Mercado AlimentaCE se consolida como espaço de pesquisa e aprendizado dos aromas, sabores e tradições da culinária cearense

8 de janeiro de 2024 - 17:43

Durante o XV Encontro Mestres do Mundo, realizado em dezembro no Cariri, o equipamento cultural realizou uma série de atividades gastronômicas que resgataram pratos da alimentação popular

Atividade do Mercado AlimentaCE debate a cultura alimentar nas escolas Foto: Jeny Sousa

Fazeres que traduzem as inúmeras tradições presentes nos lares dos cearenses. Identificar, conhecer e divulgar estes sabores. Adentrar manufaturas e conhecimentos populares que fervem nas panelas. O Mercado AlimentaCE é este espaço para vivenciar o chamado “Ceará de comer”.

Em março de 2024, o equipamento da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido em parceria com o Instituto Mirante de Arte e Cultura, completa dois anos de atividade. É um dos cinco espaços que compõem o Complexo Cultural Estação das Artes, em Fortaleza, território de experimentação, aprendizado acerca dos alimentos cearenses de qualidade, que contam as vivências e trajetórias de toda a cadeia produtiva local.

Nos primeiros 12 meses de atividade, o Mercado AlimentaCE realizou mais de 80 ações na capital e outras 47 em outros municípios, alcançando mais de 36 mil pessoas, entre produtores de alimentos, agricultores, cooperativas, comunidades tradicionais, empreendedores locais da gastronomia e o público geral.

O equipamento tem como uma de suas principais ações a pesquisa de cultura alimentar existente no interior do Ceará. Em 2023, foram realizadas mais de 60 feiras, 15 curadorias afetivas, 10 festivais gastronômicos e 77 atendimentos a produtores cearenses. Dois mil km foram percorridos por meio das ações itinerantes.

Em dezembro último, esta importante missão ganhou novo capítulo com a participação do Mercado AlimentaCE no XV Encontro Mestres do Mundo. Realizado pelo Governo do Ceará, por meio da Secult e Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo e em parceria com o Instituto Mirante de Arte e Cultura, esta edição comemorou 20 anos da política dos Tesouros Vivos do Ceará.

Delícias deste Ceará

Durante o Encontro Mestres do Mundo, visitamos a procurada e movimentada “Cozinha Rita e Zenilda”. Especialmente construída para o evento, o espaço temático homenageia as duas mestras que salvaguardam a culinária regional. Aulas-show gastronômicas, rodas de conversa, exibição de documentário e espaço expositivo de produtos de origem cearense fizeram parte do estande do Mercado.

“A vocação do Mercado é falar, difundir a cultura alimentar do Ceará. A partir disso, trouxemos uma programação combinada com educativo e o lúdico”, contextualiza a diretora do Mercado AlimentaCE, Marina Araujo.

Montada vizinha à cozinha, a “casa das guardiãs” é este espaço de imersão aos visitantes. Quem se chega conhece uma réplica das residências do interior, com todos os detalhes de decoração, móveis e utensílios. Potes de barro, a cadeira preguiçosa, fotos pintadas dos familiares. Tem também o banco de sementes, originárias de várias regiões do estado, que explica como estes conhecimentos culinários são perpetuados.

Momento de degustação na “Cozinha Rita e Zenilda” Foto: Jeny Sousa

Além de permitir esta interação sensorial, o ambiente também traz exibição do documentário “Guardiãs: protegendo o tesouro alimentar do Ceará”, produção audiovisual do Mercado AlimentaCE que conta as histórias de Conceição Silva, Lúcia de Castro, Socorro Fernandes e Maria Luísa, protagonistas que preservam, por meio de diferentes práticas e processos, as memórias alimentares de três territórios cearenses.

“Estar no Encontro dos Mestres é saber deste ambiente onde a oralidade é respeitada e realmente propagada. É muito bom estarmos sendo reconhecidos por este momento e integrando a mensagem de que a cultura alimentar precisa ser valorizada”, completa Marina Araújo.

Um show de cozinha

A rotina é preparar as panelas, organizar os ingredientes e insumos. É também de equalizar o microfone para cada aula show. Diariamente, durante o evento, foram realizadas duas apresentações ao vivo. Em cada sessão, convidados dividiam os conhecimentos acerca das iguarias ali demonstradas.

Foram ensinados pratos como torta de caju, baião de todos, baião de xerém, pequizada com legumes, doce espécie, entre outras delícias. Além de presenciar o preparo destas receitas, conhecendo cada detalhe da história, da importância dos alimentos à cultura tradicional de várias regiões do estado, os visitantes podem degustar cada prato cozinhado durante as aulas show. E teve fila de gente procurando estes sabores, para muitos, até então desconhecidos.

“Ao trazer essa mensagem para outros mestres, valorizamos a figura das únicas duas mestras da cultura alimentar cearense. Temos obrigação de elevar o nome delas, de exaltar elas e seu processo de trabalho. O que elas fazem é muito precioso”, descreve a diretora Marina Araujo.

Aula show “De comer o Cariri – Baião de Xerém do povo Kariri Poço Dantas-Umari” reuniu a professora Indra Nunes e a Pajé Rosa Cariri Foto: Jeny Sousa

A homenagem permite aos visitantes conhecerem a sabedoria destas cearenses. Mestra Dona Zenilda, de Assaré, produz linguiça artesanalmente. O ofício foi aprendido com a mãe e faz parte de sua família há mais de 100 anos. Já Mestra Rita de Cássia é mestra doceira em Sobral, reconhecida pela receita de um prato tradicional. Trata-se do fartes, o primeiro doce a chegar no Brasil. Iguaria secular trazida pela frota de Pedro Álvares Cabral.

O XV Encontro Mestres do Mundo foi realizado entre os dias 7 e 10 de dezembro. Inaugurando sua participação nesta iniciativa, o Mercado AlimentaCE realizou roda de conversa com o tema “Cultura Alimentar e Alimentação Escolar”.

A aula “Comer a Chapada – Pequizada com Legumes” trouxe participação do chef Joaquim Alencar. As atividades continuaram com o “doce espécie”, confeccionado pela doceira cratense Dona Iara Duarte. Já “De comer o Cariri – Baião de Xerém do povo Kariri Poço Dantas-Umari” trouxe a professora Indra Nunes e a Pajé Rosa Cariri.

As aulas prosseguiram abordando a linguiça de porco com especiarias (com Marina Araújo) e “torta de caju”, com a confeiteira Monalisa de Figueiredo.“Todas as preparações foram feitas por pessoas e ingredientes da região. Esse momento, além de festivo, pode ser educativo. Trazer a mensagem de que a cultura alimentar deve ser propagada como qualquer outra manifestação”, finaliza Marina.