A cor, a delicadeza e a fortaleza em Estrigas – uma homenagem ao artista plástico

3 de outubro de 2014 - 11:39

O mundo das artes perdeu um tanto de cor e muito de delicadeza e força em traços e em vida. O artista plástico cearense Nilo de Brito Firmeza, o querido Estrigas, nos deixou na noite dessa quinta-feira, 2 de outubro, aos 95 anos.

Depois de se despedir, em abril de 2013, da amada de uma vida inteira e também artista plástica, Nice Firmeza, agora ele também partiu. Como diz o amigo, jornalista e pesquisador da cultura, professor Gilmar de Carvalho, “Estrigas deixa saudades, mas fez a parte dele”. De fato, é um legado imensurável pela sensibilidade que pôs em tudo o que fez, e não só pelo talento, mas também pelo compromisso com as artes e a educação para a cultura.

Mesmo depois de perder a companheira de todas as horas, Estrigas quis se comunicar com ela e com o mundo utilizando a linguagem que lhe era mais própria: a pintura, o desenho, as letras.

A última exposição de Estrigas, ainda em cartaz no Sesc-Senac Iracema, foi aberta no dia 19 de setembro, data do aniversário do artista. A mostra “95 anos Estrigas” reúne 20 aquarelas pintadas nos últimos meses de vida. Na abertura, houve também o lançamento do livro “Hoje e o tempo passado – O encontro com as lembranças”, uma obra que combina reflexões e memórias, produzida entre 2013 e 2014.

Em quase um século de existência, Estrigas foi um homem e artista atuante. Na adolescência, quando já despontava para a pintura, recebeu o apelido de Estiguine, referência a um artista circense que passou por Fortaleza, a cidade onde o menino Nilo nasceu, precisamente na Rua Barão do Rio Branco.

Aos 28 anos, ele concluiu o curso de Odontologia e três anos depois passou a ser chamado de Estrigas, após também fazer o curso de desenho e pintura da referencial Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), instituição que veio a presidir nos anos de 1950. O artista de traço singular se sobressaiu e ao longo da trajetória foi vencedor de diversos salões de arte, realizou dezenas de exposições individuais e coletivas e teve obras no acervo de inúmeros museus de arte e coleções particulares espalhados pelo Brasil.

Estrigas até exerceu a profissão de dentista por alguns anos, mas a relação com a arte era mais pulsante. Em 1940, já começou a formar um acervo, com documentos seus e de outros artistas, que em 1969 passou a compor o Minimuseu Firmeza, no aconchegante sítio no bairro Mondubim, onde foi morar depois que deixou o Centro da cidade, após a morte do pai.

Além de produzir arte, Estrigas se dedicou a educar para a arte. O pequeno museu recebia gratuitamente quem tivesse interesse em entender melhor as artes plásticas cearenses. É espaço de afeto, contemplação e conhecimento, por meio das peças ali reunidas – pinturas, desenhos, esculturas, reproduções, catálogos, livros, recortes de jornais… – e da presença dos artistas, sobretudo os criadores. Além de criar o museu, ele escreveu vários livros, como “Arte – aspectos pré-históricos no Ceará”, “Artes Plásticas no Ceará” e “Salão de Abril – história e personagens” e teve participação em obras literárias de outros autores, escrevendo ou fazendo ilustrações.

Por toda a contribuição que Estrigas deu e continuará dando para as artes pela imortalidade das suas obras, rendemos nossa homenagem a esse grande artista do Ceará e do mundo.

Secretário da Cultura do Estado do Ceará
Paulo Mamede