Conselho Estadual do Patrimônio aprova tombamento definitivo da Casa de Juvenal Galeno, equipamento da Secult

21 de setembro de 2016 - 14:00

 

A Casa de Juvenal Galeno, berço e residência do poeta cearense reconhecido em todo o País, teve seu tombamento definitivo como patrimônio em nível estadual aprovado na manhã desta quarta-feira, 21/9, pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural do Estado do Ceará (Coepa). O tombamento definitivo da casa, equipamento cultural da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult), foi aprovado por unanimidade pelos integrantes do Coepa participantes da reunião, que foi presidida pelo secretário da Cultura do Estado, Fabiano dos Santos Piúba, e aconteceu na própria casa, como mais uma forma de homenagem. Veja o parecer do tombamento em http://bit.ly/2d0i0Je.

Durante a reunião, o secretário anunciou novos investimentos da Secult na Casa de Juvenal Galeno. A Secretaria destinará R$ 100 mil ao lançamento de um novo edital, inédito, para seleção de projetos de programação artística e cultural a serem realizados na casa, e R$ 90 mil para a execução de obras de conservação e reforma no espaço, a se iniciarem em outubro. Também haverá uma programação especial neste sábado, 24/9, pelo aniversário de 97 anos da casa (confira detalhes abaixo).

Após a deliberação do Coepa aprovando o tombamento definitivo, os conselheiros puderam percorrer todos os cômodos da Casa de Juvenal Galeno, em uma visita guiada por Antônio Galeno, diretor da casa. “O tombamento da Casa de Juvenal Galeno nos deixa muito felizes, pelo reconhecimento a uma história de 180 anos e à movimentação cultural e artística que continua acontecendo aqui de modo muito forte, com várias entidades literárias, artísticas em geral, em uma programação permanente”, destacou Antônio Galeno.

“Aprovar o tombamento da Casa de Juvenal Galeno em uma reunião na própria casa tem um fator institucional e político relevante, mas também um fator afetivo, de emoção”, ressaltou o secretário Fabiano dos Santos Piúba, agradecendo pela presença de todos os integrantes do Coepa, pelo parecer formulado pelo escritor professor da Universidade Vale do Acaraú José Luís Araújo Lira, em prol do tombamento, e pelos comentários e sugestões feitos por outros integrantes do Coepa.

“O poeta, a casa, a cidade, o Estado se confundem. Há uma relação afetiva, histórica, cultural, com o mundo cultural do Ceará, da cidade, em um lugar de um saber e de um fazer cultural. Tudo isso se confunde, porque aqui nasceu e viveu o poeta Juvenal Galeno. E a casa depois se transformou num centro cultural, não apenas de difusão de sua biografia e sua bibliografia, mas de difusão principalmente da literatura do Ceará”, acrescentou Fabiano dos Santos Piúba.

Além de José Luis Araújo Lira, a comissão de estudo sobre o pedido de tombamento foi composta pelos conselheiros José Ramiro Teles, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), e Antônio Claudio Ferreira Lima.

Artistas reunidos e protagonismo feminino

“São diversos aspectos relevantes da casa, desde o valor biográfico, como moradia do escritor, até o reconhecimento pelo trabalho realizado ao longo dos anos, de preservação da memória do escritor, da literatura cearense em geral e da parte arquitetônica da casa”, enfatizou José Luis Araújo Lira, ao ler o parecer em prol do tombamento, na reunião desta quarta-feira, 21/9, apontando detalhes quanto à história e ao significado da casa.

“O poeta tinha reconhecimento nacional. Todos os artistas, poetas, políticos que vinham ao Ceará vinham à Casa de Juvenal Galeno. E Patativa do Assaré, por exemplo, foi recebido aqui quando jovem, quando ainda não era o Patativa”, ilustrou Lira.

“Rachel de Queiroz frequentou a casa nos primeiros tempos e lançou aqui ‘O Quinze’. Ela disse que vieram umas 50 pessoas, além dos familiares. Para ela, foi uma frustração. Ela esperava mais gente. Ela ficou se sentindo endividada com o pai, porque a renda não deu para pagar o que o pai investira para fazer o livro”, acrescentou o pesquisador, que também destacou a Casa de Juvenal Galeno como espaço para protagonismo feminino na literatura e nas artes, desafiando as barreiras sociais de então.

“Henriqueta Galeno fundou a Ala Feminina da Casa de Juvenal Galeno e inaugurou o Salão Nobre, com a parte da frente da casa sendo toda pública, de convivência de poetas. A casa foi a primeira instituição a acolher as poetisas, as escritoras”, frisou Lira.

Reconhecimento

Antonio Galeno também destacou a importância do tombamento definitivo da casa, avaliando que se trata também de um reconhecimento ao trabalho de todos os membros da família que se dedicaram, ao longo de décadas, à continuidade das ações no espaço cultural.

“É um grande reconhecimento pelo que foi realizado aqui, em um lugar criado no sentido de a gente perpetuar tudo o que Juvenal Galeno e sua poesia significam. O que dava vida e alegria a Juvenal Galeno era ver essa casa movimentada. Os 25 anos de cegueira que ele passou aqui tiveram outro ânimo, graças às pessoas que estavam sempre aqui”.


Programação especial de aniversário, neste sábado

Trovas, contações de histórias, declamação de versos do Poeta Juvenal Galeno, lançamento de Cordel, apresentação de poesias, além da realização do I Festival de Canções do Caju, em uma homenagem à principal poesia de Galenoconhecida nacionalmente, “Cajueiro Pequenino”, integram a programação do aniversário da Casa de Juvenal Galeno, que acontece neste sábado, 24/9.

O público poderá conferir ainda o Show de Mágica promovido pelo Núcleo dos Mágicos do Ceará – Nuamac, com sede no local, e a Solenidade de Diplomação na qual serão agraciadas personalidades da área cultural, como os sócios honorários Fabiano dos Santos Piúba, secretário da Cultura do Estado do Ceará, pela aprovação de recursos para a reforma do equipamento, pela gestão cultural e por propiciar nova programação cultural permanente ao local.

Outra personalidade da literatura agraciada na noite de sábado será o sócio José Luís Lira, presidente da Academia Brasileira de Hagiologia e conselheiro do Coepa, que realizou o relatório final para o Tombamento Definitivo da Casade Juvenal Galeno. Quem também receberá o título de sócio-honorário, por ter representado a posição do escritorJuvenal Galeno em retrato, para a galeria de personagens da Academia Cearense de Letras, será o presidente da ACL,José Augusto Bezerra. E, por descrever através de pincéis e tintas a Índia Porangaba, de Juvenal Galeno, será agraciado o artista plástico Mestre Portela.

As ações comemorativas são abertas ao público e iniciam às 6h30 de sábado, 24/9, com a Missa em Ação de Graça na Igreja de São Bernado, local frequentado durante décadas pela família do escritor Juvenal Galeno. A programação se encerra às 19h, com a solenidade de diplomação.


Histórico da Casa de Juvenal Galeno

Edificada em 1887, a Casa de Juvenal Galeno recebeu a família do escritor a partir de 1888, logo no nascimento de Henriqueta Galeno. Nela viveu com sua esposa e seus filhos. No mesmo período, Galeno começou a participar de inúmeras reuniões histórico-literárias, como as do Centro Abolicionista e do Literário. Logo depois, foi convidado por Caio Prado, então presidente da província a ocupar o cargo de diretor da Biblioteca Pública, exercendo por 19 anos a função, até o momento em que foi acometido por uma doença e perde a visão, sendo necessário se recolher à Casa deJuvenal Galeno.

A partir desta data o escritor não pôde mais participar das atividades literárias. Em 1906, sua filha Henriqueta Galenodecide convidar as entidades a se reunirem na Casa de Juvenal Galeno, possibilitando a participação de seu pai e gerando prestígio ao equipamento, além de atrair muitos escritores renomados ao local. As reuniões eram coordenadas pelo Governador do Estado. Em 1909, com a criação do Salão Juvenal Galeno, a Casa é reconhecida como de utilidade pública (através da Lei de Nº060) e passa a ser destinada a promover reuniões e eventos.

Entre as personalidades que frequentavam a Casa de Juvenal Galeno fazendo dela um palco de suas palestras, seminários, discursos, saraus etc estão: Gustavo Barroso, Rodolfo Teófilo, Jáder de Carvalho, Rachel de Queiroz, Euclides da Cunha, Antônio Sales, Leonardo Mota, Procópio Ferreira, Bibi Ferreira, o presidente Humberto de Alencar Castelo Branco e Patativa do Assaré.

Com acesso gratuito e programação cultural diversificada, a Casa de Juvenal Galeno está situada na Rua General Sampaio, 1128, no Centro de Fortaleza, e é aberta ao público de segunda-feira a sexta-feira, das 8 às 17 horas. Aos sábados, são realizadas as reuniões e demais encontros das entidades sediadas no local.


Saiba mais sobre o processo de tombamento


O que é um tombamento?

Tombamento é o reconhecimento de um bem material, de valor histórico, cultural, arquitetônico , ambiental e/ou simbólico para uma comunidade , protegendo-o de descaracterização ou de destruição através da aplicação de legislação específica. Finalizado o processo de Tombamento , o bem é inscrito no Livro de Tombo .


Quem pode solicitar?

Qualquer cidadão pode solicitar que um bem seja reconhecido como de valor excepcional , através da abertura de um processo de Tombamento.


A quem se dirigir para abertura de um processo de tombamento?

A Secretaria da Cultura do Estado do Ceará , através de sua Coordenadoria de Patrimônio Cultural, é responsável por receber e encaminhar ao COEPA- Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Estado do Ceará, as solicitações de tombamento de bens situados no Estado. Se o bem for julgado de interesse vinculado ao Município, deverá ser contatada a Prefeitura Municipal da cidade onde se localiza o bem. No caso de interesse Federal, deve ser contatado o IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.