Encontro Mestres do Mundo celebrará o Sertão de Luiz Gonzaga e Gustavo Barroso

21 de novembro de 2012 - 13:33

O Governo do Estado do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura do Estado, em parceria com a Comissão Cearense de Folclore e Prefeitura Municipal de Limoeiro do Norte, realizará o VII Encontro Mestres do Mundo, no período de 20 a 22 de dezembro, na Região do Vale do Jaguaribe, em Limoeiro do Norte. O evento dá continuidade à ações de apoio a cultura popular tradicional do Estado do Ceará, consolidando o programa de preservação do Patrimônio Cultural Imaterial, através dos Tesouros Vivos da Cultura.

O evento deste ano traz como temática “Cantos e Festas do Sertão: homenagens ao centenário de nascimento de Luiz Gonzaga e 100 anos de publicação do livro Terra de Sol, de Gustavo Barroso”, como uma celebração ao Sertão através de seus cantos, folguedos e artesanato, destacando a estética sertaneja refletida na música, danças, artes manuais e poesia popular.

O Encontro Mestres do Mundo acontece com atividades realizadas durante todo o dia, tais como as Rodas dos Mestres, Seminário, programação de apresentações artísticas, Relatos de Experiências dos Mestres e exposição de produtos artesanais na Vila Cenográfica.

Através das expressões artísticas e culturais características das regiões sertanejas do Brasil, o VII Encontro Mestres do Mundo abre espaço para a diversidade das manifestações de mestres e grupos tradicionais, mantendo sua característica de momento de confraternização, troca de experiências e valorização daqueles que guardam nas práticas culturais cotidianas e na memória, os principais valores de nossa tradição cultural.

O Sertão de Gustavo Barroso e Luiz Gonzaga

O Sertão, de acordo com Ariano Suassuna, guarda em si a grandiosidade que a própria palavra expressa, quando os colonizadores portugueses olharam para o território ao Nordeste do Brasil e enxergaram um deserto, mas não apenas um deserto, mas um “desertão”, e por derivação, surge o nosso Sertão. Esta região, outrora distante e despovoada, hoje guarda as memórias, os saberes, os fazeres e uma vivacidade própria que gerou uma criação artística e cultural que é única no mundo e estão expressas nas artes e experiências de vida de nossos mestres da cultura popular tradicional.

As homenagens que permeiam o Encontro dos Mestres do Mundo de 2012 destacam as contribuições para a definição do valor do sertão para a cultura regional e nacional através de dois grandes expoentes: um de origem popular, Luiz Gonzaga, e outro de formação erudita, Gustavo Barroso. Ambos são reconhecidos pela visibilidade dada aos cearenses, nordestinos e brasileiros do sentido de vida que marca o Sertão do Brasil:

Gustavo Barroso (1888-1959)

Há 100 anos o folclorista Gustavo Barroso lançava seu primeiro livro intitulado “Terra de Sol – Natureza e Costumes do Nordeste”, dedicado às expressões folclóricas do Ceará, tornando-se um marco para os estudos da cultura popular de nosso estado e do povo do sertão. A obra, publicada sob o pseudônimo de João do Norte, destacou entre outros temas, a música, as danças, lendas e a poesia popular. Sua produção literária aprofundou o sentido do Sertão, “coração das terras”, distante do litoral, captando seu sentido etimológico a partir da presença portuguesa na África, ainda antes do descobrimento do Brasil, assumindo o significado de “mato longe da costa”.
Bacharel em ciências jurídicas e sociais, historiador, sociólogo, político, ensaísta e folclorista, Gustavo Barroso foi diretor e fundador do Museu Histórico Nacional em 1922, também membro da Academia Cearense de Letras e da Academia Brasileira de Letras, a qual presidiu nos anos de 1931-1932-1950, e representou o Brasil em várias missões diplomáticas. Autor de mais de uma centena de livros, dentre os quais hoje configuram os mais significativos para a pesquisa do folclore em nosso estado, dentre eles: “Terra de Sol” (1912), “Praias e Várzeas” (1915), “Heróis e Bandidos – Os cangaceiros do Nordeste” (1917), “Ao som da viola” (1921), “O sertão e o mundo” (1923), “Alma sertaneja” (1923), “Através dos folclores” (1927), “Pequeno dicionário popular brasileiro” (1938), “Coração de menino – Memórias” (1939) e “À margem da história do Ceará” (1962).

Luiz Gonzaga (1912-1989)

Instrumentista, compositor e cantor, Luiz Gonzaga é uma das mais importantes figuras da musica popular brasileira, pela inventividade e carisma que conquistou junto ao público de todo o país. Sagrou-se o “Rei do Baião”, ritmo que lançou no início da década de 1940, consolidando o grupo regional com a sanfona, a zabumba e o triângulo. Seu repertório musical passou a identificar a geografia física e humana do Nordeste, dando visibilidade, através da música, aos símbolos, costumes, saberes e obstinação de um povo até então reconhecido apenas pejorativamente pelo fanatismo religioso de seus líderes espirituais e pela violência do cangaço que assolava toda a região. Sua parceria com Zé Dantas e Humberto Teixeira deixou um legado musical que expressa a diversidade dos sentimentos do povo nordestino, ora no enfrentamento do flagelo das secas, como a alegria das festas e da vida no sertão.

Na sua música, destaca-se: “Baião” (Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga – 1946), “Asa-branca” (Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga -1947), “No meu pé de serra” (Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga – 1947), “A dança da moda” (Luiz Gonzaga e Zé Dantas -1950), “Assum-preto” (Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga -1950), “Cintura fina” (Luiz Gonzaga e Zé Dantas – 1950), “Respeita Januário” (Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga -1950), “No Ceará não tem disso, não” (Guio de Morais -1950), “A volta da Asa Branca (Luiz Gonzaga e Zé Dantas – 1950), “O xote das meninas” (Luiz Gonzaga e Zé Dantas -1953), “A feira de Caruaru” (Onildo Almeida – 1957), “Noites brasileiras” (Luiz Gonzaga e Zé Dantas -1954), “A morte do vaqueiro” (Luiz Gonzaga e Nelson Barbalho – 1963) e “A triste partida” (Patativa do Assaré -1964).