Com narrativas plurais, mesa de curadores abordou a ancestralidade indígena e o jornalismo que revela o Brasil

16 de novembro de 2022 - 16:41 #

A primeira mesa foi com a jornalista Fernanda da Escóssia, que falou sobre o seu livro “Invisíveis”, seguida pela mesa com Cristino Wapichana e Auritha Tabajara, com mediação do curador Daniel Munduruku. Foto: Chico Gadelha

“Contar histórias, pra quê?”, perguntou o curador Daniel Munduruku na mesa “O mundo e suas voltas”, na noite desta segunda-feira (14), na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará, uma realização da Secretaria da Cultura do Ceará e do Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura. Pois a noite de conversas nas Mesas de Curadoria mostrou que as histórias devem, precisam ser levadas ao mundo, seja para eternizar saberes ancestrais, seja para tirar anônimos do esquecimento. ⁠

A primeira mesa teve mediação da jornalista Isabel Costa, que recebeu como convidada a jornalista e escritora Fernanda da Escóssia. A jornalista falou sobre o seu livro Invisíveis que trata histórias de pessoas sem registro civil. A segunda mesa foi mediada por Daniel Munduruku que recebeu os escritores indígenas Cristino Wapichana e Auritha Tabajara.

De acordo com Cristino Wapichana, a história tem a função de encantar. “Todo povo cria as suas histórias não apenas para educar, mas também para contar histórias que sejam tão extraordinárias que outro povo, ao ouvir, possa temer, se admirar. Elas começam a mexer dentro da gente. Somos cheios, hospedeiros de história, que tem uma função de alegrar, ensinar, curar, trazer para os lugares”, enfatiza.

Daniel Munduruku comentou que o ato de contar história é eminentemente humano, como forma de dar sentido ao estar no mundo. “Na natureza o ser humano é o único ser incompleto. Ele precisa inventar mundos para dar sentido à existência deles. A gente nunca pergunta a uma onça o que ela vai ser quando crescer, porque ela já sabe tudo. A onça está em conjunção com a natureza. O ser humano perdeu a conexão e para reencontrar essa reconexão ele tem que inventar histórias”, afirmou, destacando que não existem culturas melhores que outras, por serem sempre tentativas de responder às nossas angústias existenciais.

Jornalismo que revela o Brasil

Na mesa “O jornalismo que revela o Brasil”, mediada por Isabel Costa, Fernanda da Escóssia falou sobre o processo de elaboração do seu livro “Invisíveis”. Durante uma reportagem, ao checar os dados do registro civil levantados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) em 2002, ela verificou que 20% das crianças não eram registradas no ano em que nasciam ou nos primeiros três meses do ano seguinte. “Eu descobri que não era uma questão das crianças, mas que passava de geração em geração, porque os pais e avós não tinham documentos”, conta. Já cursando o doutorado, ela decidiu levar esse assunto adiante, pesquisando sobre os brasileiros que não têm documentos.

Conforme ela, a ausência de documentos retira dessas pessoas o acesso aos direitos básicos. “É justo que quem já teve um direito negado, perca também outros direitos? É justo que, porque você não tem documento, também não tenha vacina, atendimento médico, escola?”, questiona, ressaltando que a punição vem antes do direito, já que ao cometer um crime a pessoa é localizada pelo Estado. Ela destaca que o jornalismo tem a função de revelar o Brasil, de contar as histórias das pessoas com fome, sem documentos e que estão em situação de vulnerabilidade.

Em sua 14ª edição, a Bienal Internacional do Livro do Ceará acontece de 11 a 20 de novembro de 2022 no Centro de Eventos do Ceará. Apresentada pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura e do Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura (IDM), o evento acontece em parceria com a Secretaria de Educação do Ceará (Seduc), Secretaria de Turismo do Ceará (Setur), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece), Programa Mais Infância, Universidade Estadual do Ceará, Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Ceará, a Câmara Cearense de Livro e o Sindilivros CE. O apoio é da RPS Eventos, Sesc Senac, Banco do Nordeste Cultural, Universidade de Fortaleza, Unilab, Universitária FM, TV Ceará, Jornal O Povo/Vida e Arte, Fundação Demócrito Rocha, Pixels Educação Tecnológica, Instituto Juventude Inovação, Secretaria Municipal de Educação e Prefeitura de Fortaleza.

Para saber mais da programação da Bienal Internacional do Livro Ceará, basta acessar AQUI (programação sujeita a alterações).

XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará

De 11 a 20 de novembro, de 9 horas às 22 horas

Centro de Eventos do Ceará

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bienaldolivro.cultura.ce.gov.br