Theatro José de Alencar: Wilemara Barros faz 50 anos, celebrando a vida com dança

10 de abril de 2014 - 10:25

A bailarina cearense Wilemara Barros completa 50 anos nessa sexta-feira, 11 de abril, celebrando a vida com dança. O Theatro José de Alencar, que já recebeu tantas vezes os espetáculos da bailarina, preparou uma programação especial, em parceria com a Cia Dita, para homenagear Wilemara. A festa, com entrada franca, vai começar às 19 horas tendo muita música e dança.

A celebração da trajetória da bailarina começou em janeiro e se estende ao longo do ano. Mês a mês, o Theatro José de Alencar e a Cia Dita realizam atividades em comemoração aos 50 anos de vida e aos 40 de dança de Wilemara. “Ela tem uma história de vida que traz junto a história da dança no Ceará. Nasceu negra, pobre, no Ceará. Vive de dança. É um feito imenso”, avalia a diretora do teatro, Izabel Gurgel.

Um feito que começou quando a mãe, que um dia quis ser bailarina, transferiu o desejo para a filha. O sonho passou a virar realidade no dia em que Maria Neide Barros saiu do bairro Carlito Pamplona para levar a primogênita de dez anos ao primeiro teste na Escolinha de Balé do Sesi da Barra do Ceará, parte do programa de educação para as artes realizado pela instituição em Fortaleza no começo dos anos 70. Sem tirar os pés do bairro onde nasceu e mora ainda hoje, Wilemara superou todas as expectativas e previsões pessimistas, e ganhou o mundo dançando, de corpo e alma, por inteiro.

Para a bailarina, a dança tomou um sentido tal que se confunde com a própria existência. “Todos os dias, ao acordar, você diz ‘sim’ para a dança”, explicou a ela, nesta semana de aniversário, o também bailarino e contemporâneo Ernesto Gadelha, coordenador da Escola Pública de Dança da Vila das Artes. “E é isso mesmo. A dança é para mim uma espécie de religião. Eu tenho total respeito, cultuo e digo ‘bom dia’ para ela”, concorda Wilemara.

A projeção que fez a bailarina saltar para apresentações em diversos estados do Brasil e países da América do Sul, Europa e África veio em 2002, a partir do espetáculo “De-Vir”, um dos marcos da história de Wilemara na dança, segundo ela própria. Convidada pelo então iniciante Fauller, a já experiente bailarina foi considerada como em fim de carreira ao se permitir, aos 38 anos, dançar nua para um coreógrafo tão jovem.

Era só o primeiro de uma sucessão de trabalhos provocadores que a Cia Dita apresentou tendo como foco a nudez e o que ela representa como dimensão artística e política do próprio corpo. Wilemara esteve em todos os outros espetáculos – “Inc.”, “L’après midi d’un Fauller” e “Corpornô”. Mas o segundo grande marco de sua trajetória foi como protagonista de um clássico, o comportado e romântico balé “Giselle”, sob releitura do coreógrafo sueco Mats Ek, em 2001, atendendo ao convite do então diretor do Colégio de Dança do Ceará, Flávio Sampaio. “Foi o ápice da minha técnica. Era muito desafiante porque exigia muito ensaio, cheguei a emagrecer muito”, revela. Por exigir alto nível em técnica e graciosidade, “Giselle” foi interpretada pelas mais habilidosas bailarinas do mundo.

A habilidade de Wilemara continua surpreendendo à meia-idade, à meia-luz ou totalmente às claras. Além de manter o vigor físico, ela agregou ao trabalho uma forte expressividade corporal e também facial que, mesmo sem qualquer gesto ou fala, prende a atenção do público e se diferencia entre jovens bailarinos com quem divide o palco. “Com 50 anos de idade, Wilemara ainda tem uma carreira longa. Ela não se prendeu só aos aspectos técnicos da carreira de dança. Ela foi construindo essa carreira de uma forma que hoje pode estar em cena sem precisar fazer piruetas, mesmo que ainda seja muito vigorosa. Ela preenche a cena estando parada, sentada numa cadeira. Acho que vai poder ficar no palco com 80 anos, 90 anos, porque foi construindo uma carreira de intérprete, de artista”, avalia o coreógrafo Fauller, companheiro de dança e também de vida.

Desde que os dois cruzaram os olhares e trocaram as primeiras palavras, dentro de um ônibus, em Fortaleza, indo assistir a um espetáculo de dança em 1997, começou a se estabelecer uma parceria que se aprofundou em 2001 para uma cumplicidade além-palco, quando passaram a trabalhar e a viver juntos. “Ele é o admirador número zero da Wila, como a mestra é chamada pela legião de bailarinos e bailarinas e gente que sabe do que ela faz e do que ela pode”, qualifica a diretora do Theatro José de Alencar, Izabel Gurgel.

Da dança para outras linguagens

Wilemara Barros pode muito. A bailarina transita por outras linguagens, como a moda, a fotografia, o teatro e o cinema, fazendo editoriais para revista, participando de desfiles, posando para as lentes, atuando em peças e filmes. Mesmo não se considerando uma atriz, fez uma vedete no palco, em um musical sobre Dalva de Oliveira, e participou, a convite do cineasta cearense Rosemberg Cariry, do filme “Siri-Ará”, compondo o elenco feminino premiado no Festival de Cinema de Brasília em 2008. “O prêmio foi uma surpresa para ela, mas ela tem uma capacidade interpretativa muito intuitiva”, observa Fauller.

Para o secretário de Cultura de Fortaleza, Magela Lima, a admiração pela bailarina começou bem antes das oportunidades que ele teve de acompanhar de perto, como jornalista, os primeiros trabalhos da Cia Dita. “Minha admiração pela Wila vem de mais longe, de antes de o Ceará consolidar a cena contemporânea em dança que possui hoje e com a qual se projeta Brasil e mundo afora. Wilemara Barros, na minha memória, sempre foi nome de destaque nos programas dos tradicionais balés de fim de ano, numa época em que a dança local praticamente se resumia ao trabalho realizado pelas academias”, lembra Magela, que passou pelos cadernos de cultura dos principais jornais cearenses.

Como jornalista, o secretário municipal de Cultura considera um privilégio ter acompanhado a bailarina numa transição por diferentes estilos da dança. Nesse deslocamento, Wilemara preservou a competência e a capacidade de encantar o público como consequência do próprio exercício prazeroso de encantar-se pelo que faz. “As pontas de Wilemara Barros, as pernas longuíssimas e outros quesitos que maneja com maestria no repertório do balé clássico sempre foram muito elogiados. Ela era uma referência. Era, não, é. Falo no passado porque tive o privilégio de ver essa referência se transformar, se atualizar, muito embora suas bases criativas, seu movimento, dialoguem muito com o que traz desde a infância, do clássico herdado do genial Dennis Gray (fundador da Escola de Dança do Sesi no Ceará). Vi a Wilemara das pontas abandonar as sapatilhas. Vi a Wilemara dar um tempo nos figurinos pomposos e desnudar-se em cena. Vi a Wilemara fazer-se uma nova bailarina, tão grande e potente quanto sempre foi. Wilemara Barros hoje é sinônimo de diversidade e competência, de rigor e expressividade. É um talento avassalador, a quem as palmas mais calorosas ainda são tímidas”, descreve Magela, um fã assumido da bailarina.

50 anos e um novo projeto

Wilemara Barros, formada pelo Colégio de Dança do Ceará, é atualmente professora de balé clássico e coordenadora do Curso Técnico em Dança, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Há 30 anos, entre outras atividades profissionais, ministra aula para várias gerações da dança no estado. Integrante da Cia Dita, ela também está no mais recente trabalho da companhia, o espetáculo “Corpornô”, e faz parte do novo Projeto Fortaleza, que tem fotografado os bailarinos nus junto a edificações históricas ainda preservadas na cidade. A proposta é levar as imagens para exposições e publicações, gerando um debate sobre a cidade. “É um projeto que começamos a pensar antes do colapso pelo qual a cidade está passando, na tentativa de chamar atenção das pessoas para lançarem um outro olhar sobre Fortaleza, para olharem a cidade de forma carinhosa”, argumenta a bailarina.

Serviço
Theatro José de Alencar: bailarina Wilemara Barros faz 50 anos, celebrando a vida com dança
Data:
sexta-feira, 11 de abril de 2014
Entrada pela Rua 24 de Maio

Programação
19 horas – Praça Mestre Boca Rica
Projeto LongPlay com DJ Renatinha – Wila, essa canção me faz lembrar você
Cada pessoa escolhe uma música e oferece para a bailarina. A DJ leva o acervo de discos de vinil e abre a irradiadora para dedicar canções ou cantar junto, mas cada um pode levar os próprios discos para tocar o coração dos ouvintes.

20 horas – Sala de teatro
Noite de gala: dançando pra Wila
Bailarinos de várias gerações dançam para Wilemara Barros em solos, duo ou em grupo:
Bruno Gomes, Clarissa Costa, Douglas Motta, Graça Martins, Heber Stalin, Julio César Costa, Luiz Otávio Farias, Rosa Ana Fernandes, Victor Hugo (solistas)
Amanda Teixeira e Everardo Freitas (pas de deux)
“Cravos dançam Rosas”, com Bruno Gomes, Fabiano Veríssimo, Luiz Otávio Queiroz, John Pessoa e Thiago Pinheiro Braga

21h30min – Praça Mestre Boca Rica
Show acústico com Wilenaina Barros (voz) e Dani Mello (cordas)
DJ Renatinha em Projeto Paratodos para fechar a programação

Assessoria de Comunicação – Secretaria da Cultura do Ceará
(85) 8699.6524 – Dalwton Moura
(85) 8878.8805 – Raimundo Madeira
(85) 9608.5822
– Sonara Capaverde
Foto: Felipe Abud
(85) 3101.6761
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