Homenageado pela Secult, Macaúba compartilha histórias de vida dedicada ao chorinho

24 de abril de 2014 - 16:08

Em noite de lua cheia, os apaixonados por um dos mais antigos e característicos gêneros musicais, o “Chorinho”, têm encontro marcado no Ponto de Cultura “Maria vem com as outras”, na praia de Iparana, em Caucaia, onde o consagrado bandolinista Macaúba, homenageado pela Secult nesta semana de programação especial pelo Dia Nacional do Choro, reúne velhos e novos amigos para ouvir e tocar clássicos dos renomados chorões Pixinguinha, Altamiro Carrilho, Canhoto da Paraíba, Chiquinha Gonzaga e de compositores cearenses desse clássico gênero musical.

Nascido José Felipe da Silva, o cearense Macaúba começou a tocar bandolim como autodidata aos 13 anos. Desde então sua história tem sido vivida em rodas de choro e samba, convivendo com grandes nomes da música brasileira. Esse gosto pelo instrumento e, em especial, pelo gênero chorinho vem passando de geração para geração. Hoje, entre muitas noites de luar, Macaúba já conta com a parceria do filho Marinaldo do Bandolim e de muitos outros jovens talentos musicais, que sob a influência do grande mestre trabalham para dar continuidade ao gênero que vem conquistando novos públicos e ganhando espaço na cena musical dos bares de Fortaleza.

“O chorinho é uma música para se ouvir com a alma, e é muito bonito ver que os jovens, com sua inquietude, conseguem parar e sentir a beleza dessa forma chorosa de entoar melodias que brindam a vida”, afirma o chorão Macaúba, que destaca o empenho da esposa, Beliza Guedes, em manter vivo o chorinho entre os filhos e amigos. “Ela é a grande incentivadora do chorinho no Ceará, porque está sempre trabalhando para produzir saraus, shows… Com um sorriso largo, ela abre as portas da nossa casa para receber nomes consagrados e novos talentos”, ressalta com orgulho o mestre.

As rodas de choro de Macaúba incluem nomes consagrados como Tarcísio Sardinha e Carlinhos Patriolino, Pardal, Ribamar, Samuel, Natércia, Chorão, mas também jovens como Gugu do Cavaco, o flautista Matheus Farias e Marinaldo do Cavaquinho. Eles contam que os encontros nas rodas de choro têm se tornado bem mais que um lazer, já que hoje todos já tocam profissionalmente nos bares de Fortaleza e comemoram o público cada vez maior, “formado na sua maioria por universitários e por pessoas que gostam de dançar”, destaca o flautista Mateus Farias, que cursa bacharelado em Flauta na Universidade Estadual do Ceará.

O choro

O choro surgiu no Rio de Janeiro em 1870, originando da fusão de ritmos europeus com ritmos afro-brasileiros. Eles utilizavam, entre outros instrumentos, violão, flauta, cavaquinho, que dão à música um aspecto sentimental, melancólico e “choroso”. O nome deste estilo musical pode ter sido derivado da palavra xolo, que era um tipo de baile que os escravos faziam no período colonial, ou talvez, pela maneira chorosa que os músicos amaciavam certos ritmos de sua época. No início, era apenas um grupo de instrumentistas que aos sábados e domingos se reuniam na casa de um deles para fazer música. Foi a partir de 1880 que o choro se popularizou nos salões de dança e no subúrbio carioca. Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga foram os primeiros compositores que deram características próprias firmando-o como gênero musical.

No início do século XX começou a ser cantado, deixando de ser exclusivamente instrumental. Aproxima-se do maxixe e do samba e adquiriu um ritmo mais rápido, agitado e alegre. Nesta mesma época surge o chorinho ou samba-choro, também conhecido como terno, por causa da delicadeza e sutileza de sua melodia.

Na década de 30, com o apoio do rádio e com investimento das gravadoras de disco, tornou-se sucesso nacional. Uma nova geração de chorões se organizou em conjuntos chamados regionais e introduziram a percussão nas composições. Alfredo da Rocha Vianna Filho, Pixinguinha, foi o principal nome do período, autor de mais de uma centena de choros e um dos maiores compositores da música popular brasileira.. Sua importância foi tamanha que o Dia Nacional do Choro foi estabelecido em 23 de abril, data de seu aniversário. Tal homenagem foi proposta pelo senador Artur da Távola e aprovada pelo Presidente da República em 4 de setembro de 2000.

Na década de 50, o estilo musical perdeu espaço devido ao surgimento da Bossa Nova, mas se manteve presente na produção de vários músicos da MPB. Foi redescoberto na década de 70, quando foram criados os Clubes do Choro, que revelam novos conjuntos de todo o País e os festivais nacionais. Atualmente o choro ainda é prestigiado por muitos, fortalecido por grupos que se dedicam à sua modernização e à divulgação de novos artistas.