25 de março — Memória, Luta e Re-Existência – Dia de enfatizar a importância do protagonismo negro e quilombola do Estado do Ceará

24 de março de 2025 - 15:32

>> LUTA

Mais que uma capacidade de recusa, a luta só pode ser coletiva visando, sobretudo, mudar a ordem das coisas não de forma espontaneísta, mas organizada e consciente. As políticas afirmativas no Brasil são resultados e conquistas das diferentes frentes de lutas ao longo dos últimos séculos.

Cartilha “A implementação das Cotas Raciais e o procedimento de heteroidentificação” Secult Ceará.

>> MEMÓRIA

Arquivos materiais ou imateriais sempre sob rasura passíveis de reedição. A memória de um povo ou comunidade pode ser acessada por meio das tradições orais, rituais e suas performances cotidianas. Em outras palavras, a memória se materializa não somente nos arquivos oficiais dos museus ou dos livros acadêmicos, por exemplo, mas se presentifica nos modos de ser e estar no mundo, nas histórias, lendas e crenças que perduram (embora também situada) para além do tempo e do espaço. A memória é como um rastro, um vestígio de afetos e ensinamentos (signos) que nos convocam para o autorreconhecimento enquanto povo e comunidade, logo, nossas lutas e formas de ser, estar e se relacionar com o mundo.

Cartilha “A implementação das Cotas Raciais e o procedimento de heteroidentificação” Secult Ceará.

>> (RE)EXISTÊNCIA

A luta pela vida é também a luta pela memória de um povo. Sem memória não há pelo que lutar e sem luta não há insistência e teimosia pela vida. (Re)existir é inventar, fabular a existência a partir de onde estão fincados os nossos pés, nossa história e tradição como força germinativa da própria vida. É necessário (re)existir para inventar outras possibilidades de existir como ser-potência.

Cartilha “A implementação das Cotas Raciais e o procedimento de heteroidentificação” Secult Ceará.


Na oralidade, na luta, nos costumes, nos saberes, na memória, na escrevivência e na re-existência, a população negra e quilombola seguem carregando a força dos seus ancestrais, da sua religiosidade, potencialidade e CULTURA.

O estado do Ceará, pioneiro em decretar o fim da escravização em 1884, por muito tempo manteve (e ainda mantém) idealizações, protagonismos e histórias narradas por pessoas brancas sobre esse ato, contudo, com a isenção das narrativas de pessoas negras cearenses que estiveram à frente de cada movimento de luta pela liberdade – como por exemplo através da greve do jangadeiros, das festas de rei do Congo e outras manifestações de re-existência, memória e luta de um povo vivendo o cotidiano da época e atual.

O  jangadeiro Francisco José do Nascimento, conhecido como Dragão do Mar ou Chico da Matilde, a Ana Sousa e a Preta Tia Simoa, são protagonistas essenciais desta data que marca os 141 anos da Abolição da Escravização no Ceará. 

É importante desvincular o estigma violento e colonial do período da escravização em  nossas múltiplas identidades negras e quilombolas desconstruindo, inclusive, narrativas de que o Ceará não tem pessoas negras e remanescentes! 

O Censo Demográfico (2022), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ressalta que mais de 55% da população brasileira e da população cearense são formadas por pessoas que se autodeclaram negras-pretas e negras-pardas (cartilha “A implementação das Cotas Raciais e o procedimento de heteroidentificação” Secult Ceará).

Neste importante dia, celebramos o Ceará Negro. A luta dos que vieram antes e reforçamos a luta contínua dos que seguem. Sabemos do que já foi feito, mas ainda há muito a se conquistar como sujeitos de DIREITOS.