Visita dos Tesouros Vivos da cultura ao Horto, em Juazeiro do Norte, marca primeiro dia do IX Encontro Mestres do Mundo

27 de novembro de 2014 - 20:29

No primeiro dia do IX Encontro Mestres do Mundo, sediado este ano na cidade do Crato, a fé e a religiosidade foram destacadas como parte integrante da cultura cearense. Em um momento de comoção, os Tesouros Vivos da cultura visitaram a colina do Horto, onde fica a estátua de Padre Cícero, em Juazeiro do Norte. A abertura do encontro, realizado pela Secretaria da Cultura do Estado Ceará (Secult), em parceria com a Prefeitura do Crato, marcou o início da programação do evento, que segue até sábado, 29/11, trazendo apresentações culturais, debates com os mestres, terreiradas, rodas de saberes, além de cortejos com os grandes representantes da cultura tradicional popular, de todas a regiões do Ceará.

Atividade inédita no encontro, a subida à colina do Horto fez sucesso entre os 35 mestres da cultura que estão reunidos no Crato para participarem do IX Encontro Mestres do Mundo. Logo em que chegaram ao ponto histórico da cidade de Juazeiro do Norte, os Tesouros Vivos pararam para fazer uma foto em frente à estatua de 27 metros de altura do Padre Cícero. Numa visita guiada, os mestres aproveitaram para registrar seus nomes na base do monumento e para tocar e cantar a música “O benedito do Padim Ciço”, em homenagem ao religioso cearense. Eles também passaram pela capela e pelo museu que ficam no Horto.

O coordenador de patrimônio histórico, artístico e cultural da Secult, Otávio Menezes, destaca que a visita “foi uma oportunidade de muitos mestres conhecerem o patrimônio cultural do Estado, uma vez que temos mestres de vários municípios cearenses e não só da região do Cariri”. Ainda segundo ele, a ideia de abrir a nona edição do Encontro Mestres do Mundo com a visita ao Horto foi uma iniciativa debatida pela comissão organizadora do evento.”O objetivo foi ressaltar a religiosidade como parte integrante do patrimônio imaterial da cultura local”, explica.

Lembrança do Padim

Muitos mestres levaram lembranças da visita ao Horto. Seja em fotos, em terços, em fitas, ou em pequenas conversas com o Padim na capela ao lado da estátua, o que importava era guardar um pouco do momento especial. A mestre da cultura Maria do Horto, 72, leva consigo a alegria de voltar ao local que revelou seu próprio nome artístico enquanto Tesouro Vivo da cultura. Devota de Padre Cícero, ela conta que frenquenta o Horto desde os 15 anos. “Foi uma amiga minha que me levou pela primeira vez, depois eu continuei vindo”, explica. A sua fé está representada nas suas composições. Nas letras, ela retrata os romeiros com propriedade.

A primeira vez no museu

Apesar de já ter ido várias vezes à famosa estátua de Juazeiro, o mestre Raimundo, integrante da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto, fez nesta quinta feira sua primeira visita ao Museu do Padre Cícero e ficou encantado. “Aqui é uma maravilha, aqui é o mesmo que a gente tar no céu. É bonito, bem trabalhado. Padim Ciço deixou uma obra pra nunca mais se acabar nesse nosso Brasil”, destacou.

Com 80 anos de idade, seu Raimundo começou a tocar com apenas cinco e, atualmente, lidera a banda dos irmãos Aniceto. Com seu pife nas mãos e muita agilidade na dança, dá um verdadeiro show de vitalidade e faz questão de ressaltar: “Acho que vou viver mais 80, sabe?”.

Sendo o primeiro mestre reconhecido como Tesouro Vivo da Cultura na cidade de Crato, seu Raimundo participa do Encontro Mestres do Mundo desde a primeira edição. Segundo ele, a vocação para a música vem do pai, que foi construtor do primeiro zabumba do Cariri, feito de cabaças da roça.

Outros momentos do primeiro dia de encontro

Cheio de momentos especiais, o primeiro dia do IX Encontro Mestres do Mundo teve uma programação intensa. Após a visita ao Horto, os mestres retornaram ao Crato para uma tarde de prosa no auditório do Centro de Expansão. A atividade, intitulada “Mesa de Prosa: Mestres – cuidando de si e do outro: saberes, repasse e meio ambiente”, reuniu as pesquisadoras da cultura popular Simone Castro e Lourdes Macena; os tesouros vivos da cultura Mestre Aldenir (CE) e Mestre Bule Bule (BA); a gestora cultural Eliza Gunther; e a secretária da cultura do Crato, Dane de Jade.

À noite, as apresentações culturais tomaram conta do Largo da RFFSA. Na Arena da Tradição houve cantoria de Viola com Zé Cardoso e Jorge Macêdo (CE); Roda de Toré, com os mestres caciques João Venâncio e Luis Cabloco (CE); apresentação da Banda Cabaçal dos Irmãos Aniceto; e show da cearense radicada em São Paulo, Marlui Miranda.

 

Confira a programação do segundo dia de encontro

O segundo dia de encontro, nesta sexta-feira, terá uma programação concentrada no auditório do Centro de Expansão. A parir de 9h, os mestres se encontram para formar a Roda de Mestres. Na atividade, um debate gira em torno de cinco temáticas: corpo, mãos, sons, oralidade e sagrado. Cada uma delas será representada por um convidado. Entre eles estão Simone Castro, profª drª do IFCE, que abordará as tradições orais, e o escritor Oswald Barroso, que mediará a conversa sobre o sagrado.

Já pela tarde, a partir de 14h, os mestres presentes se preparam para sua segunda Mesa de Prosa, cujo tema é “Lei dos Mestres – Novos Desafios”. Entre os facilitadores convidados estão: José Olímpio, filósofo e especialista em educação; Gyl Giffony, prof. do IFCE e mestre em memória social pela Unirio; Márcia Rollemberg, secretária de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura; além de Otávio Menezes, coordenador da Coordenadoria de Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (COPHAC), da Secult. A profª Simone Castro fará a mediação e a gestora cultural Eliza Gunther participará como relatora.

 

Visita ao Mestre Espedito e apresentações pela noite

No fim de tarde, às 17h, os tesouros vivos da cultura irão visitar o mestre Espedito Seleiro, em sua casa-oficina, no município de Nova Olinda. Na visita a um dos mestres mais conhecidos da região e até internacionalmente por sua criação de selas, bolsas, sandálias, carteiras, entre outras peças de couro, os mestres serão convidados para uma “terreirada”.


A segunda noite do Encontro também terá, a partir das 20h, no Largo da RFFSA, apresentações do Pastoril da Mestra Maria do Carmo, do Reisado de Caretas (ambos do Ceará), do Grupo de Fandango de Pontal de Maceió do Mestre Pancho (de Alagoas) e do grupo cearense Cacimba de Aluá, com seu espetáculo de mergulho no universo da cultura tradicional popular, com destaque para a música nordestina.