bell hooks e Nina Rizzi trazem positividade e aceitação para crianças e também para os adultos
20 de novembro de 2022 - 15:10

Nina Rizzi
bell hooks e Nina Rizzi trazem positividade e aceitação para crianças e também para os adultos
Os lançamentos de “A pele que eu tenho”, de bell hooks, e “A melhor mãe do mundo”, de Nina Rizzi, foram oportunidade pra falar de mensagens positivas para a juventude negra
Hoje é 20 de Novembro, dia do encerramento da 14ª Bienal Internacional do Livro do Ceará e também Dia da Consciência Negra. O dia, proposto pelo movimento negro com base no suposto dia da morte do líder quilombola Zumbi dos Palmares, é um dia que marca a luta do povo negro por sua liberdade, seja de Zumbi contra o sistema escravista, seja nos tempos modernos em uma sociedade ainda racista. A Bienal do Livro, com seu tema “De toda gente para todo mundo”, também tem por objetivo se inserir nessa luta, trazendo para os seus vários palcos a oportunidade de discussão sobre as raízes e os direitos do preto.
Com base nessa diretriz do evento, no último dia 17, às 20h, a Praça Gilmar de Carvalho foi palco de um lançamento de livros peculiar. Eram dois livros sendo lançados no evento, “A pele que eu tenho”, pela Editora Boitempo, e “A melhor mãe do mundo”, pela Cia. das Letrinhas. Para falar sobre os livros, estava a tradutora do primeiro e autora do segundo, Nina Rizzi, historiadora, poeta e tradutora, que – ao invés de focar a conversa, principalmente, em si mesma, no seu trabalho e na sua percepção – trouxe para o centro da conversa a escritora original de “A pele que eu tenho”: bell hooks, a renomada professora, autora, teórica e ativista feminista e antiracista.
Apesar de um currículo robusto e um ponto de proeminência nos campos em que dedicou sua vida, seria um engano supor que a escrita de hooks é difícil, opaca, como é a imagem que temos de textos acadêmicos. Nina destaca que a autora estadunidense era uma leitora ávida de Paulo Freire e trazia muito dos pensamentos do brasileiro para sua própria escrita. “Ela acreditava na educação por amor, educação a partir da realidade das pessoas, por isso ela trabalhou também com livros infantis”
“A pele que eu tenho” é um desses livros infantis, o terceiro escrito pela bell hooks a ser publicado no Brasil pela Boitempo com tradução de Nina. Assim como seus antecedentes, “Meu crespo é de rainha” e “Minha dança tem história”, o livro trata de elementos da cultura e do corpo negro que, por vezes, as crianças negras têm dificuldade de aceitar como parte de si, devido ao forte racismo da sociedade. A tradutora destaca que os livros de hooks trazem sempre uma mensagem positiva, são repletos de imagens felizes (todas produzidas pelo ilustrador Chris Raschka), sem sinais de sofrimento infantil, para que as crianças se sintam convidadas.
Mas não foi só o público infantil que se sentiu convidado pelos pensamentos de hooks, conforme traduzidos por Nina. Próximo do final da conversa, num momento mais livre do evento, algumas mulheres na platéia tomaram a iniciativa de contar suas experiências de vida. Uma delas, Lina, contou sobre seu processo de começar a aceitar seu cabelo crespo apenas na vida adulta, com a ajuda de sua filha: “ela já estava em grupos de leitura, e me levou para o Literatura Empoderada, que é lá na livraria Lamarca. E foi num período onde eu estava perdendo muito meu cabelo, e a minha filha dizia: “mãe, vamos parar com esse alisamento, vamos fazer uma transição capilar”, e eu dizia: “filha, eu há quinze anos não me conheço mais com cachos”. E aí, eu comecei a ler alguns textos da bell hooks e comecei a me aceitar.”
É essa aceitação que os textos de hooks são capazes de propiciar, e é essa mesma aceitação que traz o livro escrito por Nina Rizzi, o outro livro lançado na noite, “A melhor mãe do mundo”. A autora explica que “a criança narradora desse livro, a sua mãe não está nas melhores condições, por algum motivo ela está ausente. E essa criança é muito positiva, e ela diz que sua mãe é a melhor mãe do mundo. É um livro positivo, como todos os livros da bell. Embora a criança esteja numa situação de vulnerabilidade, o livro não apaga isso, mas existe a positividade. Eu acho que essa foi a coisa que eu mais busquei da bell hooks, a coisa da positividade, que é algo muito da criança mesmo.”
Em sua 14ª edição, a Bienal Internacional do Livro do Ceará acontece de 11 a 20 de novembro de 2022 no Centro de Eventos do Ceará. Apresentada pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura e do Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura (IDM), o evento acontece em parceria com a Secretaria de Educação do Ceará (Seduc), Secretaria de Turismo do Ceará (Setur), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece), Programa Mais Infância, Universidade Estadual do Ceará, Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Ceará, a Câmara Cearense de Livro e o Sindilivros CE. O apoio é da RPS Eventos, Sesc Senac, Banco do Nordeste Cultural, Universidade de Fortaleza, Unilab, Universitária FM, TV Ceará, Jornal O Povo/Vida e Arte, Fundação Demócrito Rocha, Pixels Educação Tecnológica, Instituto Juventude Inovação, Secretaria Municipal de Educação e Prefeitura de Fortaleza.