Theatro José de Alencar: portas abertas para o ingresso no universo da literatura russa

7 de março de 2014 - 20:02

Para quem já aprecia a literatura russa ou deseja saber mais  sobre esse universo literário, o Theatro José de Alencar está de portas abertas mais uma vez. O Grupo de Leitura e Estudos em Literatura e Teatro Russos, que mantém encontros quinzenais desde outubro de 2013, volta a se reunir nesse sábado (8), das 15 às 17 horas. Na informalidade de uma roda de conversa, nem é necessário fazer inscrição. Basta chegar à Biblioteca Carlos Câmara, no térreo do Centro de Artes Cênicas do Ceará (Cena), anexo ao prédio principal do teatro, para entrar em contato com uma das produções literárias de maior qualidade no mundo.

Fiódor Dostoiévski (1821-1881), Liev Tolstói (1828-1910) e Anton Tchékhov (1860-1904) estão entre os autores mais expressivos da literatura russa. Mas a lista reúne outros expoentes, nascidos na Rússia e também em países sob sua influência. Vladímir Maiakóvski (1893-1930), frequentemente citado como um dos maiores poetas do século XX, também dramaturgo, nasceu em Baghdati, na Geórgia, então Império Russo. Isaac Bábel (1894-1940), jornalista e escritor de origem judaica, nasceu em Odessa, na Ucrânia. Nikolai Gógol (1809-1852), considerado um contista, romancista e teatrólogo genial, também é ucraniano, de Poltava.

Percebendo o crescente interesse dos brasileiros – incluindo também os cearenses – na leitura dos escritores russos mais conhecidos, a jornalista Aline Veras decidiu criar o Grupo de Leitura e Estudos em Literatura e Teatro Russos para também oferecer aos amantes da leitura a oportunidade de conhecer outros autores e obras. “Dostoiévski e Tolstói (foto) são autores incomparáveis, já consagrados como grandes clássicos, não apenas na história da literatura da Rússia, mas na literatura mundial. Mas o que eu queria e tento mostrar às pessoas que vão aos encontros é que existem outros autores tão grandes e que escreveram obras também eternas, tais como Anton Tchékhov, Aleksandr Puchkin, Mikhail Liérmontov, Maksim Górki, Ivan Turguêniev, Aleksandr Soljenítsin”, aponta Aline, que se diz apaixonada pela literatura e pelo teatro russos.

O que os próprios Dostoiévski e Tolstói afirmaram sobre outros escritores russos confirma o que ela expõe. Dostoiévski considerava Nikolai Gógol, por exemplo, um grande mestre. O Capote e O Retrato, escritos por ele, são qualificados como obras-primas do conto universal. Junto com Aleksandr Puchkin, Gógol é tido como um dos fundadores da literatura russa moderna. Puchkin, por sua vez, é alçado à posição de gênio da poesia e da prosa. Embora ainda pouco popular no Brasil, muitas de suas obras já foram traduzidas diretamente do russo, como A Dama de Espadas e Noites Egípcias.

“Nos encontros, nós não apenas lemos o livro – claro que isso é o mais importante -, mas nós também temos o espaço para expressar nossa opinião, para a interpretação daquele livro, além de trocar informações e conhecimento, trazendo textos de pesquisadores e estudiosos do autor e/ou da obra”, acrescenta Aline Veras. Os livros são adquiridos pelos próprios membros do grupo. Os integrantes têm total liberdade na forma de aquisição da obra: na livraria ou num sebo; numa edição atual ou mais antiga; numa tradução direta ou indireta. “O importante é a leitura, ela é a razão desse grupo existir”, resume Aline, que tem um interesse especial pela Rússia, já tendo lido muitas obras teóricas e muitos trabalhos acadêmicos sobre a cultura e a literatura daquela região.


Século XIX, a época áurea

O século XIX é considerado a idade de ouro da literatura russa, com destaque para a produção de romance, conto e teatro. Dostoiévski, Tolstói, Tchékhov, entre outros grandes nomes, são desse período. Entre as obras mais importantes de Dostoiévski estão Crime e Castigo e Os Irmãos Karamázov. Anna Kariênina e Guerra e Paz são clássicos de Tolstói lidos, discutidos e adaptados no mundo inteiro. Tchékhov, mais famoso como dramaturgo e contista, tem, entre os melhores trabalhos, A Dama do Cachorrinho e Outros Contos e O Beijo e Outras Histórias. Tchékhov, além de ter fundado o chamado conto moderno, também foi um grande inovador do teatro. Ao criar peças como A Gaivota, Tio Vânia e Três Irmãs, o artista se tornou um clássico da dramaturgia, ao lado do inglês William Shakespeare (1564-1616).

As obras fascinam pela genialidade como foram escritas, traduzindo muito da intimidade e do sentimento humanos, e também pela contribuição histórica, ao refletir o contexto social, econômico e político de uma época. Por ser uma leitura de primeira grandeza, a literatura russa sempre empolgou o jornalista Agostinho Gósson, que começou na juventude a ler as obras de Dostoiévski, Tolstói, Tchékhov e Gógol. “É fundamental o conhecimento dos clássicos para conhecer o espírito russo e para a própria formação do nosso caráter e temperamento”, avalia, aos 60 anos. Professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará durante 25 anos, ele formou gerações de jornalistas sempre recomendando esses autores. “São leituras que devem formar a base literária de profissionais de literatura e jornalismo”, conclui.

A escritora Tércia Montenegro já leu os mais conhecidos, Dostoiévski, Tolstói eTchékhov, este, para ela, um dos autores prediletos, e também se encantou ao descobrir a poesia de Anna Akhmátova (1889-1966) e Marina Tsvetáieva (1892-1941). “Eu comecei lendo os contistas russos, pelas coletâneas – e lembro que sempre fiquei muito impressionada com a tragicidade das histórias de Tchékhov, de Leonidas Andreiev e tantos outros. A morte de Ivan Ilitch, do Tolstói, foi um dos primeiros livros de literatura russa que eu comprei, vinte anos atrás. Depois passei para o resto do Tchékhov (um dos meus preferidos), do Dostoiévski – e também descobri as maravilhosas poetisas Anna Akhmátova e Marina Tsvetáieva. Todos estes autores têm um jeito doloroso de investigar as circunstâncias dos relacionamentos humanos, o que faz com que seus textos se tornem inesquecíveis”, comemora Tércia.


Atividades de formação

O Grupo de Leitura e Estudos em Literatura e Teatro Russos é uma das atividades de formação em curso atualmente no Theatro José de Alencar, que inclui também as residências artísticas do Movimento do Teatro do Oprimido, coordenada por Daniel Victor; de Dança e Sapateado, ministrada por Brino Correia; e da Cia Teatro Mosca, dirigida por Aldo Marcozzi.

“É uma alegria acolher todas essas iniciativas, inclusive a do grupo dedicado à leitura dos autores russos. Assim,
oxigena-se a vida do Theatro José de Alencar e no Theatro José de Alencar, que a cada ano recebe 300 novos alunos do Curso Princípios Básicos de Teatro. As atividades de formação dão lastro ao cotidiano, ampliam os usos e ocupações do teatro centenário”, sintetiza Izabel Gurgel, diretora do equipamento, mantido pela Secretaria da Cultura do Estado.

Serviço

Grupo de Leitura e Estudos em Literatura e Teatro Russo
Data: Sábados, 8 e 22 de março de 2014
Horário: 15 às 17 horas
Local: Theatro José de Alencar – Centro de Artes Cênicas do Cerá (Cena) – Biblioteca Carlos Câmara – térreo – Entrada pela Rua 24 de Maio

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