Centro Cultural Bom Jardim: Seminário Teatro Político e Periferia – Conexões Fortaleza-SP

17 de julho de 2014 - 15:31

A periferia no centro do debate sobre teatro político. O Centro Cultural Bom Jardim, equipamento localizado em uma das principais áreas periféricas de Fortaleza e mantido pela Secretaria da Cultura do Ceará, recebe nesse fim de semana o I Seminário Teatro Político e Periferia – Conexões Fortaleza-São Paulo.
Inscrições gratuitas:
http://noisdeteatro.blogspot.com.br/

A iniciativa é da Associação Artística Nóis de Teatro, que propõe já na abertura do evento, às 19h30min dessa sexta-feira (18), uma reflexão sobre o panorama do teatro político na contemporaneidade, a partir das experiências de grupos teatrais de Fortaleza e de São Paulo. Em uma mesa redonda, o debate será fomentado por representantes de instituições daqui e de lá – Hector Briones, professor do Curso de Teatro da Universidade Federal do Ceará; Nelson Albuquerque, representante do Conselho Municipal de Cultura de Fortaleza; e Luiz Calvvo, ator da Cia Estável de Teatro.

O seminário surge pela necessidade de realizar um momento de reflexão mais profundo sobre teatro e política, abrangendo seus aspectos formais e sensíveis, refletindo sobre poética, estética, ética e criação artística vinculada a um discurso que vai na contramão do sistema imposto”, aponta a Associação Artística Nóis de Teatro.

De sexta-feira a domingo, o Centro Cultural Bom Jardim será palco para discussões de um tema que provoca questionamentos sobre as funções do teatro, uma linguagem que se presta a muito mais do que o mero entretenimento, um ofício criativo que se propõe também ao engajamento, a um papel político e social e à reflexão sobre a realidade e o próprio fazer artístico.

“Existe uma busca, que não é localizada, é em todo o País, de diversos coletivos, para discutir qual o papel do teatro e o papel do Estado como fomentador da cultura. Queremos uma política pública para a arte pública, uma política de Estado, não apenas uma política de governo”, afirma o ator Luiz Calvvo, representante da Cia Estável, grupo de São Paulo que há 13 anos desenvolve um trabalho de pesquisa sobre formas políticas de teatro associado ao movimento por políticas públicas para a cultura.

Além da abordagem de temas instigantes, como “Colonialidade do poder”, pelo cientista político Uribam Xavier, e “Brecht e contemporaneidade”, pela professora do Curso de Teatro do Instituto Federal do Ceará, Fran Teixeira, os participantes do seminário poderão experimentar vivências em “Teatro-documento”, com o ator Murillo Ramos, e sobre o “Teatro do Oprimido”, com a atriz Vanéssia Gomes, e acompanhar painéis de experiências de sete grupos de teatro de Fortaleza e seis de São Paulo. Ao longo do evento, há uma programação cultural a ser prestigiada que inclui performance (foto), filme e quatro espetáculos teatrais.

A parceria com o Centro Cultural Bom Jardim vem como a oportunidade de fortalecer, também, o movimento cultural do Grande Bom Jardim, agregando no seminário a discussão sobre as periferias da cidade e ação estética de uma série de grupos e artistas nos bairros da cidade, além de fortalecer os encontros e debates da Rede de Teatro da Periferia e do Campo”, complementa Altemar Di Monteiro, idealizador do evento e coordenador do Nóis de Teatro.

Com uma programação inteiramente gratuita, o seminário conflui para uma região e um equipamento público estratégicos da periferia de Fortaleza grupos e instituições que propõem novos olhares sobre a produção teatral e a relação com a cidade e o mundo. Para o coordenador do seminário, é de fundamental importância a articulação dos grupos de teatro da capital para ocupação do Centro Cultural Bom Jardim no evento. “A ideia é dar visibilidade aos grupos, ao Centro Cultural e as poéticas políticas trabalhadas por esses coletivos”, diz Altemar Di Monteiro.

Para a superintendente do Centro Cultural Bom Jardim, Diana Pinheiro, o evento é um marco para a cidade, desde a concepção até o que ele pode representar em desdobramentos. “É realizado por um grupo de teatro, que vem construindo sua história na periferia da cidade e que conseguiu se articular com outros grupos locais e nacionais. É um novo olhar que nasce na cidade, o olhar de um outro lugar. O teatro cearense estava precisando disso, de sair da área central rumo à periferia”, conclui Diana.


Nóis de Teatro

Uma trajetória de 12 anos, que começa pelo Grande Bom Jardim e se expande para outros espaços, que se consolidou pela atuação na rua e agora ocupa as salas delimitadas pelas paredes. Nóis de Teatro é mais do que teatro, é um grupo que desenvolve, entre outras atividades, projetos sociais utilizando a educação popular solidária.

Referência de trabalho artístico-cultural empreendido em área de periferia, especificamente o Bom Jardim, em Fortaleza, o grupo tem ampliado as ações para outros municípios, dentro e fora do Ceará, com atividades já realizadas em 16 estados brasileiros e mais de 400 apresentações nos últimos três anos.

A expansão tem sido possível a partir das parcerias com a Fundação Nacional das Artes-Funarte, o Programa BNB de Cultura e as secretarias estaduais de Cultura, em reconhecimento ao trabalho e ao talento do grupo, cuja produção inclui espetáculos como “A granja” (2009), “Sertão.doc” (2010) e “Quase nada” (2014), este a primeira experiência do grupo em espaço fechado.

A montagem, a encenação e a circulação dos espetáculos são realizadas a partir do estudo sobre os movimentos de resistência da periferia e do campo, sob a influência do Teatro do Oprimido e Teatro Épico em diálogo com a linguagem do Teatro de Rua Contemporâneo e sua compreensão sobre ocupação e vivência.


Serviço

I Seminário Teatro Político e Periferia – Conexões Fortaleza-São Paulo
Período:
18, 19 e 20 de julho de 2014 – sexta-feira, sábado e domingo
Local: Centro Cultural Bom Jardim

Sexta-feira – 18
18 horas
Abertura – Espetáculo “A exceção e a regra” – Cia Estável de Teatro – São Paulo
Uma pequena caravana participa de uma corrida em direção à cidade de Urga. A expedição que chegar primeiro ganha como prêmio uma concessão para explorar petróleo. Durante a viagem, são expostos à relação entre explorador e explorado, assim como os mecanismos que legitimam o abuso de um e a submissão do outro.

19h30min
Mesa redonda “Teatro político e contemporaneidade” – Hector Briones (UFC), Nelson Albuquerque (Conselho Municipal de Cultura) e Luiz Calvvo (Cia Estável de Teatro)
Mediação: Altemar Di Monteiro

Hector Briones é professor adjunto do Curso de Teatro-Licenciatura do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará, doutor em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (2007 – 2011) e mestre em Artes Cênicas pela UFBA (2006-2007). Ator e licenciado em Atuação formado pela Pontifícia Universidad Católica de Chile (1994-1998), coordena o projeto de pesquisa “Por uma política do corpo da cena: interfaces alegóricas nas artes da cena”, dentro do Instituto de Cultura e Arte da UFC. Ele coordena também o projeto ‘Trânsitos na Cena Latino-Americana’, reunindo pesquisadores latino-americanos para a realização de seminários, publicações e traduções sobre as poéticas cênicas atuais do nosso continente.

Luiz Calvvo é bacharel em Ciências Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Ator e responsável técnico pela iluminação dos espetáculos da Cia. Estável de Teatro, ele frequentou os cursos livres e oficinas de capacitação do Núcleo de Direção Teatral-2010 da Escola Livre de Teatro de Santo André, sob orientação de Luiz Fernando Marques, a oficina de preparação vocal no Seminário de Dramaturgia do Arena, sob orientação de Chico de Assis, a Oficina de Introdução às Técnicas Circenses – saltos, quedas e rolamentos, ministrada por Nei Gomes, e a Oficina Dramaturgia do Ator no Seminário de Dramaturgia do Arena, sob orientação de Chico de Assis. Nos últimos anos, desenvolveu pesquisa de manipulação de imagens e parceria com os artistas da Cia. Quase Cinema. Tem trabalhado como iluminador de diversos espetáculos no SESC Vila Mariana em São Paulo e junto às companhias MonoCirco, Satélite, Quase Cinema e Estável.

Nelson Albuquerque é gestor público formado pela Universidade de Fortaleza e graduando em Licenciatura em Teatro pela Universidade Federal do Ceará. Formado também pelo Curso de Arte Dramática da UFC (2003), ele tem ainda Licenciatura em Artes Cênicas pela mesma universidade. É conselheiro municipal de Cultura e fundador, diretor e ator do Grupo Pavilhão da Magnólia. É formado também como técnico em iluminação e possui experiência em produção. Atualmente, coordena o Ponto de Cultura Permeio, na Escola de Teatro Renasce uma Cidade, do Instituto Garajal de Arte e Cultura Popular, em Maracanaú-CE.

21 horas
Ato performático “Todo camburão tem um pouco de navio megreiro” – Nóis de Teatro


Sábado – 19
9 às 12 horas
Vivência
“Teatro-documento” – Murillo Ramos
Vivência “Poéticas criativas em teatro político” – Hector Briones

14h30min
Painel de experiências – Conexões Fortaleza-São Paulo
Fortaleza: Expressões Humanas, Teatro de Caretas, Grupo Teruá, Nóis de Teatro, Fernando Leão, Inquieta Cia. e Coletivo Muquifo
São Paulo: Coletivo da Albertina, Companhia Estudo de Cena, Coletivo Menelão de Teatro, Casa da Tia Siré, Trupe do Trapo e Companhia Estável de Teatro

18 horas
Exibição do filme “Memórias de um primeiro de maio” e debate
19h30min
Espetáculo “Sertão.doc” – Nóis de Teatro
Trata das hodiernas questões que envolvem a sociedade campesina brasileira. A dramaturgia do espetáculo foi construída num processo colaborativo, partindo das referências que os atores-pesquisadores vivenciaram nos assentamentos de reforma agrária do Ceará e da opção por um texto fragmentado em quadros cênicos que começam e terminam, podendo ser “lincados” ou não com o quadro seguinte. Trata-se de um documento vivo, um dossiê cênico, uma coleção de documentos que discutem pontos importantes acerca da questão da terra e da reforma agrária, desde o latifúndio e a perseguição política até o agronegócio, a revolução verde e a moderna reflexão sobre agroecologia. São abordados temas como a seca de 1970, a presença autoritária e hierárquica do capitão, a luta pela reforma agrária e o poder capitalista, além da conquista dos assentamentos, utilizando, entre vários elementos, a estética do reisado enquanto efeito cênico.

Domingo – 20
9 às 12 horas
Vivência
“Teatro e militância política” – Cia Estável
Vivência “Teatro do Oprimido” – Vanéssia Gomes

14 horas
Palestra “Colonialidade do poder” – Uribam Xavier (UFC)

14h40min
Palestra “Brecht e contemporaneidade” – Fran Teixeira (IFCE)

15h30min
Debate

17 horas
Espetáculo “Quase Nada” – Nóis de Teatro
Numa grande metrópole, um casal de classe média alta, de madrugada, é abordado por um menino de rua num semáforo. Assustados, o jovem casal atira no menino, que morre em pleno asfalto. Antônio e Sara recebem no seu apartamento uma senhora que julga ter visto o assassinato. Duas questões se colocam de forma antagônica em cena, ampliando a sua percepção para além de um discurso fechado, panfletário. Se, de um lado, o jovem casal assassinou à queima-roupa uma criança de idade não revelada, do outro, a tal senhora aceita propina para não denunciar o caso.

18h30min
Espetáculo “Os Cactos” – Grupo Expressões Humanas
Local: Sede do Nóis de Teatro – Rua Barra Vermelha, 381- Granja Portugal
A peça de Emmanuel Nogueira, premiada nacionalmente em 2002, no Concurso de Dramaturgia Carlos Carvalho (RS), visita às duras memórias da ditadura militar brasileira. Sob o ponto de vista daqueles que não tinham um envolvimento direto na luta contra o regime, mas que perderam parentes e amigos, o texto conta a história de uma mãe que confina a vida no quarto do filho que desaparece nos porões do regime ditatorial. O espetáculo é encenado na estética do “Teatro Ritualístico”, pesquisa do Grupo Expressões Humanas, que busca o envolvimento direto entre atores e espectadores, criando um teatro não só para ser visto, mas também para ser vivenciado.

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