Mesa da Curadoria abre com debate sobre literatura contemporânea com Socorro Acioli, Andrea del Fuego e Afonso Cruz

6 de abril de 2025 - 10:00 # #

Com atividades ao longo de toda programação da Bienal do Livro do Ceará, a Mesa da Curadoria traz debates com escritores nacionais e internacionais 


Mesa O que podem as palavras – Narrativas na Contemporaneidade (Foto: Chico Gadelha)

Para aqueles que comparecerem às atividades oferecidas pela Mesa da Curadoria, encontrarão uma fração do olhar atento e do gosto literário das curadoras da XV Bienal Internacional do Livro do Ceará.

O primeiro encontro aconteceu neste sábado, 5 de abril, às 16 horas, durante a mesa “O que podem as palavras? Narrativas na contemporaneidade”. O momento reuniu três importantes nomes do gênero: a cearense Socorro Acioli, o português Afonso Cruz e a paulista Andrea Del Fuego — mediados por Sávio Alencar.

“O que os unem? Muitas coisas. Aquela visão antiga que tínhamos do romance maravilhoso do século XIX foi sendo desconstruída. Hoje temos outro tipo de romance, onde há uma subjetividade diferente, que é do tempo que estamos vivendo. Esses três autores, apesar de cada um ter uma concepção diferente, encarnam, para mim, o narrador contemporâneo que quebrou essas narrativas antigas”, arremata Sarah Diva Ipiranga, uma das curadoras da Bienal.

Durante a mesa, o público que ocupou as cadeiras e o chão da Arena Henriqueta Galeno conheceu a concepção de cada um dos membros desse trio de autores para os romances contemporâneos, as técnicas que usam, autores que acompanham em suas leituras e como eles se descreveriam internamente.

A primeira a falar foi Andrea del Fuego, que compartilhou detalhes sobre as páginas de uma das obras que publicou, “Os Malaquias” (2010). A história, que acompanha três irmãos órfãos, é inspirada na história de familiares da escritora.

Os bisavós da paulista faleceram enquanto dormiam ao serem atingidos por um raio. O trio de irmãos, personagens centrais da narrativa, é inspirado no avô e tio-avós dela. “Tive acesso a isso quando criança. Agora me diz, precisa de imaginação para além da observação desse lugar?”, questionou retoricamente ao responder sobre a imaginação por trás das narrativas dos livros.

Ao adentrar no processo de escrita, Afonso Cruz expressou a opinião sobre algo que é necessário para escrever: a leitura. Para o autor e cineasta português, é “impossível imaginar um escritor que não leu, conseguir escrever um livro”. “É muita sorte. E se conseguir escrever um bom, não consegue um segundo, porque é ganhar na loteria duas vezes seguidas”, afirmou.

A autora da casa, Socorro Acioli, também teve seu momento de fala. Iniciou parabenizando a curadoria do evento e pedindo para a plateia bater palmas como homenagem. A cearense também falou sobre seu processo de escrita, o definindo estar em uma “fronteira duvidosa” ao imaginar suas obras.

Além disso, ela exaltou a riqueza de histórias que o Estado dispõe, facilitando cenários de escrita. “Podíamos criar algum tipo de residência literária aqui, porque é um estado muito fértil. Acho que já está na hora de ter uma boa residência, principalmente para trazer os importados — o pessoal que estiver morando em outra cidade sem conseguir ter ideia. O Ceará é terra fértil para isso”, apontou.

Segunda mesa inicia com apresentação especial de convidadas

A segunda mesa da noite, “O fogo e a água: palavras em travessia”, iniciou às 20 horas de forma diferenciada. Ao invés da mediadora Suene Honorato ler o currículo das convidadas, a cordelista indígena Auritha Tabajara e a escritora Luiza Romão, elas se apresentaram de forma especial.

Auritha foi a primeira a subir ao palco, declamando os versos rimados de um cordel. “Licença meus ancestrais para nesse palco pisar/ traz ervas verdes da mata para esse povo curar/ Dai a nós sabedoria/ Seja nossa maestria/ No toque do maracá”, iniciou. “Sou Auritha Tabajara/ nascida longe da praia/ fascinada pela rima/ e melodia da jandaia”, se introduziu.

Em seguida, foi a vez de Luiza Romão, que já havia se apresentado na solenidade de abertura do evento na sexta-feira, 4, com o show “Também Guardamos Pedras Aqui”. Levando mais uma vez o slam para a arena Henriqueta Galeno, a poeta enalteceu o tema da Bienal e levou a plateia a repetir os versos com ela.

“Tem palavra que pede um pedaço da gente que diz: Das fogueiras ao fogo das palavras. Das fogueiras ao fogo das palavras. Porque tem palavra que pode um pedaço da gente que diz: encontro”, entoou com o público.

Durante os minutos que se estenderam com as poetas, a professora Suene Honorato guiou a mesa pela trajetória e ligação das duas mulheres com a literatura, a oralidade — mantendo um debate descontraído mas com frases que enalteciam a importância do ativismo indígena e feminista.

Confira programação da Mesa da Curadoria nos próximos dias

A programação da Mesa da Curadoria se estende pelos próximos dias da Bienal do Livro do Ceará, encerrando apenas no domingo, 13 de abril. As temáticas exploradas são diversas, abordando negritude, ativismo e educação.

Para este domingo, 5, a primeira mesa, “Negritude e Masculinidade: Ficção Brasileira”, inicia às 18 horas na arena Henriqueta Galeno, trazendo como convidados Airton Souza e Jeferson Tenório sob mediação de Rômulo Silva. Em seguida, às 20 horas, a mediadora Sara Síntique guia Aline Bei, Geni Nuñez e Luiza Romão pela “Às margens do cânone: A palavra que dança”.

As outras atividades que acontecerão dentro da programação podem ser acessadas no site oficial, que mostra horários e local em que serão realizadas as mesas.

Serviço:

Bienal Internacional do Livro do Ceará 
Quando: 4 a 13 de abril, das 9h às 22h
Onde: Centro de Eventos do Ceará – Avenida Washington Soares
Gratuito e aberto ao público