Agentes de Leitura do Ceará concluíram semana de formação, nesta sexta-feira, 22/10

22 de outubro de 2021 - 21:53 # # # #

 

Agentes de Leitura na Biblioteca Pública do Estado do Ceará (BECE). Foto: Felipe Abud/Secult CE

 

Os dias nunca são iguais. Com alguns livros na bolsa, batendo de porta em porta, meninos e meninas levam literatura e poesia revestidos de esperança até as casas muitas vezes distantes de nós. Compartilham sorrisos e lembranças. Contam histórias e vivem histórias. Nesse encontro de se envolver, abraçam famílias, que, por sua vez, se permitem e vislumbram outros mundos possíveis. Ali dentro da leitura, do livro, há um jeito de voar fora da asa, como Manoel de Barros um dia escreveu.

O Programa Agentes de Leitura do Ceará foi criado em 2006, no âmbito da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará) e atualmente é uma referência nacional na política do livro, leitura e literatura. A partir dele, jovens são formados para levar até famílias de baixa renda o universo da literatura. A ação é comunitária, solidária, de afeto e de ternura, que permite encontros através da leitura. A abordagem proposta é cultural e subjetiva da leitura. Em outras palavras, o programa tem por objetivo promover a democratização do acesso ao livro e aos meios da leitura como ação cultural estratégica de inclusão social, desenvolvimento humano e cidadania, com ênfase na formação de leitores, incentivando o aprimoramento da interpretação de textos, e a fruição da leitura literária no âmbito familiar.

Nesta sexta-feira, 22/10, 28 jovens – novos agentes de leitura, bolsistas e selecionados por meio de edital – concluíram uma semana intensa de programação voltada para a formação enquanto mediadores de leitura. Foram aulas, vivências de leitura, participando também de oficinas e de visitas à Rede de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará), incluindo a Biblioteca Pública Estadual do Ceará (BECE), o Museu da Cultura Cearense, o Museu de Arte Contemporânea do Ceará, a escola Porto Iracema das Artes e o centro cultural Porto Dragão.

Em breve, os agente de leitura estarão atendendo 140 famílias em Fortaleza nos bairros Bom Jardim, Praia de Iracema (Comunidade Poço da Draga), Cais do Porto (Comunidade Castelo Encantado/Vicente Pinzón/Mucuripe), Pan Americano, Curió (Comunidade Curió, São Miguel e Palmeirinha), na grande Messejana.

A programação 

Desenvolvido pela equipe da Coordenadoria de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secult Ceará, junto à equipe dos agentes de leitura formadores-tutores, também selecionados por edital, para cooperação e monitoramento do programa, o programa de formação dos Agentes de Leitura do Ceará 2021, que teve início na segunda-feira, 18/10, foi de troca intensa de experiências.

“Foi uma semana muito intensa e esse era o nosso objetivo. Pensamos em um momento de imersão considerando o perfil dos agentes de leitura mediadores. Tivemos uma seleção muito surpreendente porque vários deles estão na universidade, já estão nas militâncias pelo livro e leitura em suas comunidades e atuam voluntariamente e agora estão vindo para o programa. Foi muito bom porque agora temos um grupo de 28 mediadores que está se encontrando pela primeira vez para viver essa experiência” comentou a coordenadora da política de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secult Ceará, Goreth Albuquerque.

 

Goreth Albuquerque, coordenadora da política de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secult Ceará. Foto: Felipe Abud/Secult CE

 

A semana imersiva de 40 horas de atividades teve múltiplas abordagens para os jovens que serão mediadores de leitura. “Conversamos sobre questões macros: de como um programa como este se insere no enfrentamento à pobreza, com a ampliação de uma política cultural que sai das regiões de centralidade mais habitual e vai para outras centralidades contrahegemonicas, que são as periferias, pois é nesse território que vamos atuar, com as famílias que estão inseridas nessa realidade que os agentes vão trabalhar. Saímos desses temas macros para as temáticas do fazer do mediador, para entender por exemplo o que é um livro-imagem, o que é a literatura produzida para infância, mas também como adentro uma casa de uma família numa perspectiva intergeracional, pois posso ter na mesma casa uma criança de 4 anos, um avô e um adolescente. Então, o olhar do mediador deve ser atencioso e pensar o que pode ser levado para que se abram diálogos depois de uma leitura para todo mundo que está ali”, acrescentou Goreth Albuquerque.

“Também agradecemos a todos os equipamentos de cultura que nos acolheram. Foi um encontro tão bom. Todos estavam muito presentes, numa acolhida muito carinhosa. E todos comentaram que se sentiram muito bem recebidos nos equipamentos”, destacou também a gestora.

Mediadores de leitura em formação

Amanda Lima, 24, estudantes de Letras da Universidade Federal do Ceará, é uma das agentes de leitura mediadora, que participou da semana de formação. Ela destaca que não conhecia o Programa Agentes de Leitura e que se sentiu bem recebida. “A gente foi muito bem recebido na BECE e nossa formação girou em torno de várias temáticas, então deu para a gente fazer muito debate legal, deu para aprender muita coisa nova. Os próprios selecionados pelo edital chegaram a criar algumas intervenções que foram bem dinâmicas, então acredito que a gente vai sair com uma riqueza muito grande de aprendizado. Eu me sinto preparada teoricamente para ir para o campo”, comentou.

 

Amanda Lima, agente de leitura. Foto: Felipe Abud/Secult CE

 

Já Wendel Oliveira, 22, cursa direito na Unichristus e é professor de cursinho para alunos que vão prestar vestibular. Conta que sempre foi muito interessado em ação com a comunidade, criando clubes do livro e círculos de leitura. Encontrou no programa uma identificação instantânea. “Soube na última semana de inscrição do edital e fiquei muito encantado com o projeto. Eu pensei logo: isso é minha cara. Mostrei para minha mãe e ela disse: ‘se joga, que é a sua cara’. Estou muito encantado até agora. Acho que é uma coisa muito importante e necessária e combina muito com o que planejo para a minha vida”, pontuou o jovem.

 

Wendel Oliveira, agente de leitura. Foto: Felipe Abud/Secult CE

 

Ele também avaliou como positiva a semana de formação. “Acho que o momento de formação foi em primeiro lugar um momento de desconstrução, sabe? A gente tinha pré-concepções, a gente não conhecia o projeto antes e pensou que a formação ia se dar de uma forma, mas quando a gente chega e debate temas como ‘colonialidade’ e ‘a leitura como ato de liberdade’, a gente vê que são temas tão relevantes que dão cor e nome para as pessoas com as quais vamos trabalhar. Saio com a sensação de que estamos nivelados, de uma certa maneira. Houve muitos momentos de troca e podemos aprender uns com os outros”, finalizou.

Mais sobre os novos agentes de leitura

Os agentes de leitura são jovens de 18 a 29 anos, egressos do ensino médio da escola pública que foram selecionados por meio de edital da Secult Ceará. Em 2021, o edital Bolsa Agentes de Leitura do Ceará 2021 selecionou cinco tipos de agentes: o agente formador-tutor; o agente formador-oficineiro; o agente de leitura mediador; o agente de leitura monitor e o agente de leitura monitor de Cultura Digital. Os Agentes de Leitura Mediadores são moradores dos territórios das famílias beneficiadas, nos bairros Bom Jardim, Praia de Iracema (Comunidade Poço da Draga), Cais do Porto (Comunidade Castelo Encantado/Vicente Pinzón/Mucuripe), Pan Americano, Curió (Comunidade Curió, São Miguel e Palmeirinha), na grande Messejana. Já os demais agentes atuam na formação, tutoria e acompanhamento/monitoramento dos mediadores.

Tutores em ação

Por meio do Programa Agentes de Leitura do Ceará 2021 também foram selecionados tutores para contribuir com a formação de jovens mediadores de leitura. “Penso que o tivemos um momento bem feliz pois os tutores dos agentes de leitura têm um perfil bem diverso. O processo de seleção foi aberto não para áreas que em geral se ligam ao livro e à leitura, como pedagogia e letras, mas abrimos para as áreas de sociologia, história, psicologia, artes… Queríamos áreas afins e pessoas que tenham afinidade com a literatura. Então temos aqui gente da filosofia, do teatro, das letras e da pedagogia”, ressaltou a coordenadora da política de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas da Secult Ceará, Goreth Albuquerque.

Um dos tutores selecionados do Programa Agentes de Leitura neste ano é Lucas Madi, formado em teatro, também ator, inclusive do filme “Cabeça de Nêgo”, de Déo Cardoso, em cartaz no Cineteatro São Luiz. Ele nos conta como foi a experiência com os jovens agentes de leitura que irão mediar leituras para as famílias muito em breve na capital cearense.
“Temos jovens de muitos cantos diferentes, com suas singularidades, apesar de serem todos da periferia. Foi uma semana para a gente compreender, de perspectivas diferentes, no mesmo contexto social de exclusão, para a partir daí pensar a leitura, cultura e a inclusão social. Penso que foi um momento aproximativo e integrativo”, destacou Lucas Madi.

“Os jovens aqui trazem uma proposta de ruptura em suas falas, de se negar a uma perspectiva de inclusão que não existe. Eles vêm muito afiados, de um lugar de falar: ‘não acreditamos mais nessa ficção’. Então eles vieram pronto para dialogar, buscar novos caminhos”, acrescentou o tutor, que continuará até o fim do programa, realizando o acompanhamento dos agentes de leitura mediadores.

Mais sobre o Agentes de Leitura

O Programa Agentes de Leitura está alinhado com o Plano Estadual de Cultura, no que diz respeito às políticas afirmativas, e, no mesmo sentido, com a Lei Estadual Nº. 17.432/2021, deste modo o edital reserva, no mínimo, 20% (vinte por cento) do total de vagas para bolsistas indígenas e negros(as) residentes em Fortaleza. Tem por objetivo ampliar a formação leitora das famílias em situação de extrema pobreza contempladas com o projeto.

Voltado para a promoção e desenvolvimento da Arte e Cultura Cearense, visa ampliar e democratizar a produção e o acesso à arte e à cultura, com base no desenvolvimento da economia dos setores criativos, no fortalecimento da diversidade e da cidadania cultural em todas as regiões do Estado do Ceará. Excepcionalmente, tendo em vista o contexto de pandemia, o programa será desenvolvido somente em Fortaleza, oportunidade para inserir algumas inovações e investigar mais de perto sua validação, como o desenvolvimento e uso de um aplicativo de planejamento e acompanhamento dos jovens mediadores.