Da periferia ao Nordeste na Bienal do Livro do Ceará

13 de novembro de 2022 - 22:20 # #

A primeira mesa da curadoria deste sábado (12) teve o escritor Geovani Martins, que trouxe como tema “Todos os caminhos levam à periferia”, seguido pela poetisa Cida Pedrosa, que falou sobre a poesia produzida no Nordeste. (Foto: Beto Skeff)

 

Se a felicidade só pode ser uma construção coletiva, segundo a poetisa Cida Pedrosa, a verdadeira mudança no Brasil só irá ocorrer com o reconhecimento da favela como potência de arte, conforme Geovani Martins. Os escritores debateram sobre a escrita como ato político na mesa da curadoria “O mundo e suas voltas”, na noite do sábado, dia 12, na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará. A Bienal é uma realização da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará) e do Instituto Dragão do Mar (IDM).

Geovani Martins conversou sobre a sua obra na mesa “Todos os caminhos levam à periferia” com a escritora Ayla Nobre, mediadora de leitura e mediadora social da Biblioteca Pública Estadual do Ceará (BECE). Segundo ele, que é autor de O sol na cabeça (2018) e Via Ápia (2022), a arte brasileira está em um relevante momento de mudança, sendo fundamental acabar com a ideia de que “a literatura está aqui para me salvar”. O escritor nasceu em Bangu, no Rio de Janeiro, e morou na Rocinha. Já trabalhou como “homem-placa”, atendente de lanchonete e de barraca de praia.

“A favela vai salvar a arte brasileira, porque a gente vai contar as histórias que não estão sendo contadas há muito tempo. Vamos falar com um Brasil muito grande, de um jeito que as pessoas falam e se identificam. Esse país nunca vai avançar um milímetro enquanto não conseguir entender a potência que existe nesses territórios”, diz, destacando o quanto se cria de cultura, arte, tradições, signos, e rituais, mesmo com tão pouco nesses espaços. “Imagine essas pessoas no poder, com a capacidade de decidir rumos, de planejar e prospectar perspectivas para a juventude que ela cuida e gera”, enfatiza.

Ayla Nobre, que atua como mediadora de leitura no bairro Curió, em Fortaleza, destacou a importância da leitura para a periferia. “Quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros”. Com esse trecho do livro O sol na cabeça, do conto “Espiral”, Ayla refletiu sobre a importância de quebrar esses muros. “Penso muito onde estou hoje e na tentativa de construir essa ponte. Está trabalhando hoje com livro e leitura me mostra um desafio que é gigante”, afirma.
Nordeste de música e poesia

“Você conhece o Nordeste. Palmilhou seu Chão Sagrado”, já dizia Rodger de Rogério em sua canção que inspirou o título da segunda mesa da curadoria da noite deste sábado, 12. Com o tema “Nordeste: Chão Sagrado da Poesia”, a conversa foi do curador da Bienal, Talles Azigon, com a poetisa pernambucana Cida Pedrosa. A mesa abriu com uma homenagem ao poeta João Flávio Cordeiro da Silva, Miró, com leitura de poemas.

Segundo ela, sua carreira como escritora independente tem relação com o fato de ser poeta. “Poesia é a linguagem mais marginal da literatura. Pouca gente consome, se vende pouco. Eu escrevo porque não posso deixar de escrever e eu quero que outras pessoas leiam. A minha poesia se completa quando o outro lê, por isso eu sempre vendi. Vendi de bar em bar, em todo o canto”. Vencedora do Prêmio Jabuti com o livro Solo para Vilarejo, Cida Pedrosa destaca que dos seus 11 livros, apenas três não foram bancados por ela.

Para Cida, que é uma poeta comunista, escrever é um ato político. “A felicidade não é uma construção individual. A felicidade é uma construção coletiva porque a cultura só tem soberania, possibilidade de existir livre, quando as pessoas todas tiverem acesso, senão ela é apenas mais um dos direitos negados”, comenta, enfatizando o papel de militância de Talles Azigon. O curador elencou a variedade de escritores poetas do Nordeste, destacando a relação entre música e literatura na poesia.

“Quando nós do Nordeste chegamos no Sudeste, se espera que a gente leia um cordel, por conta do sotaque que teria sido feito para isso. Essa visão racista e xenofóbica, desses centros, Rio de Janeiro, São Paulo e afins, acabam por perder toda a grande diversidade e sofisticação que nós temos como poetas”, diz Talles. Ele aproveitou o momento para ler um trecho do novo livro de Cida, Araras Vermelhas (2022), emocionando a escritora.

Em sua 14ª edição, a Bienal Internacional do Livro do Ceará será realizada de 11 a 20 de novembro de 2022 no Centro de Eventos do Ceará. Apresentada pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura e do Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura (IDM), o evento acontece em parceria com a Secretaria de Educação do Ceará (Seduc), Secretaria de Turismo do Ceará (Setur), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Ceará (Secitece), Programa Mais Infância, Universidade Estadual do Ceará, Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Ceará, a Câmara Cearense de Livro e o Sindilivros CE. O apoio é da RPS Eventos, Sesc Senac, Banco do Nordeste Cultural, Universidade de Fortaleza, Unilab, Universitária FM, TV Ceará, Jornal O Povo/Vida e Arte, Fundação Demócrito Rocha, Pixels Educação Tecnológica, Instituto Juventude Inovação, Secretaria Municipal de Educação e Prefeitura de Fortaleza.

Serviço

XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará
De 11 a 20 de novembro, de 9 horas às 22 horas
Centro de Eventos do Ceará
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bienaldolivro.cultura.ce.gov.br