Juventude e futuro: Estudantes da rede pública estadual cuidam de nossa memória no Arquivo Público do Ceará

22 de dezembro de 2025 - 16:22

Antonio Laudenir - Texto
Pâmila Luik - Fotos

Por meio de parceria das secretarias de Cultura e Educação do Estado, quatro jovens do curso Técnico em Desenho de Construção Civil da EEPP Darcy Ribeiro aliam conhecimentos em sala de aula e preservação histórica

Ellen Grace, Hevilany Ferreira, Nicolle Pinho e Marina Estevam no Arquivo Público do Ceará / Foto: Pâmila Luik

Entre mapas centenários, plantas arquitetônicas e documentos históricos que ajudam a contar a história dos cearenses, quatro jovens estudantes vivem uma experiência que une educação, cultura e preservação da memória. Ellen Grace (17), Marina Estevam (18), Hevilany Ferreira (17) e Nicolle Pinho (18) são alunas do curso Técnico em Desenho de Construção Civil da Escola Estadual de Educação Profissional Darcy Ribeiro.

Promover o diálogo com o mercado de trabalho é uma das premissas da formação oferecida nas Escolas Estaduais de Educação Profissional (EEEPs) da rede pública do Governo do Ceará. Este ano, as quatro alunas atuam como estagiárias no Arquivo Público do Estado do Ceará (Apec), por meio de uma parceria entre a Secretaria da Educação (Seduc) e a Secretaria da Cultura do Ceará (Secult).

A iniciativa é coordenada pela Secult Ceará, por meio da Coordenadoria de Patrimônio Cultural e Memória (Copam), e integra formação técnica, prática profissional e contato direto com o patrimônio documental do Estado. Para as estudantes, a experiência no equipamento público de Cultura estadual amplia o aprendizado construído em sala de aula e revela novos sentidos para a área que escolheram seguir.

O contato com documentos históricos de diferentes períodos também marca profundamente a formação das estagiárias. É uma terça-feira agitada no Centro da capital cearense e fomos até o Arquivo Público para conhecer esta iniciativa. Hevilany Ferreira destaca que a experiência fortalece tanto o lado técnico quanto a dimensão humana da formação. “Temos contato com mapas de várias décadas. Ver como as plantas eram feitas antigamente e entender esse processo histórico é muito gratificante. Preservar hoje o que foi cuidado no passado garante que gerações futuras também tenham acesso a esse conhecimento”, pontua.

Tudo pronto para mais um dia de aprendizado / Foto: Pâmila Luik

Para Nicolle Pinho, o estágio ampliou horizontes que antes não faziam parte do cotidiano escolar. “Esse trabalho trouxe uma ampliação de conhecimento que a gente não tinha. As plantas que chegam aqui já passaram por cuidados anteriores, e hoje damos continuidade a esse processo para garantir o acesso de futuros pesquisadores. Aqui, entendemos o passo a passo, o porquê de cada ação e a importância disso para a produção de conhecimento”, relata a entrevistada.

Marina Estevam também resume o processo desenvolvido pelas estudantes de forma direta e objetiva: “Nós identificamos as plantas, fazemos a limpeza e a digitalização, em parceria com a Copam e o Arquivo Público”. Um trabalho técnico que, ao mesmo tempo, contribui para a preservação da história do Ceará, completa a jovem.

Educação transformadora

As estudantes integram o modelo das Escolas Estaduais de Educação Profissional (EEEPs), que oferecem formação técnica integrada ao ensino médio, com aulas em tempo integral e foco na qualificação profissional.

Na 3ª série, os alunos realizam estágio curricular obrigatório e remunerado, promovido pelo Governo do Ceará, fortalecendo a inserção no mercado de trabalho e o acesso ao ensino superior. Localizada no bairro Conjunto Esperança, a EEEP Darcy Ribeiro oferta cursos técnicos em Agroindústria, Nutrição e Dietética, Desenho de Construção Civil e Saneamento.

Marina Estevam em ação / Foto: Pâmila Luik

A professora Liliana Uchôa, docente de Desenho de Construção Civil da EEEP Darcy Ribeiro, explica como esta vivência na Secult e no Arquivo Público tem sido surpreendente. O interesse, o foco e a dedicação das alunas têm chamado atenção e reforçado o valor pedagógico da experiência inédita.

Foto: Pâmila Luik

“É um trabalho novo para nós, porque nunca tivemos estagiários junto à Secult e nem no Arquivo Público. Toda vez que venho aqui, me surpreendo com o patrimônio que existe nessa cidade e que muitas vezes não conhecemos. Elas passam três anos estudando disciplinas voltadas para projeto, arquitetura e engenharia, e aqui se deparam com algo a mais, que é o patrimônio histórico”, avalia a professora.

Cultura e memória no Arquivo Público

No dia a dia do estágio, as estudantes realizam atividades fundamentais para a preservação e o acesso à informação. Equipadas com EPIs, elas atuam na higienização mecânica, identificação, catalogação e digitalização de plantas e mapas históricos. A estudante Ellen Grace explica que o cuidado começa desde o primeiro contato com o acervo.

“A gente se equipa porque são materiais muito antigos. Depois, fazemos a higienização, retiramos clipes e grampos enferrujados, catalogamos com todas as informações e, por fim, digitalizamos. Assim, estudantes, professores e pesquisadores conseguem acessar esse material com mais facilidade”, descreve Ellen.

Hevilany Ferreira e o cuidado em cada detalhe / Foto: Pâmlia Luik

Com 93 anos de história, o Arquivo Público do Estado do Ceará é uma instituição fundamental para a preservação da memória documental e o acesso à informação. Integrante da Rede Pública de Equipamentos Culturais do Ceará (Rece), o Apec guarda correspondências, processos, mapas, plantas e documentos desde o século XVII, consolidando-se como espaço de pesquisa, formação e reflexão histórica.

A atuação das quatro jovens estagiárias mostra, na prática, como a política pública de cultura, articulada com a educação, pode formar cidadãos, fortalecer trajetórias profissionais e garantir que a memória do Ceará siga viva, acessível e em diálogo com o futuro.

Foto: Pâmlia Luik

A diretora do Arquivo Público do Estado do Ceará, Janaína Ilara, reforça a importância da parceria entre as duas secretarias e do trabalho desenvolvido pelas jovens. “A Secult, por meio da Copam, representa essa articulação. As meninas passaram a atuar no Arquivo Público, onde temos uma diversidade muito grande de mapas, plantas baixas e croquis”, explica.

Foto: Pâmlia Luik

Segundo a gestora, o trabalho realizado pelas estudantes contribui diretamente para a democratização do acesso ao acervo. “Após esse processo de identificação, higienização, acondicionamento e digitalização, conseguimos disponibilizar ao público quais mapas temos e que tipos de documentos fazem parte do nosso patrimônio documental”, conclui Janaína Ilara.