Nota de Pesar – Pajé Barbosa Pitaguary
8 de dezembro de 2022 - 17:01
Fotos: Iago Barreto
Nosso querido Pajé Barbosa, líder espiritual do Povo Pitaguary, fez a sua passagem para o mundo dos encantados nesta quinta-feira, dia 8 de dezembro de 2022. É momento de exaltar seu legado e relembrar as suas revoadas e sabedorias, agradecer as passarinhadas e a natureza pela sua existência: “A dança dos passarinhos todo mundo vai cantar, a dança dos passarinhos todo mundo vai dançar”. Ainda em vida, em novembro, a Secult Ceará, por meio do “Tesouros Vivos da Cultura” do Estado do Ceará – 2022, apresentou o resultado do edital reconhecendo, em primeiro lugar, o Pajé Barbosa como novo “Mestre da Cultura do Ceará”, uma alegria infinita, merecida. O velório deve acontecer, na noite da quinta-feira e durante a sexta-feira, na escola Escola Indígena Ita-Ara, na Terra Pitaguary, aldeia Monguba em Pacatuba, e o sepultamento será realizado no dia 10 às 9h no Cemitério Jardim do Éden.
“O pajé Barbosa é um guardião das cosmovisões do povo Pitaguary e dos povos indígenas do Ceará e do Brasil. Um senhor detentor dos segredos das matas, das folhas e plantas medicinais com a força espiritual da ancestralidade e da sabedoria de seu povo. Para além dessa dimensão espiritual e do conhecimento, o pajé Barbosa foi também uma liderança política que mobilizava e inspirava a luta dos povos indígenas do Ceará e do Brasil. No último edital dos Tesouros Vivos da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, o mestre pajé Barbosa foi classificado em primeiro lugar como mestre da Cultura. Dia 19 de dezembro a governadora Izolda Cela vai certificar os novos mestres e mestras da cultura. Faremos uma bela homenagem e daremos o certificado in memorian ao Pajé Barbosa. Então, viva o Pajé Barbosa Pitaguary, Mestre da Cultura do Ceará! Porque seus saberes e fazeres seguirão brotando e cultivando no seu povo e entre nós”, enfatiza Fabiano Piúba, secretário de Cultura do Estado do Ceará.
Uma outra lembrança bonita foi na abertura da Exposição “Museu Indígena Pitaguary”, em 2017, no Sobrado Dr José Lourenço, quando foi possível sentar e escutar o universo todo sendo poesia na fala de Barbosa. Com muita generosidade, ele sempre trazia, na oralidade e no corpo, conversas sobre a resistência indígena no Ceará, a espiritualidade e a natureza. Barbosa era floresta, era água correndo, era terra semeada que tanto germinou e segue vivo em cada um, cada uma que traz emoções e recordações dele no coração.
Pajé Barbosa
Raimundo Carlos da Silva, conhecido como Pajé Barbosa, nasceu em 17 de janeiro de 1967 e desde criança esteve ligado a uma rede de amigos e parentes, aprendendo sobre a história dos seus antepassados. Estes encontros eram, muitas vezes, realizados ao som de um instrumento típico da época e daqueles habitantes, o berimbau de colher. O sogro de Barbosa era mestre desse instrumento, já seu bisavô era mestre de rabeca, sendo instrumentos centrais do que antigamente era conhecido pelos indígenas como “forró de berimbau”, específico da região da serra da Monguba e do Pitaguary.
Durante sua infância e juventude, Pajé Barbosa ajudava seus avós nos processos de cura por plantas e por rezas – mais especificamente, nas artes das raizeiras, das carimbeiras e das curandeiras. As curas podiam ser tanto na esfera das plantas medicinais como na esfera espiritual. Essa sua aproximação com a espiritualidade, principalmente com a umbanda, o fez aprofundar esse conhecimento quando se tornou pajé.
Como Pajé, teve grande importância devido sua contribuição no campo da saúde mental, através do uso e manipulação da Jurema, que auxiliava nos processos de cura e alívio do sofrimento. Além disso, ele também se destacava por sua atuação política, ajudando os que ainda não tinham conhecimento sobre os acordos e compromissos firmados com órgãos federais sobre as questões indígenas, e sendo um dos principais mediadores políticos do seu povo.
A Secult Ceará se solidariza com os parentes Pitaguary e com os povos indígenas do Ceará neste momento difícil e agradece a vida, o legado e a beleza de Pajé Barbosa. Que a encantaria o receba com luz e afeto. Viva Pajé Barbosa!
Secult Ceará, dia 8 de dezembro de 2022