Produção cearense “Meninas do Benfica” é tema de conversa na Escola Porto Iracema das Artes

18 de março de 2022 - 17:03 #

As manifestações populares de junho de 2013 são o mote para narrar a história das Meninas do Benfica na série criada por Roberta Marques. Iniciada no último dia 2 de março no canal Brasil, a série cearense é o próximo produto audiovisual a participar do projeto “Anatomia da série” da Escola da Porto Iracema das Artes — Instituição da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult) gerida pelo Instituto Dragão do Mar (IDM). A atividade ocorre no dia 22 de março, terça-feira, às 19h, no auditório da Porto.

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A série foi desenvolvida com recursos públicos operados ou geridos pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), por meio da Chamada Pública BRDE/FSA PRODAV 05/2013, e foi produzida com recursos da chamada pública PRODAV 01/2013 da ANCINE/FSA/BRDE. Para o lançamento e a distribuição, contou com apoio da Prefeitura Municipal de Fortaleza e do Cineteatro São Luiz.

As meninas do Benfica
A série de oito episódios se passa em junho de 2013, quando as manifestações mobilizam milhares de jovens emtodo o país. EmFortaleza, Sandra, Iara, Keyla e Andrea, estãonos preparativos da última transmissãodo canal Meninas do Benfica, um projeto para YouTube que as uniu desde o primeiro ano da faculdade de Comunicação Social. Por quatro anos, as quatro melhores amigas debateram e discutiram tudo o que lhes atravessava.

Contagiadas pelas “Jornadas de Junho”, as quatro amigas vão às ruas na capital cearense. Suas ações interferem diretamente nos seus planos e sonhos pessoais. Tomadas por uma nova consciência política, as amigasse vêem diante de grandes dilemas existenciais e da emergência em amadurecer. Nesse caminho, Sandra, Iara, Keyla e Andrea vão descobrir que a política se faz em todos os momentos – não só nas eleições. Elas vão entender que faculdade da vida está apenas começando e que o Canal Meninas do Benfica tem uma importância imensa para elas, para a cidade, para o Brasil.

Uma série sobre mulheres, feita por mulheres
De acordo com a Agência Nacional de Cinema (Ancine), na pesquisa Participação Feminina no Audiovisual Brasileiro de 2018, a participação das mulheres em funções como Direção, Roteiro e Direção de Fotografia vai de 12 a 25%. Diante do cenário de desigualdade no mercado, Roberta Marques e o produtor executivo, Maurício Macêdo, decidiram formar uma equipe majoritariamente feminina, a partir da definição da participação de mais uma diretora – Luciana Vieira.

“Cerca de 100 pessoas trabalharam direta e indiretamente na produção, sendo que 64% da equipe foi de mulheres, incluindo cargos como roteiristas, diretoras, assistentes de produção, além de direção de arte e fotografia”, destaca Roberta. “Também nos pautamos pela diversidade, para fazer valer a inclusão no audiovisual e nos surpreendemos como esse mercado evoluiu depois do investimento em políticas públicas de formação no Estado. Nossa equipe toda cearense e bem qualificada”, diz.

Sobre o elenco, Andreia Pires fez o casting juntamente com as diretoras. Segundo Roberta, Andreia tem um envolvimento profissional muito dedicado com atrizes e atores de Fortaleza e, por meio de vivências comandandas por ela, se deu a escolha das Meninas do Benfica. De um grupo de 12 meninas, foram selecionadas oito e depois as quatro protagonistas: Larissa Goes, Ariza Torquato, Amanda Freire e Lua Martins. “Elas são ultra talentosas. Cada uma no seu estilo de atuação e isso é muito bom, pois definiu a personalidade de cada uma das personagens. No conjunto, elastêm uma química impressionante e se doaram de verdade para virarem as melhores amigas nastelas”, elogia.

Da ideia às telas de cinema e TV
A gênese do projeto Meninas do Benfica se deu em junho de 2013. “Eu estava acompanhando meu filme RÂNIA no Festival de Cinema Brasileiro de Nova Iorque e no dia 17, o dia daquela manifestaçãogigante que ocorreu no Rio de Janeiro, emBrasília e São Paulo, eu passei horas on-line ‘assistindo’ aos protestos. Fiquei chocada, assustada, confusa e fascinada. Até porque, como me considero uma ‘fotógrafa e cinematógrafa de rua’, em outras palavras, uma andarilha que coleta e coleciona imagens nas ruas, cidades e viagens, eu queria era estar ali, filmando e fotografando os protestos”, relembra Roberta.

Temas políticos e/ou sociais muitas vezes são a base das histórias que ela escolhe escrever. “Nesse sentido, poderia dizer que essas são um híbrido de documentário e ficção. A juventude feminista, anti-racista e anti LGBTQIA+fobia das Jornadas de Junho forma a porção documentário da série. Já a porção ficção, a inspiração para ousar fazer meu primeiro drama seriado, veio de uma forte paixão por duas séries que assisti nessa época: Girls, da norte-americana Lena Dunham, e a dinamarquesa Borgen, que tem como protagonista uma candidata a ser a primeira primeira-ministra mulher do país”, afirma.

A fase de desenvolvimento da série se deu entre 2014 e 2016, quando o projeto recebeu apoio do FSA (Fundo Setorial do Audiovisual). Roberta, então, convidou Letícia Simões e Armando Praça para desenvolveram o roteiro em conjunto. Com o projeto desenvolvido, Maurício Macêdo assume como produtor executivo. Em 2018, com novo apoio do FSA, dessa vez para produção, Luciana Vieira passa a integrar a equipe de roteiro e co-dirigir os episódios.

“Essa entrada da Luciana foi importantíssima, porque, assimcomo eu, além de serroteirista e diretora, a Lu é também produtora dos filmes dela, e isso nos dá uma firmeza para realizar. Ela foi uma grande parceira na série. O mesmo posso dizer do Maurício, que fez um trabalho potente e ao mesmo tempo delicado, para levantar e produzir Meninas do Benfica. Contamos ainda com Isabela Veras, desde a pré-produção, com quem eu já tinha trabalhado no Rânia e sabia que a parceira dos dois só somaria em eficiência e qualidade da série”, ressalta a diretora.

Na fase de pré-produção também ficou claro para Roberta que a série deveria ter muita música, não sócomo trilha, mastambém como elemento de narrativa, para dar ritmo aos episódios. “A música é muito presente na minha vida e no meu trabalho. Escutode quase todo estilo e de todos ostempos. Nessa época, conheci a obra da cantora e compositora cearense Clau Aniz e me apaixonei pelo álbum dela. A partir daí, passei a ouvir muita coisa do que estava sendo produzido aqui na cidade”, conta. “Então me deparei com Mona Gadelha – que admiro e reverencio desde que a ouvi no álbum Massafeira – e daí para que a convidasse para pensar a trilha da série comigo foi muito rápido, pois fez todo sentido ter uma pessoa com a experiência dela supervisionando esse trabalho de curadoria das músicas de jovens artistas cearenses”, revela.

A produção da série, então, se estendeu a 2019, sendo que a pós-produção se deu ao longo de 2020 e primeiro semestre de 2021. Aslocações foram em sua grande maioria em Fortaleza, mais especificamente no Poço da Draga e no Benfica. Sobre a relação dela com o bairro que dá nome à série Roberta explica: “sou de Maranguape e vim morar em Fortaleza na minha adolescência. Foi lá que fiz aula de violão, no conservatório, e de fotografia, na Casa Amarela. Cursei Letras na UFC e fui às exposições do MAUC. E aí tem o Carnaval do Benfica, enfim, e umas festinhas nos anos 2000. Pra mim, é uma relação de formação mesmo, pessoal e profissional”.

“Desconfio que fazer Meninas do Benfica foi tentar viver de certa forma uma parte da vida na cidade que deixei, pois escolhi viajar e estudar fora porque na época não existia formação em audiovisual no estado. Se eu fosse uma menina do Benfica hoje, não sei se escolheria sair daqui”, diz. “Por fim, a série é uma parte da minha filmografia que chamo de Cartas deAmor para Fortaleza, que são trabalhos que nascem do meu desejo de filmar em casa”, conclui.

Ficha Técnica:
Criação e Direção Geral: RobertaMarques
Direção de Episódio: RobertaMarques e Luciana Vieira
Produção Executiva:Maurício Macêdo e IsabelaVeras
Produção: Latitude Audiovisual
Coprodução:Moçambique Audiovisual
Escrito por:RobertaMarques, Luciana Vieira e Letícia Simões
Direção de Fotografia: Lílis Soares
Direção de Arte: Patrícia Passos
Montagem: LuisaMarques e Victor Costa Lopes
1ª assistente de Direção:Maria Clara Escobar
Direção de Produção: Muniz Filho
Figurino: Sarina Sena e Ton Martins
Maquiagem: Elen Barbosa
Som Direto:Márcio Câmara e Lênio Oliveira
SupervisãoMusical: MonaGadelha
Desenho de Som: Lucas Coelho
Mixagem: Lucas Coelho e ArnoWillemstein
Colorista: PedroDulci
Produção e Preparação de Elenco: Andreia Pires

Elenco
Sandra: Larissa Goes
Andrea:Ariza Torquato
Iara: AmandaFreire
Keyla: Lua Martins
Bete: Luciana Marques
Danilo: Vinicius Cafer
Armando: Leo Porto
Maurício: André Ximenes
Clarice: Natasha Faria
Roberto: Klístenes Braga
Alessandra:Ana Luisa Rios
João Guilherme: Levy Mota
Avó de Sandra: Edneia Tutti
Avô de Sandra:ManuelOsdemi
Governador Fernando: LuizVianna
Pai de Iara: Kennedy Saldanha