Morre Mestre da Cultura José Pereira de Oliveira, miniaturista de jangadas em Aquiraz

12 de dezembro de 2013 - 12:11

Artesão das miniaturas de jangadas, escolhido em 2006 como Mestre da Cultura pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural do Ceará, José Pereira de Oliveira, Seu Oliveira, faleceu nessa quarta-feira (11), aos 88 anos, após duas paradas cardíacas e insuficiência respiratória – ele já havia sofrido seis acidentes vasculares cerebrais. O corpo está sendo velado na residência do artesão (Av. Damião Tavares de Souza, Prainha), em Aquiraz, a mesma cidade onde nasceu em 25 de setembro de 1925, numa casinha simples, a poucos metros do mar. Haverá missa às 15h desta quinta-feira (12), na Capela Nossa Senhora dos Navegantes, seguida do sepultamento às 16h20min, no Cemitério Municipal.

José Pereira de Oliveira tornou-se pescador numa época em que nem se usava fio de nylon – eram três fios de linha 10, grudados por um preparo à base de resina de cajueiro. Navegando em jangadas, fez grandes pescarias e conheceu boa parte da costa brasileira. Da lida, tornou-se artista. De tanto construir as embarcações, desenvolveu a inspiração e a arte para reproduzi-las em miniaturas, com um detalhamento que se destacava no artesanato da Prainha.

Para as grandes e minúsculas jangadas, Zé Oliveira tinha predileção pela vela de cor branca. A pedidos, para chamar mais a atenção dos turistas, passou a incluir nas miniaturas as velas amarela e vermelha, feitas com “cipó de imbé, que vem do olho da árvore, na mata fechada, onde as cobras cantam”, como dizia, ou com madeira imburana, raiz de cajueiro, tranca e matamatá, entre outros materiais.

Zé Oliveira casou-se com Auristela, com quem concebeu 15 filhos, embora dois tenham morrido na barriga da mãe e cinco tenham falecido ainda pequenos. A mulher com quem viveu por 59 anos também desenvolveu a habilidade artística, trabalhando como rendeira ao longo de toda a vida. Dona Auristela faleceu em 2011.

Seu Oliveira foi escolhido Mestre da Cultura, considerado um tesouro vivo do Ceará, por uma comissão formada por um representante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-CE), André Luiz Costa; da Secretaria do Turismo do Estado (Setur), Francisco José Leite Barros; e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Olga Paiva; além dos representantes da Secretaria da Cultura do Estado, o teatrólogo Oswald Barroso, a socióloga Fátima Façanha e o coordenador do Patrimônio Artístico, Histórico e Cultural, Otávio Menezes. O resultado da seleção foi publicado no Diário Oficial de 30 de maio de 2006.

Foi também em 2006 que o jornalista e pesquisador da cultura popular, Gilmar de Carvalho, conheceu Seu Oliveira e se encantou de imediato pela delicadeza, pela singularidade e pelos significados do trabalho do artesão. “Seu Oliveira me emocionou pela delicadeza com que reduzia as jangadas à condição de miniaturas. Curioso que não eram peças feitas em série, como parte de um artesanato pobre, decaído, que vigora em algumas localidades. Cada jangadinha dele tinha vida própria, era única e dialogava com o mar, os grandes embates, a luta dos nossos Ulysses, jangadeiros anônimos, heróis de lutas diárias. Seu Oliveira transformava o heroísmo em delicadeza, em minúcia. Comovia ver as peças tão minúsculas e tão fortes, que ganhavam outras significações, quando se falava de invenção e de memória. Aquele mundo era dele: um mundo de quebra-cabeças, com a precisão de um relojoeiro e a possibilidade do sonho dos meninos, que ele captava e amplificava em escala reduzida”, emociona-se e emociona Gilmar, que produziu, em parceria com o fotógrafo Francisco Sousa e com apoio da Secult, o livro dos “Mestres da Cultura Tradicional Popular do Ceará” naquele ano.

Mestres da Cultura

Indicado para receber o título de Mestre da Cultura em 2006, Seu Oliveira foi agraciado ao lado de outros 11 tesouros vivos, os mestres Antônio (Antônio Pinto Fernandes-Aurora), construtor de rabecas; Gilberto Calungueiro (Gilberto Ferreira de Araújo-Icapuí), que desenvolve teatro de bonecos; João Mocó (João Evangelista dos Santos-Granja), pela preservação da tradição do bumba-meu-boi; Joaquim de Cota (Joaquim Pereira Lima-Assaré), também já falecido e que se destacava pelo artesanato em couro; Seu Zé Matias (José Matias da Silva-Caririaçu), pela tradição do reisado; Mestre Joviniano (Joviniano Alves Feitosa-Crateús), mestre santeiro também já falecido; Mestre Graciano (Manoel Graciano Cardoso dos Santos-Juazeiro do Norte), que se destaca pelo artesanato em madeira; Dona Tatai (Maria Pereira da Silva-Juazeiro), também falecida e que tinha como tradição cultural a lapinha; Mestre Zé Pedro (Pedro Alves da Silva-Guaramiranga), pelo artesanato com trançado em cipó de Imbé; Sebastião Chicute (Sebastião Alves Lourenço-Capistrano), cordelista; e Mestra Zulene (Zulene Galdino Sousa-Crato), pela preservação do pastoril, dança do coco, maneiro pau.

É de 22 de agosto de 2003 a Lei nº 13.351, que institui no âmbito da administração pública estadual o Registro dos Mestres da Cultura Tradicional Popular do Estado do Ceará. Desde 2004, o título de Mestre da Cultura já foi entregue a 68 pessoas e cinco grupos. Outros dois mestres e mais três grupos serão agraciados em 2013. Com a morte do Mestre Zé Oliveira, a lista passa a ter 14 mestres falecidos.
Com a partida de um dos tesouros vivos do Ceará, o Estado perde mais um digno representante da rica cultura popular local. Como conclui Gilmar de Carvalho: Seu Oliveira se foi. Ficamos mais pobres. Foi fazer jangadinhas de piúba para um pescador corajoso que tem as chaves dos céus e se chama São Pedro”.

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Foto: Felipe Abud


Morre, aos 88 anos, Mestre da Cultura José Pereira de Oliveira, miniaturista de jangadas em Aquiraz

Artesão das miniaturas de jangadas, escolhido em 2006 como Mestre da Cultura pela Secretaria da Cultura do Estado, José Pereira de Oliveira, Seu Oliveira, faleceu nessa quarta-feira (11), aos 88 anos, em decorrência de um acidente vascular cerebral. O corpo está sendo velado na residência do artesão (Av. Damião Tavares de Souza, Prainha), em Aquiraz, a mesma cidade onde o mestre nasceu em 25 de setembro de 1925, numa casinha simples, a poucos metros do mar. Haverá missa às 15h desta quinta-feira (12), na Capela Nossa Senhora dos Navegantes, em Aquiraz, seguida do sepultamento às 16h20min, no Cemitério Municipal.

José Pereira de Oliveira tornou-se pescador numa época em que nem se usava fio de nylon – eram três fios de linha 10, grudados por um preparo à base de resina de cajueiro. Navegando em jangadas, fez grandes pescarias e conheceu boa parte da costa brasileira. Da lida, tornou-se artista. De tanto construir as embarcações, desenvolveu a inspiração e a arte para reproduzi-las em miniaturas, com um detalhamento que se destacava no artesanato da Prainha.

Para as grandes e minúsculas jangadas, Zé Oliveira tinha predileção pela vela de cor branca. A pedidos, para chamar mais a atenção dos turistas, passou a incluir nas miniaturas as velas amarela e vermelha, feitas com “cipó de imbé, que vem do olho da árvore, na mata fechada, onde as cobras cantam”, como dizia, ou com madeira imburana, raiz de cajueiro, tranca e matamatá, entre outros materiais.

Zé Oliveira casou-se com Auristela em 1951, com quem concebeu 15 filhos, embora cinco tenham morrido na barriga da mãe e dois tenham falecido ainda pequenos. A mulher com quem viveu por 59 anos também desenvolveu a habilidade artística, trabalhando como rendeira ao longo de toda a vida. Dona Auristela faleceu em 2011.

Seu Oliveira foi escolhido Mestre da Cultura por uma comissão formada por um representante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-CE), André Luiz Costa; da Secretaria do Turismo do Estado (Setur), Francisco José Leite Barros, e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Olga Paiva, além dos representantes da Secult, o teatrólogo Oswald Barroso, a socióloga Fátima Façanha e o coordenador do Patrimônio Artístico, Histórico e Cultural, Otávio Menezes. O resultado da seleção foi publicado no Diário Oficial de 30 de maio de 2006.

Mestres da Cultura

Indicado para receber o título de Mestre da Cultura em 2006, Seu Oliveira foi agraciado ao lado de outros 11 tesouros vivos, os mestres Antônio (Antônio Pinto Fernandes-Aurora), construtor de rabecas; Gilberto Calungueiro (Gilberto Ferreira de Araújo-Icapuí), que desenvolve teatro de bonecos; João Mocó (João Evangelista dos Santos-Granja), pela preservação da tradição do bumba-meu-boi; Joaquim de Cota (Joaquim Pereira Lima-Assaré), também já falecido e que se destacava pelo artesanato em couro; Seu Zé Matias (José Matias da Silva-Caririaçu), pela tradição do reisado; Mestre Joviniano (Joviniano Alves Feitosa-Crateús), mestre santeiro também já falecido; Mestre Graciano (Manoel Graciano Cardoso dos Santos-Juazeiro do Norte), que se destaca pelo artesanato em madeira; Dona Tatai (Maria Pereira da Silva-Juazeiro), também falecida e que tinha como tradição cultural a lapinha; Mestre Zé Pedro (Pedro Alves da Silva-Guaramiranga), pelo artesanato com trançado em cipó de Imbé; Sebastião Chicute (Sebastião Alves Lourenço-Capistrano), cordelista; e Mestra Zulene (Zulene Galdino Sousa-Crato), pela preservação do pastoril, dança do coco, maneiro pau.

Desde 2004, o título de Mestre da Cultura já foi entregue a 68 pessoas e cinco grupos. Outros dois mestres e mais três grupos serão agraciados em 2013. Com a morte do Mestre Zé Oliveira, a lista passa a ter 14 mestres falecidos.