Jornal Unitário – 7/8/1966

3 de janeiro de 2013 - 12:37

Segundo foi noticiado, o governo estadual tenciona dividir em duas a atual Secretaria de Educação e Cultura, a fim de criar mais uma pasta, incumbida, especificamente, dos assuntos culturais.

Reconhecemos que o interesse dos atuais dirigentes cearenses é, apenas, o de propiciar maior desenvolvimento a todas as manifestações de cultura, a respeito das quais possuímos uma tradição que o patrocínio de Estado virá, certamente, manter e provir.

Julga mais dever opor, no entanto, algumas restrições ao projeto governamental, se bem que coincidam os nossos desejos com o interesse acima referido, da administração. Parece-nos, contudo, que não se justifica a criação de uma secretaria da cultura, a começar pela própria imprecisão desse termo, segundo uma vez já comentamos nesta coluna.

Como tal consideram-se geralmente as artes desde a literatura até a arquitetura, que não estão compendiadas com realizações cientificas, técnicas, filosóficas e religiosas do homem. Criar uma Secretaria de Estado para tratar somente do incentivo às artes, no Ceará, é uma providencia algo pretensiosa, que governos de muitos países, mais populosos, ainda não puseram em prática. Além disso, há o aspecto financeiro, pois mesmo se tratando de um desmembramento, é fácil perceber que o funcionamento da nova Secretaria implicará na majoração da despesa pública, tanto mais injustificável na atualidade, quando o funcionamento está em atraso na percepção de seus vencimentos. Admitindo-se que a despesa inicial fosse mínima, como instalação – aluguel do prédio, compra de material permanente de escritório, etc – ainda assim há uma restrição a fazer.

Com efeito, estando prestes a completar-se o atual quadriênio administrativo, parece desaconselhável sobrecarregar-se desde logo, o futuro governador com uma responsabilidade a mais, além das muitas que lhe pesarão sobre os ombros como herança do seu antecessor.

Talvez o candidato ao governo haja sido consultado, e como entusiasta das causas do ensino e da cultura tenha dado sua aprovação à medida em apreço, porém, nesse caso, discordamos também dele. Nossa discordância consiste em que sendo a cultura tal como é entendida, um como que complemento do ensino – havendo quando menos, entre as duas atividades, ambas essencialmente do intelecto, uma notória afinidade, manda a prudência continue a convergir a parte governamental, em que ambos os setores, na atual Secretaria como órgão único.

Isso implica em que se estruture a pasta em departamentos especifico, porém subordinados a uma política que, antes de ser precipuamente educacional, é cultural.

Não sabemos se ao governo atual ocorreram essas ponderações, mas acreditamos que nenhum leitor discordará de que deveriam ter sido feitas, antes de se pensar em um desdobramento algo auspicioso, cuja conveniência ou não poderia, aliás, constituir assunto de estudos no congresso de cultura, por aqui proposta recentemente.