE, no ano de 1971. O poeta iniciou sua trajetória no Cordel em 1986, sob influência de seu Mentor Eunifran Xavier e pelo professor de educação artística, o poeta Ilton Lopes. A partir daí, Pádua toma gosto pela literatura sobre as coisas do sertão e dedica-se à música nordestina e à literatura de cordel. Desde criança exercita sua vocação poética, mas só começou a publicar seus folhetos em 1986. Após ter acesso a um vasto material sobre o cangaço, foi despertado o interesse em mostrar um Lampião verdadeiro e bem diferente do que é mostrado por cordelistas, o que culminou com a publicação de seu primeiro Cordel, o clássico “Quem acendeu Lampião?”, obra que traz um estudo sócio-político do Nordeste brasileiro na época do cangaço. O autor possui vasta produção no campo de Literatura de Cordel, área que mais cultiva e que mais ama. Em 1990 juntamente com o poeta proletário Iton Lopes, inicia o projeto O CORDEL NA ESCOLA, que utiliza a poesia popular na sala de aula como ferramenta de resgate da memória histórica cultural nordestina.

4º Lourdes do Coco

Maria de Lourdes Ferreira Alves
Dança do Coco, Maneiro-pau | Solonópole

Nascida em 21955, Lourdes Coco, desde sua infância, juntamente com seus irmãos, presenciava e acompanhava seus pais nas representações tradicionais, sendo mais características as danças do Maneiro-Pau, Dança do Coco, Caretas, Marruá Velho e os Cânticos dos Benditos do mês de Maria no livrinho antigo da avó. Lourdes tira à risca a celebração das 31 noites de novenas, seguindo a mesma tradição da mãe nos tempos de Padre Cícero, inclusive com cânticos em Latim no modus sertanejo. Tais manifestações seguem vivas até hoje na lembrança, memória e na vida de Lourdes Coco e de seus filhos e netos. Atualmente é casada e teve 8 filhos, sobrevivendo 6, além de 10 netos da prole. Desde cedo as crianças seguem a tradição cultural da avó. Nos primeiros passos da criança, dona Lourdes Coco já inicia seus netos nas Danças do Coco e Maneiro-pau, passando a dança de geração em geração na comunidade e apresentando-se em praças e espaços públicos de toda a região como maneira de garantir que esses bens culturais de natureza imaterial sejam difundidos e continuados.

5º Josenir Lacerda

Josenir Alves de Lacerda
Literatura de Cordel | Crato

Josenir Lacerda nasceu em Crato-CE, em 1953. Artesã e poetisa desde menina, sempre ouvia dos seus pais e avós as histórias contadas na meninice e cresceu com a facilidade e o dom de poetizar. Admiradora da obra literária do grande poeta da Serra de Santana, Antônio Gonçalves da Silva, Patativa do Assaré, é titular da cadeira Nº 03 e co-fundadora da Academia dos Cordelistas do Crato-ACC, onde possui um acervo prolífico de cordéis conhecidos nacionalmente. Também faz parte da Academia Brasileira de Literatura de Cordel-ABLC, com sede no Rio de Janeiro, ocupando a cadeira de No. 37 e é membro do Instituto Cultural do Cariri – ICC. A diversidade sempre presente nas suas obras mostra a facilidade de criar e um modo especial de ver as coisas. Certa vez, a propósito de um convite para ministrar aula de escrita poética em ambiente escolar, Josenir explicou que não se sentia habilitada para exercer essa função; diferente do rigor da análise da métrica dos versos característico da poesia acadêmica, comentou que suas obras nascem da harmonia entre intuição, sentimento e “ouvido”, lição que recebera muitos anos atrás do próprio Patativa, quando este observara que ela possuía um ouvido apurado para a nossa poesia popular.

6º Mestra Carla Mara

Carla Mara Henrique Silva
Capoeira | Fortaleza

Mestra Carla é mulher capoeirista há 38 anos, liderança umbandista e educadora pertencente à Associação Zumbi Capoeira, localizada no bairro do Grande Bom Jardim, em Fortaleza. Iniciou na capoeira nos anos 80, no clube Tiradentes, sendo uma das poucas mulheres praticantes entre os grupos de capoeira em Fortaleza. A capoeira é uma manifestação cultural afro brasileira, expressão de matriz africana e movimento de resistência contra a escravidão dos povos negros, reconhecida como patrimônio imaterial cultural no Brasil. Se constitui historicamente como uma manifestação predominantemente masculina. Nessa trajetória, a mestra Carla se inseriu, rompeu paradigmas e estereótipos, contribuindo para o fortalecimento da gênese da capoeira como uma manifestação de resistência e luta contra as opressões. Ao longo dos anos, Mestra Carla se tornou uma referência feminina na capoeira, não apenas no estado do Ceará, mas também no Brasil e no mundo. Enquanto mulher capoeirista e coordenadora dos coletivos feminino e LGBTQIA+, Mestra Carla atua a partir da periferia de Fortaleza, no Grande Bom Jardim, um dos mais populosos e de baixo índice de desenvolvimento humano.

7º Mestre Cícero

Cícero Ribeiro de Menezes
Banda Cabaçal | Missão Velha

Filho de José Ribeiro de Menezes e de Natália Maria de Menezes, Mestre Cícero nasceu no em 1967, no município de Missão Velha. Aprendeu a tocar na banda de pífano com seu pai, aos 8 anos de idade. Com a morte de seu pai, ficou responsável pelo repasse dos seus saberes e há 40 anos comanda a Banda Cabaçal São José de Missão Velha – CE, que possui 189 anos de existência na família, sendo fundada oficialmente em 1934 e composta por músicos da família e outros moradores do município de Missão Velha, atuando em festejos religiosos, eventos culturais na região do Cariri e outros estados.Mestre Cícero é reconhecido pelo seu vasto conhecimento do repertório das bandas cabaçais e por ser um exímio pifeiro, além de ser construtor de instrumentos à moda antiga. Sem utilizar ferramentas modernas, ele constrói belíssimas zabumbas com troncos de árvores e é um exímio dançarino e profundo conhecedor das artes das bandas cabaçais, que não se limita apenas à música, mas é de fato um espetáculo de dança, teatro, música e artesania.

8º Ana da Rabeca

Ana Soares de Sá Oliveira
Rabequeira | Umari

Nascida em 1947, na cidade de Umari, Ana da Rabeca é rabequeira e toca o instrumento de ouvido desde os 15 anos de idade. Mulher discreta, sem maquiagem e com cabelos brancos que ressaltam a passagem do tempo, a rabequeira aprendeu a tocar Rabeca com seu pai, utilizando o instrumento que era dele. O apego a esse instrumento repassado por seu pai é tanto, que a mestra ainda participa de apresentações o utilizando. A rabequeira se apresenta em escolas, festas religiosas, em praças e terreiros de toda região. Esteve presente em vários eventos sertão a fora e na capital, participando de lives, recebendo estudantes, pesquisadores e a comunidade como todo em sua casa. E é na sua casa que funciona a Escola de Música Ana da Rabeca, fundada em 2019, onde a mestra transmite seu saber e ensina crianças e adolescentes a tradição da rabeca. Vale destacar que Ana é a única mulher rabequeira cearense encontrada em uma pesquisa de mais de 15 anos pelos historiadores Gilmar de Carvalho e Francisco Sousa.

9º Augusto Bonequeiro

Augusto César Barreto de Oliveira
Teatro de Bonecos | Fortaleza

Augusto Bonequeiro nasceu na cidade de Escada, interior de Pernambuco. É das lembranças de quando criança ia à feira com o pai e apreciava encantado os mamulengos girando no ar, em histórias de forró e confusão com o herói Benedito, que registra despertar seu interesse pela “brincadeira de boneco”. Toma um curso na vida que o distancia dessa arte, mas o reencontro que seria definitivo acontece quando Augusto, já adulto, ator em Recife, faz o curso de extensão em arte-educação, pela Escola de Belas Artes. Cursando a disciplina sobre as possibilidades da utilização de bonecos para fins pedagógicos, se reencontra com a grande paixão de sua infância e não largou mais. Pelo prazer de manipular os bonecos, desistiu até do teatro comum: “continuo ator, mas um ator diferente, um ator que não aparece e que fica sempre em segundo plano em função dos bonecos”. Avesso ao universo acadêmico, crendo que a universidade real é a vida, foi trabalhar como professor de artes em escolas e como ator, para só depois tornar-se bonequeiro. Movido enfim pela sedução que o mamulengo lhe causava e pelas lembranças das feiras de Escada, passou a experimentar sozinho com os bonecos diversas técnicas, como um curioso autodidata.

10º Klévisson Viana

Antônio Clévisson Viana Lima
Literatura de Cordel, desenho e gravura | Fortaleza

Klévisson Viana nasceu em Quixeramobim, em 1972. É poeta, cordelista, declamador, compositor, cartunista, xilogravador e tesoureiro da ABC-Academia Brasileira de Cordel. É também membro da ABLC – Academia Brasileira de Literatura de Cordel (RJ), ocupando a cadeira cujo patrono é o poeta popular José Pacheco da Rocha. É também fundador e atual presidente da AESTROFE – Associação de Escritores, Trovadores e Folheteiros do Estado do Ceará. O poeta iniciou suas atividades ainda na infância em Canindé (CE) no ano de 1988 e há 34 anos desenvolve trabalhos de promoção da arte, da Literatura de Cordel e da cultura popular cearense, nordestina e brasileira, editando trabalhos seus e de mais de 100 autores novos e antigos, sendo, na atualidade, o único editor profissional do gênero no Estado do Ceará. O mestre é autor de cerca de 50 livros, milhares de desenhos, xilogravuras e mais de duzentos folhetos de literatura de cordel.

11º Francorli

Francisco Correia Lima
Xilogravura | Juazeiro do Norte

Francorli – alcunha dada por Pedro Bandeira – é natural de Juazeiro do Norte e nascido em 1957. Iniciou na xilogravura em 1970, aos 13 anos de idade, quando começou a trabalhar na tipografia São Francisco – atual Lira Nordestina – e lá vendo Mestre Noza, Valderedo e Stênio Diniz fazendo xilogravura, se encantou pela técnica e começou a cortar capa de cordéis, rótulos de bebidas, sempre usando uma faca feita de serra de cortar ferro. Mestre Francorli, conforme informa, decidiu por um tempo parar sua carreira no ano de 1980, desiludido com o mercado. Não tinha planos de voltar às atividades artísticas, quando decidiu se dedicar ao trabalho com produtos eletrônicos, o que assegurava a subsistência da família. Contudo, sua paixão pela gravura falou mais alto e, no ano de 1990, o xilógrafo retornou a fazer sua arte e de lá pra cá não parou mais, voltando a expor seus trabalhos no MAUC, em Fortaleza. Com forte expressão regional, sua obra exemplifica o cotidiano do sertanejo, a fauna, a flora e a religiosidade popular. As cenas abordam o trabalho e a contradição do sol, como castigo e como fonte de vida em solo árido.

12º Mestre Lula

Luiz Carlos Silva
Capoeira | Fortaleza

Mestre Lula nasceu em Fortaleza, em 1960, na Avenida Da Universidade e há 45 anos vem desenvolvendo seu trabalho nas periferias da cidade. Filho de Senhor Valério e Dona Francisca, Lula era um garoto muito proativo. Na escola onde estudou quando adolescente fazia parte da seleção de futebol e, voltando para casa em uma madrugada, conheceu seu mestre Everaldo. e os dois se tornaram grandes amigos. Neste tempo, Mestre Lula estudava no Colégio Júlia Jorge e pediu ao diretor que Everaldo começasse a dar aulas de capoeira lá. Contudo, não foi de imediato que Lula começou a treinar capoeira, ele passou um breve período acompanhando as aulas. O seu percurso oficial na capoeira teve início em 1977, junto ao Grupo Favela de Capoeira, fundado por Mestre Everaldo Ema. Tempos depois, Everaldo mudaria o local de treino, fundando um novo grupo, o Grupo Zumbi de Capoeira, em 1980. Mestre Lula hoje é uma figura de destaque na capoeira, mantendo todas as tradições aprendidas com seu Mestre Everaldo e faz parte da 2º Geração de Mestres do Ceará, além de compor o Conselho de Mestres de Capoeira do Estado do Ceará. Verdadeiro militante por melhorias da capoeira, atualmente o mestre tem sua sede junto ao Bairro do Bom Jardim, em Fortaleza, e mantém um compromisso social em levar cultura, lazer e entretenimento para a comunidade através dos seus projetos sociais.

13º Pai Neto Tranca Rua

Miguel Ferreira Neto
Umbanda | Fortaleza

Miguel Ferreira Neto, mais conhecido por Pai Neto Tranca Rua, é um tronco velho da tradição tambor de mina de caboclo, uma manifestação religiosa dentro do universo das religiões de matrizes africanas, identificada como uma vertente da Umbanda. Nascido em Maranguape, em 1959, Pai Neto é referência e liderança importante na Umbanda, com atuação local, estadual e nacional. Criado nos princípios religiosos de raízes afro-indígenas, domina as artes, os ofícios e as cosmologias da Umbanda. Compreende-se a Umbanda enquanto patrimônio cosmológico, epistemológico, estético, terapêutico, social e político que se origina e detém continuidade enraizada e em interlocução com as civilizações e os povos indígenas, africanos, afrodescendentes e europeus. Nesse sentido, ele resguarda, preserva e repassa para seus filhos e filhas de santos os saberes, as artes, os ofícios e a cosmologia dessa religião de tradição de matriz afro-brasileira.

14º Mestre Wlisses

Wlisses Ferreira Lima
Mestre de Capoeira | Fortaleza

Wlisses Ferreira Lima, conhecido como Mestre Wlisses ou Mestre Ferreirinha, iniciou sua trajetória no universo capoeirista em 1979, após ser convidado por dois amigos a participar de treinos de capoeira no colégio. Pouco tempo depois, começa a frequentar os treinos no Centro Social Urbano César Cals, local que considera o mais importante no seu processo de formação e desenvolvimento na capoeira. Em 1984, recebe o título de professor de capoeira, a corda amarela, e, em 1987, recebe de mestre Everaldo o compromisso de assumir a direção do Grupo Zumbi de Capoeira (GZC). Após extenso trabalho de consolidar sua figura como representante local do GZC, Mestre Wlisses recebe a corda roxa, título que representa a condição de contramestre. Mestre Wlisses continua à frente do grupo Zumbi e, diante dos seus relevantes serviços prestados à população cearense, recebeu honrarias por parte do poder público e de instituições privadas que se destacam no setor cultural.

15º Mestre Galdino

Luiz Galdino de Oliveira
Mateiro | Crato

Mestre Galdino, detentor de saberes e guardião da mata, herdou de seus familiares e outros mestres e mestras do Cariri a missão de transmitir para as futuras gerações as vivências e experiências da natureza e toda a riqueza originária da fauna e flora da Chapada do Araripe. Ainda na infância, provou dos “lambedores”, xarope natural produzido por seus familiares a partir da manipulação de ervas, plantas, raízes e sementes extraídas da floresta. Os seus primeiros referenciais foram os seus pais: a sua mãe, a Mestre Raimunda Galdino, que além de ser parteira, manipulava ervas e plantas medicinais e produzia pigmentos naturais, extraídos de rochas da chapada; e o seu pai, o Mestre “Ilzo do Saco ”, que tinha grande conhecimento da floresta e de seus frutos, especialmente do pequi. Outra influência importante foi a sua tia, a Mestra Teresa Barbosa, que produzia alimentos e medicamentos a partir de sementes, frutos e ervas da Flona Araripe. É evidente que a influência familiar foi decisiva para encaminhar e encantar o jovem mestre em seu fazer.

16º Mestra Fanca

Francisca Mendes Marcelino
Contadora de história e Bordadeira | Juazeiro do Norte

Dona Fanca tem 72 anos e é contadora de histórias. A Mestra se utiliza da arte de customizar panôs para eternizar as histórias e as memórias das pessoas, famílias e as manifestações religiosas da região do Cariri cearense. São panôs únicos, que foram criados por ela e também a recriaram como uma Mestra Griô, reconhecida pela política pública Ação Griô Nacional – Mestre dos Saberes do Programa Nacional de Cultura, Educação e Cidadania – Cultura Viva do Ministério da Cultura – MinC, no ano de 2009. Ao assumir essa postura de narradora, quando narra a experiência, seja própria ou relatada, tornou-se difusora e representante das nossas tradições culturais. Atualmente, a Mestra Griô dedica seu tempo ao repasse de seus conhecimentos e busca despertar o interesse das gerações mais jovens através da realização de oficinas e palestras para crianças e adolescentes, em seu ateliê em Juazeiro do Norte, garantindo a continuidade da prática da contação de histórias e da construção dos panôs.

17º Mestre Dodô

Francisco Joventino Da Silva
Reisado | Juazeiro do Norte

Mestre Dodô nasceu em ambiente de brincantes e mestres e teve sua primeira brincadeira no Reisado aos três anos de idade, no Sítio Gonçalo, propriedade de sua família no Município do Crato. Aos sete anos de idade, trajou-se pela primeira vez e desde esse dia, considera que pisou oficialmente no terreiro e nunca mais parou. Segundo o mestre, na sua infância todo mundo queria brincar. Mas era muita gente e não cabia, porque naquela época quem era brincante só saía do grupo por motivo de doença ou morte. Desde o início, seu tio e padrinho Mestre Matias, além de ser o seu mentor, foi o maior incentivador para aprendizado da tradição. Assim, o brincante se traja pela primeira vez aos sete anos em 1957 e nos anos seguintes passa a ocupar diferentes lugares no figural do Reisado. Tem memórias com Mestre Pedro, Mestre Zé Rufino, Mestre Bigode dentre outros nomes da cultura local do século passado, com quem brincou e teve aprendizados.

18º Edson Brandão

Edson Pinto Brandão
Circo | Russas

Edson Brandão é neto de Artur Brandão, artista circense que em 1916 ganhou as cidades cearenses com um pano de roda. Os descendentes da sua numerosa família saíram espalhando circos pelo país e hoje a família Brandão é uma das principais famílias circenses do Brasil, totalizando, em média, 50 a 60 familiares que possuem circo. Falar de Edson Brandão é mergulhar na história de resistência da cena do circo cearense, tem serragem nas veias e não abandona a barriga da lona aos 74 anos. Nascido no circo, Edson foi levado para morar com a avó em Fortaleza aos cinco anos. Nessa época, menino de circo não estudava porque chegava e os colégios não aceitavam, fato que levou os avós a decidir que o garoto saísse da vida circense e passasse a frequentar uma escola. Contudo, mesmo com essa decisão dos avós, o jovem Edson não conseguiu se afastar do picadeiro e, nos finais de semana, seguia para acompanhar o trabalho do pai Oséias e da mãe Dalva no Circo, administrado pelo avô.

19º Raimundo Claudino

Raimundo Claudino Amaral
Cultura Junina | Tabuleiro do Norte

20º Mestre Chico Ceará

Francisco Gilberto da Silva
Capoeira | Barbalha

21º Mestre Nena

Francisco Gomes Novaes
Bacarmarteiro e Mateu de Reisado | Juazeiro do Norte

Mestre Nena nasceu em 1951, no Sítio Malhada, município do Crato, e conta com uma atuação de mais de 50 anos na cultura popular, sendo especificamente 16 anos envolvido diretamente na arte e manutenção das atividades do grupo Bacamarteiros da Paz. O pequeno Francisco Gomes, ainda aos 12 anos, começou a brincar no reisado de congo do Mestre Moisés Ricardo. Ainda jovem, visitou terreiros como o de Mestre Aldenir e se quedou na Folia de Reis, onde, com 18 anos, criou seu próprio reisado, no Sítio Altos, junto com os amigos Chicô e Decir. Já em Juazeiro, brincou com Mestra Margarida, Mestre Bigode, Luís, Mestre Sebastião e com o Carroça de Mamulengos na sede da União dos Artistas da Terra da Mãe de Deus, mestras, mestras e grupos que contribuíram com a sua entronização e permanência nas tradições populares do Cariri.

22º Maria Izabel

Maria Izabel dos Santos
Rezadeira e Mezinheira | Juazeiro do Norte

23º Dadá Leitão

Francisca Maria Elói Leitão
Artesanato Bordado a Mão | Quixeramobim

Dadá Leitão é filha de Francisco de Assis Leitão e Maria Nilce Elói Leitão. Natural de Quixeramobim, a mestra é bordadeira desde os seis anos de idade, quando sua mãe lhe ensinou os primeiros pontos. De lá até os dias atuais, Dadá não deixou mais esse ofício, fazendo bordados há mais de 50 anos. Desde 1993 a Mestra faz parte do ateliê Mãos de Fadas – grupo fundado em 1977 com o objetivo de motivar a produção artesanal – onde ensina a arte do bordado para outras pessoas, principalmente as de baixa renda, para que a partir da produção de bordados possam ter uma nova fonte de renda. Seu grupo está atualmente unificado sob sua liderança e fazem valer o título de “celeiro do richelieu”, dado ao município onde vivem. Com uma produção eminentemente manual, 120 mulheres dispensam as máquinas e cultivam diariamente a tradição herdada de seus antepassados, cujos traços estão nos desenhos e aplicações do fino bordado que caracteriza a região.

24º Círio Brasil

Círio dos Santos Brasil
Circo de lona Tradicional | Fortaleza

Círio Brasil vem da tradicional família Brasil, que possui entre seus integrantes um relicário de memórias que são indissociáveis da arquitetura histórica das comunidades circenses cearenses. Tendo como pai o Mestre Pimenta, o primeiro Tesouro Vivo da linguagem circense, Círio Brasil, há mais de 40 anos, dá continuidade à história, à prática e à memória do circo de lona, tanto por meio de apresentações, formações e participação nos conselhos municipal e estadual de política cultural, como em sua gestão como presidente da Associação dos Proprietários, Artistas e Escolas de Circo do Ceará. A Família Brasil vive do universo circense, onde mora e trabalha. Reconhecer e dialogar com os saberes ancestrais circenses e as formas de existir dos circenses de lona apresenta grande potencialidade no desenvolvimento de ações nas mais diversas linguagens, ampliando os diálogos com relação ao papel do circo dentro das comunidades que percorrem.

25º Mestre Vamirez

Vamirez Argemiro Gonçalves
Santeiro | Senador Pompeu

GRUPOS

1º Reisado de Caretas de Potengi

O Reisado de Caretas do Sítio Sassaré, em Potengi, foi fundado por volta da década de 1930, tendo como um dos fundadores o senhor Benedito de Souza, avô do Mestre da Cultura Antônio Luiz de Souza, Tesouro Vivo da Cultura do Estado do Ceará. Benedito de Souza foi mestre desse Reisado de Caretas, na época denominado Reis de Careta, onde o Rei usava uma careta com uma espécie de coroa na máscara. O Reisado sempre festejava o Dia de Reis no terreiro às margens da lagoa do Sassaré. Contudo, ao irem falecendo os membros do Reisado, houve um período de inatividade, vindo a ser reativado pelo Mestre Antônio Luiz no ano de 1975 e, desde lá, o Reisado nunca mais parou suas atividades. O grupo conta com seis agricultores do Sítio Sassaré, além dos músicos e os personagens. Ao todo, são 12 personagens. O velho e a velha são o pai e a mãe dos Caretas e o boi é a atração principal. As figuras de entremeios são os personagens do Reisado que entram em cena no meio do espetáculo, tais como: o boi, a ema, o cavalo, o carneiro, a burrinha, o velho e a velha, o jaraguá ou babau, o urubu ou urubaco e o jegue.

2º Coco de Praia do Iguape

O grupo Coco de Praia do Iguape com Mestre Chico Casueira desenvolve a tradição do Coco de Praia, uma manifestação popular afro-indígena, herança dos seus antepassados. Nesta manifestação, negros, índios e nativos da comunidade de Iguape se manifestavam nos festejos e comemorações locais. O grupo aparece no contexto histórico por volta de 1817, no litoral do Nordeste. Por sua vez, o Coco de Praia do Iguape possui registros datados de 1875, contudo, oficialmente este grupo de Coco mantém viva há 33 anos essa memória ancestral na Comunidade do Iguape em Aquiraz. Ao passar do tempo, com o falecimento dos mais velhos, principalmente seu Mestre Paulino Elias de Oliveira, a Dança do Coco de Praia adormece no Iguape por mais de 30 anos. Seu renascimento se deu em 1989, quando Klevia do Iguape passou a articular os pescadores coquistas, voltando a se reunir para brincar Coco e logo se organizaram em grupo, passando a se apresentar artisticamente com apoio da Secretaria de Cultura do Município de Aquiraz em 1995.

COLETIVIDADES

1º Associação Cultural Maracatu Vozes da África

A Associação Cultural Maracatu Vozes da África, mantenedora do Maracatu Vozes da África, foi fundada em 20 de novembro de 1980 por iniciativa de um grupo de intelectuais, escritores, poetas, folcloristas e carnavalescos liderados pelo jornalista Paulo Tadeu Sampaio de Oliveira durante as comemorações da Semana Nacional da Consciência Negra. O Maracatu inicialmente se denominava “Maracatu Vozes d’África”, em homenagem ao livro homônimo do poeta Castro Alves, mas, ainda na década de 1980, teve seu nome alterado para o atual. A primeira apresentação pública da agremiação aconteceu no Desfile Oficial do Carnaval de Rua de Fortaleza, em 1981, quando sagrou-se campeã, tendo sido o primeiro título de muitos em sua trajetória. Em 2022, após 42 anos em atividade ininterrupta, o Maracatu Vozes da África contabiliza mais de 1500 apresentações públicas, sempre pautadas em enaltecer a história do povo afrobrasileiro e cearense em seus aspectos social, econômico, histórico e cultural. Atualmente, diversas ações são promovidas permanentemente visando garantir a continuidade do fazer cultural do grupo e do Maracatu cearense.