Noite de celebrar a literatura de cordel no VIII Encontro Mestres do Mundo

20 de dezembro de 2013 - 01:00

A segunda noite do VIII Encontro Mestres do Mundo foi para celebrar a literatura de cordel. O historiador Otávio Menezes, da Coordenadoria do Patrimônio Artístico, Histórico e Cultural, da Secretaria da Cultura do Estado (Secult), lançou nessa quinta-feira (19) o cordel “Espedito Seleiro – Tesouro da Cultura do Ceará”, uma homenagem a Espedito Veloso de Carvalho, o Mestre da Cultura Tradicional Popular do artesanato em couro.

Assim como as peças diferenciadas que produz, o artesão também se diferencia pelo nome, escrito com “s” mesmo, o que obrigou o autor do cordel a reimprimir a tiragem de 500 exemplares porque só descobriu que o homenageado não assinava com “x” depois de ter impresso os 300 primeiros folhetos. “Espedito Seleiro – Tesouro da Cultura do Ceará” é o mais recente trabalho dos cerca de 200 que Otávio Menezes já publicou.

Inspirado nas histórias do cotidiano, o primeiro cordel do historiador, ainda nos idos dos anos de 1980, discorria sobre a briga de uma lavadeira de roupa com um trocador de ônibus do bairro José Walter, onde Otávio morava, em Fortaleza. “Depois desse primeiro, peguei o vício de fazer rima e verso”, aponta. Naquela década, visitando muito Juazeiro do Norte, um grande centro produtor de cordéis até hoje, e frequentando com regularidade as rodas de emboladores na Praça José de Alencar, na capital, tomou gosto pela arte da literatura de cordel. A maioria dos trabalhos tem como fonte de inspiração fatos interessantes, geralmente inusitados, pitorescos, que ganham visibilidade, seja pelos meios de comunicação ou por outras fontes.

A escrita do cordel sobre Espedito Seleiro aconteceu durante uma viagem a Salvador, mas foi em outras viagens do historiador, entre Crato e Assaré, no período de 2008 a 2011, que Otávio se abasteceu de elementos que depois seriam fundamentais para a composição do texto. “Eu estava no trabalho de recuperação e restauração da casa de taipa de Patativa do Assaré, e sempre passava pela oficina de Espedito Seleiro, em Nova Olinda, para conversar”, relembra.

Durante o lançamento do cordel, na estação ferroviária do Crato, Espedito Seleiro chegou sorrateiro, discretamente, surpreendendo a todos, uma vez que não havia confirmado presença. Simples, como em geral são os grandes artistas, ele se reservou a agradecer. “Eu só tenho a agradecer a Deus e a vocês todos, que me dão valor”.

Antes do lançamento, outros cordelistas também se apresentaram. O jornalista Paulo Ernesto Arrais mostrou ao público o cordel “Em defesa do forró”. Embora não se considere cordelista, mas um curioso e pesquisador da literatura de cordel, já publicou cinco trabalhos, o primeiro em 1998 e o penúltimo, em defesa do meio ambiente, lançado na Bienal Internacional do Livro do Ceará, em 2012. Filho de Antonio Vicelmo, conhecido radialista e também poeta do Crato, Paulo Ernesto cresceu sob fortes e importantes influências. Ele ouvia os versos de Patativa do Assaré da boca do próprio poeta, que muitas vezes se hospedava na casa da família.

A noite de lançamento dos cordéis teve ainda a apresentação do estreante Mimi Martins, com seu primeiro trabalho publicado, intitulado “Chico Maranhão”, e a música do Mestre Expedito, de Juazeiro do Norte, acompanhado de cavaquinho e, depois, pífaro. Na Arena da Tradição, em frente à estação ferroviária, o público teve a oportunidade de prestigiar o grupo de pastoril da Mestre Zulene (Zulene Galdino Sousa, do Crato), as toadas da vaqueira e aboiadora Mestre Dina (Maria Martins Lima, de Canindé), as cantigas de viola do cordelista Mestre João Lucas Evangelista, de Crateús, além do Mestre Doca Zacarias (Raimundo Zacarias, de Milagres), cuja tradição cultural é a congada, da Mestre Maria do Horto (Maria José Inácio, de Juazeiro do Norte), conhecida pelos benditos, e do Mestre Piauí (Antônio Batista da Silva), que tem como tradição cultural o boi de reisado, em Quixeramobim. Mas foi o grupo de coco de Trairi que causou maior empolgação, levando parte do público para participar da dança junto com os integrantes.

O VIII Encontro Mestres do Mundo termina nessa sexta-feira (20), com rodas de mestres a partir das 9 horas e seminário a partir das 14h, no Centro de Expansão do Crato, e muita animação na última noite, a partir das 19h30min, na Arena da Tradição, com reisados e forró pé-de-serra. A programação paralela inclui apresentação de lapinhas, reisado e coco, na Praça da Sé, a partir das 18h.