Fortaleza, a aniversariante do dia, pela escrita e pelo talento das mulheres
14 de abril de 2025 - 10:49 #Eventos Estruturantes #Fortaleza #XV Bienal Internacional do Livro do Ceará
Escritoras nascidas ou acolhidas. Fortaleza tem capítulos escritos por mulheres que marcam (no passado ou presente) a história da literatura cearense.
Acompanhado de algumas nuvens cinzentas, o sol brilhou cedo na manhã deste domingo, 13 de abril, anunciando que mais um dia começava em Fortaleza. “Traz a luz do sol da luz, Fortaleza dourada”, canta a artista Mona Gadelha na música “Fortaleza ou Nada”, uma composição própria em ode à capital cearense.
Esta, no entanto, não é apenas uma data comum como as outras. Primeiro, a chegada deste domingo marca o último dia da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará, que encerra sua edição após dez dias de um evento rico e plural em atividades culturais e formativas. Com o tema “Das fogueiras ao fogo das palavras — mulheres, resistência e literatura”, a programação aqueceu o Centro de Eventos até nos dias de chuvas.
E entre as tantas efemérides nesses dias de Bienal, os “parabéns” deste domingo, dia 13 de abril, vão para a bela, dinâmica e intensa cidade de Fortaleza, que completa 299 anos desde o seu reconhecimento como Vila. A capital do Ceará é uma das mais importantes do país e se destaca como berço de tantos talentos, entre eles os da arte e da cultura. É uma terra pintada pelo seu artesanato, mas também escrita pelos versos ou prosas da literatura.
Comumente é lembrada por Iracema, a famosa personagem de José de Alencar, ou por “terra alencarina”, também em referência ao autor. Mas as páginas da capital não são preenchidas apenas por palavras de escritores homens, como Alencar. Ela brilha muito nas mãos de mulheres marcantes na história da literatura cearense.
Natércia Campos (1938-2004) que diga. Romancista premiada, que ocupou a cadeira nº 6 da Academia Cearense de Letras, e na Bienal do Livro do Ceará brilhou mais uma vez emprestando seu nome para o espaço que recebeu lançamentos de obras daqueles que dão continuidade ao legado da literatura do estado. Ângela Escudeiro, Marília Lovatel, Patricia Cacau — são apenas três daquelas que passaram e foram acolhidas no espaço com o nome da autora.
Heloneida Studart (1932-2007), além de escritora, construiu uma importante trajetória na política e no movimento feministra brasileiro. No Rio de Janeiro, terra em que faleceu, dá nome a uma honraria entregue no estado fluminense. No Mezanino 2 dos Centros de Eventos, a sala 01 foi batizada com o nome da escritora e recebeu importantes debates, como a mesa redonda “Dormindo com o inimigo, nas ruas e nos relacionamentos”, com Ana Márcia Diógenes e Eveline Araújo.
Se você frequentou em algum momento a Bienal do Livro do Ceará em 2025, ouviu ou leu o nome de Henriqueta Galeno (1887-1964). Escritora, feminista e a primeira mulher a cursar a Faculdade de Direito no Ceará, batizou a arena que recebeu o maior palco da programação, local das cerimônias de abertura e encerramento oficial do evento.
E se vamos falar de espaços da Bienal, é impossível não citar a praça Emília Freitas, que em vida foi autora da primeira histórica de literatura fantástica do Ceará, e hoje é considerada uma das pioneiras do gênero no país. Não, ela não era fortalezense, mas foi abraçada por essa cidade assim como a paulista nina rizzi, uma das curadoras do evento. Com o legado de uma rainha, a praça acolheu tantas outras mulheres que lançavam seus livros, sem nenhum tipo de distinção.
Do passado, Alba Valdez, a primeira mulher a integrar a Academia Cearense de Letras, Telma Tremembé, liderança indígena, Francisca Clotilde, escritora, e a jornalista Adísia Sá foram outras importantes figuras que nasceram em outros municípios do Ceará, mas que tiveram momentos importantes de suas vidas na capital e também nesta edição da Bienal, nominando outros importantes espaços do evento.
Claro, Rachel de Queiroz não poderia deixar de participar deste texto. Um dos maiores nomes difundidos da literatura do estado, batiza uma praça na capital do estado, no bairro Presidente Kennedy, e integrou o movimento modernista cearense ao lado de nomes como Demócrito Rocha.
A Bienal representou bem a potência da escrita feminina, comprovada pelo sucesso da premiada autora contemporânea Socorro Acioli, que esteve na lista de autores mais vendidos da feira de livros com dois títulos: “Oração para desaparecer” e “A cabeça do santo”. A talentosa Ana Miranda, que participou ativamente mais uma vez da Bienal, e Tércia Montenegro, que integrou a mesa “Fortaleza Amada”, são outros nomes a serem citados.
Na verdade, são tantas mulheres que merecem algum tipo de espaço, que não seria possível citar todas aqui. Isabel Costa, Tuyra Andrade, Kinaya Black, Kieza Fran, Lia Sanders, Mestra Mãe Zimá, G.G. Diniz, Argentina Castro, Dani Cardoso, Marluce Barros — elas são apenas algumas citadas por contribuírem com a cidade com sua escrita, sua poesia falada, saberes ou pelo movimento artístico de resistência.
Afinal, esta é a XV Bienal Internacional do Livro do Ceará, um evento que mostra a resistência dessas mulheres a partir de uma curadoria pensada por quatro: Sarah Diva Ipiranga, Trudruá Dorrico, Amara Moira e nina rizzi. A chama da fogueira queima nas palavras de cada uma delas, que ajudam a modelar a história de Fortaleza ou são acolhidas por esta cidade.
São 299 anos que não param de ser escritos, que ganham personagens, escritoras e leitoras — a Ana, a Maria, a Roberta ou a Catarina. A Fortaleza criativa, cultural e que pulsa uma diversidade de vozes e corpos encontrou na Bienal do Livro do Ceará 2025 muitos eixos para se expressar e gritar sua arte e saber. Este é apenas o começo.
XV Bienal Internacional do Livro do Ceará
A Bienal Internacional do Livro do Ceará é uma realização do Ministério da Cultura (MinC) e do Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult), em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM), via Lei Rouanet de Incentivo à Cultura. O evento conta com o patrocínio do Banco do Nordeste, Rede Itaú, Cagece e Cegás.
Serviço:
Bienal Internacional do Livro do Ceará
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público
Programação no site: https://bienaldolivro.cultura.ce.gov.br