Jornal O Povo – 26/02/1969

3 de janeiro de 2013 - 12:41

A Secretaria de Cultura foi modelada visando a suas finalidades bem medidas as coisas e não empiricamente.

No seu organograma estão um Departamento de Administração, que é dirigido pelo Dr. Stênio Carvalho Lima e tem a seu cargo a prestação de serviços de administração geral e outros de natureza propriamente cultural: o Departamento do Patrimônio Cultural, o Departamento de Publicações e Documentação, o Departamento de Difusão da Cultura e o Departamento de Turismo. O pessoal desses Departamentos foi recrutado noutras repartições, em grande parte. Integram ainda a estrutura da Secretaria de Cultura o Conselho de Cultura e a Junta de Planejamento.

Ao Departamento do Patrimônio Cultural, sob a direção da Dra. Maria Teresa Sampaio Leite, subordinam-se a Biblioteca, o Museu Histórico e Antropológico, o Museu São José de Ribamar, em Aquiraz, destinado ao resguardo da arte da religiosidade, criado em absoluto êxito pela Secretaria, e o Arquivo Público Menezes Pimentel. Todos eles devidamente recuperados e agora condignamente instalados e capazes de receber a visita de quem quer seja, inclusive daqueles que nunca já foram, mas recriminam… O Departamento do Patrimônio Cultural possui uma divisão, a de Tombamento, a quem incumbe a proteção ao Patrimônio Histórico Paisagístico, Artístico e Bibliográfico, da mais indispensável necessidade e para cuja objetivação já a Secretaria conseguiu fosse votada a Lei nº. 9109, de 30.7.68. Com esta lei, deseja-se preservar o nosso passado e as nossas tradições tão desgraçadamente descuradas por um povo, como somos nós indiferentes ao valor e à espiritualidade dessas tradições e daquilo que os nossos avós puderam construir, legando-nos… Para que o destruamos.

Ora dirigido pelo escritor e acadêmico Braga Monte-Negro, cabe ao Departamento de Publicações e Documentação, como a própria denominação indica, assegurar tanto quanto possível, comprovação das nossas manifestações culturais, nas suas inúmeras modalidades – documentos, iconografia, gravações, etc. e igualmente dar à publicidade cadernos de cultura, reedições de obras valiosas e edições novas anuais. Revistas, através de cujas páginas se possa aquilatar com acerto o quanto é capaz a inteligência cearense, nos domínios do conhecimento humano.

A revista “ASPECTOS”, órgão oficial da Secretaria, vale pelo conteúdo de seus trabalhos e sua apresentação gráfica; e as edições já distribuídas de obras cuja publicação se tem encarregado o Departamento mostram como bem se poderá realizar algo mesmo sem a disponibilidade de grandes quantias. Através dessas publicações – muita gente ignora ou faz por ignorar – o nome do Ceará cada vez mais se projeta no cenário nacional e mesmo no estrangeiro, para onde elas são enviadas e de onde são constantes os pedidos de remessa. A este Departamento coube reeditar FATOS DE LINGUAGEM, de Heráclito Graça; a OBRA POÉTICA, de Antônio Sales, e uma monografia a MACUMBIRA, do professor M. Negreiros Bessa.

Esse setor foi página lamentavelmente branca, na realidade inexistente, enquanto o Departamento de Cultura pertenceu à Secretaria de Educação e Cultura.

Cabe ao Departamento de Difusão de Cultura movimentar as atividades cientificas, as literárias-folclóricas e as artísticas. Dirige-o o acadêmico e professor Otacílio Colares. As atividades científicas têm como sede, por via de convênio, o Instituto do Ceará, ao qual a Secretaria vem dando positiva colaboração, mantendo ali funcionários especializados seus, encarregados de organizar e catalogar a sua opulenta biblioteca e sistematizar os seus arquivos. Têm como sede a Casa Juvenal Galeno, hoje pertencente ao Estado, as atividades literárias e folclóricas, sempre animadas e em progresso, graças ao dinamismo de sua Diretora, a acadêmica Cândida Maria Santiago Galeno, funcionária da Secretaria.

A Casa de Raimundo Cela, criada e corajosamente instalada pela Secretaria de Cultura, é o centro das atividades das artes plásticas e se expressa como vitorioso esforço para congregar e estimular uma juventude tocada do espírito da arte e que até então vivia desgarrada, desprotegida, sem meios e modos de realizar seus ideais.

Exposições de pintura e escultura ali se realizam ou são promovidas pela Casa, numa demonstração de que, se não como era de desejar, o Estado se preocupa com o desenvolvimento das Artes Visuais. A grande animadora dessas atividades e promoções é D. Heloísa Juaçaba. As atividades da Música e do Teatro têm por centro o Teatro José de Alencar, confiadas ao Maestro Orlando Leite. A nossa maior casa de espetáculo, de propriedade do Estado, mas tombada pela Diretora do Patrimônio Histórico a Artístico Nacional é objeto das mais cuidadas atenções de parte da Secretaria e para a sua total recuperação o Orçamento do Fundo de Desenvolvimento do Ceará consignou verba bem alentada para o corrente ano. O levantamento dos serviços a serem ali feitos para o satisfatório funcionamento do Teatro está sendo concluído por alunos da Escola de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará, sob a orientação do engenheiro José Liberal de Castro, representante do Ceará daquela Diretoria.

João Ramos tem a seus ombros organizar e dar vida ao Departamento de Turismo. Sem poder contar, até o presente, com os elementos imprescindíveis a uma efetiva realização no plano turístico, muito coordenou e planejou nesse sentido, tendo já feito o levantamento de nosso potencial turístico. O turismo é hoje necessidade cultural e econômica dos povos. Há deles que se alimentam notadamente do que podem oferecer aos turistas, cada vez mais ansiosos de ver novas gentes, novas paisagens, novos hábitos e costumes. O Ceará tem o que lhes apresentar e há pressa na preparação da infra-estrutura básica do Turismo. Por certo essa preparação será lenta e custosa, mas de qualquer forma, deveremos concorrer paulatinamente para que o forasteiro se sinta atraído pelas nossas peculiaridades. Turismo é investimento, seja ele o turismo de veraneio (baseado nas praias), o turismo técnico (turismo nobre), turismo estudantil, o turismo de congresso, o turismo esportivo, etc. Completando o quadro estrutural da Secretaria, está o Conselho Estadual de Cultura constituído de nove membros.

A composição desse Conselho por si representa uma expressão de cultura, tal o porte intelectual dos seus participantes: Carlos Studart Filho, José Guimarães Duque Braga Montenegro, Antônio Girão Barroso, Manuel Albano Amora, Manuel Eduardo Pinheiro Campos, Orlando Leite, Heloísa Juaçaba, Oswaldo Riedel. Reúne-se assiduamente uma vez por semana e trabalho na base da mais elogiável dedicação e entusiasmo – discutindo e resolvendo os assuntos que lhe vêm ao conhecimento. O Presidente do Conselho como membro nato é o Secretário de Cultura – que nada percebe por aquela função. Vê-se por tudo isto como a Pasta de Cultura nasceu dum imperativo de ajustada organização administrativa e dum melhor atendimento, por parte do Estado, aos reclamos culturais de nossa terra e, portanto, só elogios e louvores podem merecer aqueles que contribuíram para a sua instalação e manutenção.

Se poucos são os elementos financeiros de que pôde ela dispor até agora, decorrente o fato das dificuldades do erário estadual, caso será de procurar-se incentivar o trabalho da Secretaria e nunca, desavisadamente, fazer por extingui-la.

Tal extinção, que seria triste prova de atraso cultural, um recuo deplorável, nenhuma vantagem da ordem financeira traria à situação do nosso Tesouro, pois órgãos formadores da Secretaria autônoma se retornariam à subordinação da Secretaria de Educação, continuariam a existir, por indispensáveis, com o seu pessoal e as suas despesas de manutenção, e passariam a VEGETAR, como dantes, sem a coordenação e o zelo especial que ora vêm recebendo.

Não há, pois, nenhum razão para qualquer negativismo em relação à Secretaria de Cultura, cujas realizações são de fato indiscutíveis e cujo renome, por força dessas mesmas realizações, já ultrapassadas as fronteiras cearenses e já tem ressonância em todos os meios culturais do Brasil. A iniciativa pioneira da sua criação constituirá inegavelmente mais uma afirmação da tenacidade do cearense.