A arte e o afeto de Estrigas e Nice Firmeza são retratados em exposição no Museu da Cultura Cearense

18 de setembro de 2013 - 10:47

Nice com suas boas histórias, suas comidas, suas flores, sua generosidade.  Estrigas com sua conversa sobre arte, seu discernimento como crítico e historiador, sua experiência política. Juntos, eles abriram o coração e as portas do sítio no Mondubim para mostrar a história da arte no Ceará a muitos artistas, intelectuais, educadores, estudantes e tantos outros que os visitaram, para quem foram educadores da percepção e da sensibilidade.

Transmitir uma amostra dessa generosidade do casal de artistas é a proposta da exposição “NicEstrigas – Arte e Afeto”, com abertura no dia 19 de setembro, data de aniversário de 94 anos de Estrigas, a partir das 19 horas no Museu da Cultura Cearense, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC).

“O nome diz muito, ‘arte e afeto’, porque não se pode mostrar a história de Nice e Estrigas sem falar em afetividade”, explica Bené Fonteles, curador da exposição cujo projeto, coordenado por Patrícia Veloso, foi aprovado no IV Edital Mecenas do Ceará e recebeu o apoio cultural da Coelce.

“Eles dedicaram os quase 60 anos de vida juntos a receber as pessoas no sítio no Mondubim, para mostrar o desenvolvimento do processo das artes visuais no Ceará, da pré-história ao contemporâneo, e os trabalhos deles, mas isso não era o principal”, continua o curador. No sítio, onde ainda mora Estrigas, o casal fundou em 1969 o Minimuseu Firmeza.

O projeto da exposição foi iniciado em 2012, como uma homenagem ao casal que tem papel definitivo nas artes plásticas cearenses. Mesmo após o falecimento de Nice, em abril deste ano, teve continuidade com a colaboração direta de Estrigas.

A exposição mostra a diversidade da atuação de Nice e Estrigas: ele como artista, crítico e historiador; ela indo além das pinturas, com os bordados considerados verdadeiras obras de arte. Em torno de tudo isso, a forte relação entre arte e natureza, a consciência ecológica que motiva a preservação de um lugar capaz de reproduzir uma Fortaleza de outrora, como um último reduto de criação e liberdade, de afetividade e entrosamento com o outro.

EM EXPOSIÇÃO

A exposição está dividida em duas galerias do Museu da Cultura Cearense. Na primeira, estão expostas fotos de Nice e Estrigas no sítio e um olhar sobre o casal por outros artistas. A segunda apresenta trajetória da arte produzida por eles, desde o início dos anos 1950 até os trabalhos mais recentes.

O Minimuseu Firmeza e os espaços da residência, como a cozinha e a antessala, estão nas fotografias expostas na primeira galeria. “No fundo, tudo era um minimuseu, mesmo as áreas íntimas da casa. Eles só não abriam espaços como o quarto e o ateliê”, revela o curador. Nessa área o visitante poderá assistir a um vídeo realizado pelo fotógrafo e documentarista Tibico Brasil com depoimentos de Nice e Estrigas, que aparecem também retratados em pinturas do artista Fernando França.

A percepção de colaboradores e amigos está ainda nas diversas obras que mostram tanto a área externa como o ambiente interno do Minimuseu, e nas imagens dos fotógrafos Francisco Sousa, Gentil Barreira e Marcelo Brasileiro, os quais registraram o sítio. “A ideia desse conjunto de imagens de pintura e fotografia é transpor para a galeria o clima desse lugar, para que o visitante, ao entrar na exposição, se sinta no sítio do Mondubim”, detalha Bené Fonteles.

A exposição buscou também levar para o Museu da Cultura Cearense o que estava guardado no Minimuseu Firmeza, incluindo parte do acervo com obras do casal ou de outros autores que os retrataram. “Mostra a afetividade que eles tinham com as pessoas e as pessoas com eles”, afirma o curador.

A “MISSA” DE NICE

A exposição conta com uma reprodução da “Missa” – como Estrigas chama a instalação que ele compôs em um dos recantos do Minimuseu dias após a partida de Nice. O espaço costumava ser dedicado à obra da artista, com pinturas feitas desde o início dos anos 1950 até os anos 2010, além de fotografias e prêmios. Estrigas ampliou a instalação e acrescentou, entre outras peças, uma das camisas bordadas que ela própria usava, na qual marcou o símbolo do seu signo, câncer. A “Missa” reconta a trajetória de Nice como artista, passando pelas várias fases, como a das máscaras, até a mais recente. Lá estão também retratos que Estrigas e outros artistas fizeram da homenageada.

TRAJETÓRIA

A segunda galeria é voltada à trajetória das artes do casal, a partir do começo da década de 1950 até este ano, no caso de Estrigas. São obras pertencentes ao Museu da Universidade Federal do Ceará (MAUC), à Pinacoteca do Estado e a coleções particulares, gentilmente emprestadas por colecionadores.

Dentro desta galeria há uma sala dedicada à obra de Nice Firmeza, com seus bordados, roupas, mandalas – tema que já resultou em uma exposição individual – e arranjos de flores, que fazia diariamente nos próprios canteiros do sítio.

Nesta galeria também estão vitrines com livros de autoria de Estrigas, mostrando a produção intelectual deste artista, que já publicou cerca de 20 livros, em sua maior parte sobre a arte e os artistas do Ceará. No local estão também estudos de bordados de Nice.

“NicEstrigas – Arte e Afeto” , além de apresentar a importância estética do trabalho de Nice e Estrigas, propõe o encontro entre vida e arte, o exercício da afetividade constante e um passeio por esse espaço de liberdade plena. “Só mostrar arte não é história. É arte e vida. Não há separação. Eles propunham isso o tempo inteiro, fazer da vida uma obra de arte”, ressalta Bené Fonteles.

ESTRIGAS E NICE

Nascido em Fortaleza em 1919, Nilo de Brito Firmeza (Estrigas) é pintor e ilustrador. Formado em odontologia, profissão que exerceu e lecionou na área por cerca de 15 anos, Estrigas fez seus primeiros cursos de pintura e desenho em 1950 na Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), onde conheceu Nice, também aluna da SCAP, com quem se casou e viveu por mais de meio século, até o falecimento da artista em 13 de abril de 2013.

Bastante atuante no movimento artístico local e nacional, Estrigas participou de inúmeras exposições e salões de artes e tem obras em acervos particulares e museus Brasil afora. Entre as homenagens que recebeu, destacam-se Medalha do Mérito Cultural, da UFC, Medalha Boticário Ferreira, da Câmara Municipal de Fortaleza, e a Sereia de Ouro, do Grupo Edson Queiroz.

Já publicou cerca de 20 livros, na maior parte sobre a arte e os artistas do Ceará. Entre os quais, “Contribuição ao Reconhecimento de Raimundo Cela” (1988), “A Saga do Pintor Francisco Domingos da Silva” (1988), “Arte: Aspectos Pré-Históricos no Ceará – Uma Contribuição ao Estudo das Artes Plásticas no Ceará” (1989) e “Barrica: O Alquimista da Arte” (1993).

Maria de Castro Firmeza (Nice Firmeza) nasceu em Aracati, no litoral cearense, em 18 de julho de 1921. Na década de 1950 foi a primeira mulher a entrar para a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP), como aluna do Curso Livre de Desenho e Pintura e de Iniciação à História da Arte.

A pintura e o bordado à mão marcaram a obra desta artista, que atuava também como arte educadora. Transmitia com alegria seus conhecimentos às crianças, o bordado a um grupo de mulheres e a culinária aos visitantes de sua residência, aos quais regalava com suas receitas criativas.

Crianças, flores e muitas cores eram traços sempre presentes em sua arte, tendo participado de inúmeras exposições no Brasil e no Exterior. Os bordados(verdadeiras obras de arte, que chamava de pintura em linha) renderam uma exposição particular, em 2005, nomeada “Mandalas”. Em 2007 Nice recebeu da Secretaria da Cultura do Estado (Secult) o título de Tesouro Vivo. Nice Firmeza faleceu em 13 de abril de 2013, aos 91 anos.

Em 1969, o casal fundou o Minimuseu Firmeza em seu sítio no Mondubim. Mais de 600 peças compõem o acervo, na maioria de artistas cearenses, entre os quais Vicente Leite, Aldemir Martins, Chico da Silva, Zenon Barreto, Barrica, Mário Barata, Heloisa Juaçaba, Sérvulo Esmeraldo e Hélio Rôla. O acervo possui ainda reproduções, catálogos e livros relacionados às artes no estado do Ceará.

SERVIÇO

“NicEstrigas – Arte e Afeto” Abertura no dia 19 de setembro, às 19 horas no Museu da Cultura Cearense, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura – CDMAC (Rua Dragão do Mar, 81 – Praia de Iracema). A exposição permanece aberta a visitação até 10 de novembro. Informações: (85) 3261.0525 ewww.dragaodomar.org.br.

SUGESTÃO DE ENTREVISTA

PATRÍCIA VELOSO – coordenação geral: (85) 3261.0525 / 8878.7021

BENÉ FONTELES – curadoria(61) 8350.6100

17/09/2013

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