- Biblioteca Pública Estadual do Ceará
- Estação das Artes Belchior
- Kuya - Centro de Design do Ceará
- Museu da Imagem e do Som do Ceará
- Museu Ferroviário Estação João Felipe
- Pinacoteca do Ceará
- Theatro José de Alencar
Aos 94 anos, Estelinha Bezerra, a ‘Rainha do Batom’, conhece espaços culturais do Ceará e convoca turma da ‘melhor idade’ a ter lazer pela arte
4 de outubro de 2024 - 15:47
Sucesso nas redes sociais, cearense conheceu alguns espaços da Rece e participou de vivências culturais imersivas. A Secult reforça a importância de programações acessíveis para um envelhecimento mais ativo, saudável e digno da população cearense
Jaguaribana é inpiração para todas as faixas etárias Foto: Jeny Sousa
“Eu sem batom não sou ninguém!”. É com esse lema que uma jaguaribana de 94 anos segue conquistando meio mundo de admiradores nas redes sociais. Mãe de 17 filhos, avó de 28 netos, bisavó de 20 bisnetos e tataravó de uma menina, Estelinha Bezerra é sinônimo de alegria e vida por compartilhar sonhos e suas aventuras diárias.
A “Rainha do Batom” ultrapassou a marca dos 630 mil seguidores só no Instagram. Falando da vida cotidiana, família, relacionamentos e beleza (especialmente batom e perfume), seus conteúdos inspiram autoestima, autoconhecimento, autoaceitação e o autocuidado.
A mais nova peripécia da influenciadora digital foi no Ceará. Sim, a nonagenária voltou à terra natal para uma rica temporada de passeios e contato direto com fãs. A programação da viagem incluiu uma série de atrações culturais. Sempre na companhia do filho, Josafá Vilarouca, a “Rainha do Batom” partiu no rumo de descobrir os atrativos dos espaços públicos culturais mantidos pelo Governo do Ceará.
Esse reencontro com as origens marca a descoberta de um novo Ceará. Hoje, conta Estelinha, o estado é bem diferente daquele que conhecia em 1979, ano no qual se desafiou a migrar com marido e todos os filhos para São Paulo (onde reside). O roteiro inclui um mergulho no Museu da Imagem e do Som (Mis-CE), Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), Estação das Artes, Kuya Design, Museu Ferroviário, Pinacoteca do Ceará e Theatro José de Alencar.
“Quem for da minha idade, ou menos, ou mais, temos que aprender é vivendo, olhando e conversando. Cultura é o conhecimento. É vermos as coisas! É ter acesso a tudo. Isso é muito bom e pretendo conhecer mais ainda”, faz questão de anunciar Estelinha Bezerra.
Rainha do Batom e a cultura
“Dona Estelinha! Sou sua fã, posso tirar uma foto”, chega uma seguidora. É assim em qualquer lugar. Por onde passa, a Rainha do Batom é sinônimo de carinho. E quem segue as aventuras de Estelinha aproveita de perto a oportunidade para conversar ou saber de alguma curiosidade. Tudo termina no maior dos sorrisos e com aquela sensação de estar perto de uma “mãezona”.
O recado da cearense é papo reto. Não existe essa de ficar perdendo tempo em casa. É virar a chave e curtir outras ideias. Descobrir e respirar novidades que só tragam sentimentos bons. Nesse sentido, a produtora de conteúdo utiliza a tecnologia a seu favor. Celular e rede social não é lugar para ficar arrumando arrenga. Sabe aquela coisa de “Tia do Zap?”. Estelinha tá fora.
Estamos diante de uma lutadora que testemunhou inúmeros percalços. Venceu a infância pobre, a luta para criar os filhos e questões de saúde. Por muito pouco, a cearense não perdeu a voz para sempre.
“Voltei para casa depois de uma intervenção muito delicada. Em julho de 2023, voltei à UTI com uma embolia pulmonar cuja única opção de tratamento tinha um altíssimo risco. O que fiz? Arrisquei e optei por viver”, compartilha.
Na companhia do filho, Josafá Vilarouca, Estelinha participa de um momento especial com fãs cearenses na Estação das Artes Foto: Jeny Sousa
A fama nas redes sociais lhe rendeu notoriedade nacional, com participações em publicações das mídias impressa, digital e televisiva, de repercussão nacional, como o Domingão do Huck, que lhe ofereceu uma viagem de cruzeiro para Búzios e Angra, no Rio de Janeiro.
Em julho, Estelinha e Josafá saíram de São Paulo, onde residem, e vieram para João Pessoa passar uma temporada de férias. Em seguida, o sol da capital cearense voltou a estar nos horizontes da Rainha.
“O que tenho a dizer é que encontrei muita coisa favorável para minha vida, para a idade que estou, para ter um aproveitamento e conhecimento na vida. Eu não tinha, mas agora estou conhecendo coisas que nunca vi. As pessoas todas me recebendo bem, me abraçando. Estou muito contente com meu Ceará, pois aqui é minha terra”.
Tecnologia no MIS
Segundo Estelinha Bezerra, a pessoa idosa deve estar onde ela quer e com as condições de acesso garantidas. Isso significa respirar e consumir cultura. Também pensar e fazer arte. Ocupar plateias e também estar nos palcos. O Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS-CE) é a primeira parada nessa “turnê” pelos equipamentos dedicados a cultura.
Naquela tarde, a exposição “Aves do Ceará” era destaque na programação. A projeção e os efeitos sonoros envolvidos na Sala Imersiva a faz relembrar a Jaguaribe da infância. Os pássaros e a natureza. A lida na roça e as brincadeiras com as irmãs. Toda aquela tecnologia de ponta resulta em uma experiência inédita.
“Ela conseguiu manter o brilho da vida acesso, mesmo tendo tudo para ser uma mulher apagada”, conta orgulhoso, Josafá Vilarouca Foto: Jeny Sousa
Estelinha aproveita e divide aquele momento com os fãs ao vivo pelo celular. Divide com Josafá todo aquele território de descobertas. Logo após comentar sobre o quanto estava gostando da visita, a Rainha do Batom é cercada por um grupo de estudantes do ensino médio. Os jovens estavam no MIS para um trabalho escolar e decidiram entrevistar Estelinha. Além de uma animada resenha e história para contar em sala de aula, a nota da tarefa estava encaminhada.
Conhecimento é na Bece
O próximo destino é a Biblioteca Pública do Ceará (Bece), espaço da Secult Ceará gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM). Durante a subida da rampa, destinada a pessoas cadeirantes, a ilustre cearense é reconhecida por uma fã que também visitava o espaço. “Minha gente, é a Dona Estelinha?”.
Criada em 25 de março de 1867, a Bece é a primeira instituição cultural criada pelo Ceará e a sétima biblioteca mais antiga do País. O edifício sede, construído em 1975, é referência da arquitetura modernista cearense. Reinaugurada em agosto de 2001 com novas instalações, a Bece dispõe de vários serviços e intensa programação cultural nos eixos “Acervo, pesquisa e conhecimento”, “Difusão e Fruição Cultural” e “Formação”.
Dentre as atividades mensais, está o clube de leitura “Meu Tempo é Agora”, que reúne pessoas com mais de 50 anos. Cada participante, se possível, deve trazer o livro e ler um trechinho com o grupo, garantindo um encontro dinâmico e acessível para quem chega. Os encontros partem dos temas “O que você está lendo agora?” e “Qual um livro marcante para você?”.
Estelinha Bezerra observa a exposição “Jornal Cearense Impresso: dois séculos de atos, fatos e resistências” Foto: Jeny Sousa
Estelinha explica que só teve um mês e 19 dias de estudo formal. Estar na Biblioteca reserva um profundo significado. Aos 94 anos é possível estar entre aqueles livros, visitar a hemeroteca e saber as notícias do período em que nasceu. Foi oportunidade para ler cordel e descobrir livros raros em exposição.
No setor “Leitura Acessível”, Estelinha conheceu um livro todo escrito em Braile. Foi possível saber um pouco mais desse importante sistema de escrita e leitura tátil. A bibliotecária Noemy Santos participou desse processo de dividir aquele conhecimento.
O primeiro dia de passeio pela Rede Pública de Equipamentos Culturais do Ceará (Rece) é só a alegria, mas a Rainha do Batom avisa que tem horário marcado no Salão de Beleza e precisar ir. Afinal, o encontro com as fãs cearenses, marcado para acontecer no Complexo Estação da Artes, se aproxima.
É festa na Estação da Artes
A Estação das Artes nasceu como equipamento cultural da Secult Ceará, gerido em parceria com o Instituto Mirante, após a modernização e a restauração da antiga Estação Ferroviária João Felipe. A partir de então, ela vem colaborando no processo de reestruturação urbana do Centro da capital cearense, com inúmeros benefícios e ofertas de lazer gratuito para a população, além da importante intervenção social e econômica para a região.
Neste cenário encantador, a Rainha do Batom participou de um encontro especial com fãs conterrâneos. Mais de 60 pessoas esperavam pela estrela de 94 anos. A tarde mágica começou com apresentação musical do Coral Secult Bece no auditório da Kuya – Centro de Design do Ceará e continuou com muito forró na Estação das Artes.
Estelinha tinha 49 anos quando ganhou o primeiro presente da vida: um batom Foto: Jeny Sousa
Entre as presentes está Joana Darc. Nascida em Orós, a entrevistada destaca ser a primeira vez em que visita o Complexo Estação das Artes. Vim aqui conhecer esse lugar maravilhoso e fazer uma homenagem a Dona Estelinha. Estou encantada com o local. Tudo é lindo, espaçoso e acessível para todas as pessoas”, descreve.
“É uma satisfação enorme participar desse momento ímpar”, divide Rejane Almeida. A alegria de presenciar toda a energia de Estelinha foi garantida. Toda a acessibilidade do espaço público garantiu o encontro dos fãs. Me surpreendi com esse espaço tão belo e organizado”, contou.
Uma tarde na Pinacoteca do Ceará e Museu Ferroviário
É uma sexta-feira de sol tinindo e nada desanima Dona Estelinha. Agora, o olhar e curiosidade da nonagenária estão focados na Pinacoteca do Ceará. Logo na entrada, a arte-educadora Andrea Dalveroni, que trabalha no equipamento, se prontifica a ajudar no passeio pela exposição “Claudia Andujar. Minha vida em dois mundos”.
Com cerca de 200 fotografias, a mostra celebra uma das fotógrafas mais celebradas da arte contemporânea. Estelinha fica feliz ao saber que tem idade parecida com a da artista nascida em 1931. Ao lado do filho Josafá e da cuidadora Maria Isabel, a cearense percorre diferentes fases no trabalho da suíça naturalizada brasileira.
Imagens de várias realidades do Brasil durante a tarde na Pinacoteca do Ceará Foto: Jeny Sousa
As imagens abordam a realidade do povo Yanomami, a migração nordestina e a dinâmica de metrópoles brasileiras. São Paulo, um dos lugares retratados pela fotógrafa, é justamente a cidade escolhida pela cearense para poder criar os filhos. Nascida em Jaguaribe, Estelinha passou por Orós com a família e fez morada em Fortaleza no ano de 1970. Nove anos depois, decidiu partir e cuidar das crias na Terra da Garoa.
A etapa seguinte foi percorrer as exposições do Museu Ferroviário Estação João Felipe. O trem também atravessa a história vivida por Estelinha. Remete às memórias de Orós. Lembra de quando plantava algodão e ativou um passeio nostálgico que acompanha os trilhos do tempo.
Brilhando no Theatro José de Alencar
No Centro de Fortaleza, Estelinha conheceu o Theatro José de Alencar. Aquela história secular foi contada com auxílio do arte-educador Lucas Timbó. Foi momento de espraiar os ares no jardim projetado por Burle Marx. A curiosidade da visitante ampliou-se ao estar pertinho do palco.
Nesse momento de emoção, Estelinha fez questão de ficar na altura do palco e admirar aquele lugar por onde tantos nomes da cultura brasileira passaram. Aquele cenário foi ideal para mais uma transmissão para os seguidores. “Senti a sensação de uma nova vida e o idoso tem que conhecer e viver” defendeu a influenciadora.
“Nós, idosos, precisamos trocar ideias, conhecer culturas. Temos que aproveitar tudo. Os idosos precisam conhecer bastante da cultura. A cultura pode nos ajudar a seguir a vida para a frente, ensina Estelinha Bezerra.
Encontro com a magia do Theatro José de Alencar Foto: Jeny Sousa
É final de tarde e a cearense sucesso nas redes sociais deixa o famoso Theatro José de Alencar guardado no coração. Agora, é tempo de ir adiante. Antes de seguir com a programação das férias, ela deixa o recado carinhoso.
“Quando for por lá para São Paulo, pode ficar em minha casa”, faz questão de avisar a cearense. Após essa despedida com sabor de até logo, a “Rainha do Batom” toca a jornada em busca de uma próxima história para viver, compartilhar e inspirar. E você? Que tal seguir o exemplo de Estelinha e aproveitar os bons momentos que a vida reserva?
Secult Ceará trabalha o direito cultural da pessoa idosa
Ao longo dos últimos anos, a Secretaria da Cultura do Ceará tem investido sistematicamente na implementação de políticas públicas e realizado um conjunto de ações estratégicas que buscam assegurar o direito cultural da pessoa idosa e a transversalidade da cultura do acesso.
Para apoiar e estimular essa agenda, a Secult criou um grupo de trabalho permanente que orienta os equipamentos que integram a Rede Pública de Espaços Culturais do Ceará (Rece) a implementar, mensalmente, programações inclusivas com atividades imersivas na sua rede de museus, além de peças teatrais, clubes de leitura, visitas especiais, shows musicais, dentre outras iniciativas, garantindo que a população idosa e pessoas com mobilidade reduzida ou deficiência, também tenham participação ativa na vida cultural do estado.
A Secult reafirma o comprometimento de promover a acessibilidade cultural e inclusão, além do esforço contínuo em transformar os espaços culturais em ambientes acolhedores para todos os públicos. Neste sentido, a secretaria também investe na valorização e qualificação do seu quadro de pessoal, com formações específicas que resguardam o bom acolhimento para todos os públicos.
Estelinha e a diretora do Museu Ferroviário, Cristina Holanda Foto: Jeny Sousa
Como forma de incluir e ampliar o acesso integrado para todas as pessoas, o Governo do Ceará investiu na modernização de alguns prédios e espaços de cultura do estado, com reformas em suas infraestruturas que contemplam a instalação de rampas, mobiliários acessíveis e áreas adaptadas, garantindo que todos os cidadãos possam desfrutar do patrimônio cultural. Essas intervenções ajudam a promover os direitos de toda a sociedade e a estimular a sua efetiva participação como agentes pertencentes e fazedores do universo cultural.
“Tornar os espaços acessíveis é uma pauta urgente e precisa existir em todos os setores, principalmente, no campo da cultura. Precisamos fortalecer o protagonismo e dar visibilidade a esse setor produzido por pessoas com redução de mobilidade e aquelas com deficiência, que acolhem a diversidade em seu sentido mais amplo”, pontuou a secretária da Cultura do Ceará, Luisa Cela.