VIII Encontro Mestres do Mundo promove discussão sobre tradição e geração de renda

19 de dezembro de 2013 - 18:23

As tradições como fonte geradora de renda foram discutidas na tarde desta quinta-feira (19), durante o VIII Encontro Mestres do Mundo, que está sendo realizado no município do Crato, na região do Cariri. O tema levantou muitos questionamentos sobre a sustentabilidade das atividades desenvolvidas pelos artistas populares e apontou para a necessidade de mais incentivo pelo poder público para a preservação da cultura tradicional.

A discussão envolve conceitos sobre valores simbólicos, artísticos, culturais e materiais. “Como falar em tradições geradoras de renda se as tradições são geradoras de vida? Esse é um tema muito complexo. Será que todas as tradições representadas ou não representadas aqui podem ser transformadas em um produto que gere uma renda?”, indagou a professora do Departamento de Artes, Turismo e Lazer do campus de Fortaleza do Instituto Federal do Ceará (IFCE), Simone Castro. Autora do livro “Memórias da Cantoria: palavra, performance e público”, ela foi uma das convidadas para participar do seminário sobre as tradições como fonte geradora de renda.

Para abordar a relação entre tradição e geração de renda, o convite foi extensivo à vaqueira e aboiadora Mestre Dina (Maria Martins Lima, de Canindé), ao cordelista Mestre Sebastião Chicute (Sebastião Alves Lourenço, de Capistrano) e ao Mestre Antonio (Reisado dos Irmãos Discípulos de Mestre Pedro, de Juazeiro do Norte). Deles, partiram os relatos de vida e de como se dividem entre a atividade cultural desenvolvida e outros afazeres para garantirem a sobrevivência.

Da plateia, surgiram várias intervenções na tentativa de contribuir com o debate. O desfecho da fala do cordelista Mestre Luciano (Luciano Carneiro de Lima, do Crato) dá a dimensão das dificuldades enfrentadas pelos artistas populares e dos poucos avanços obtidos para o reconhecimento da importância do trabalho desenvolvido por eles. “Depois que eles se tornam mestres, se quebra o pote em casa, eles pode comprar um filtro de barro”. Também cordelista e violeiro, o Mestre João Lucas Evangelista, de Crateús, abordou o problema dos direitos autorais sobre os cordéis produzidos, com o agravante da falta de controle sobre a circulação das obras pela internet. Mas apontou que ainda é com os direitos autorais de livros publicados e discos gravados que ele consegue renda extra.

O representante da comunidade diplomada como tesouro vivo em 2013, a Comunidade da Prainha do Canto Verde, Beto Pescador (José Alberto de Lima Ribeiro, de Beberibe), defendeu mais incentivo do poder público, principalmente das prefeituras, para fortalecer o trabalho dos mestres da Cultura. Por meio de oficinas nas escolas, os mestres poderiam difundir os conhecimentos sobre as atividades que desenvolvem para preservar a cultura popular, ao mesmo tempo em que contribuiriam para a formação de crianças, adolescentes e jovens e teriam um retorno financeiro.

O VIII Encontro Mestres do Mundo termina nessa sexta-feira (20). À tarde haverá mais um seminário, sobre a brincadeira como meio de emoção e alegria, além de outras atividades ao longo do dia. Uma iniciativa da Secretaria da Cultura do Ceará, em parceria com a Prefeitura do Crato e o Instituto Sociocultural e Artístico do Ceará, o evento passou a ser realizado a partir da criação da Lei nº 13.351, de 22 de agosto de 2003, que instituiu no âmbito da administração pública estadual o Registro dos Mestres da Cultura Tradicional Popular do Estado do Ceará, para reconhecer e valorizar os relevantes serviços prestados à cultura e à arte.