Segundo dia da Teia Estadual Cultura Viva é marcado por vivências em diferentes Pontos de Cultura do Cariri
22 de novembro de 2025 - 10:49
Antonio Laudenir - Ascom Secult - Texto
Maria Haydêe / Cassio Simioni - Fotos
Momento de partilha e debate de propostas que farão parte do 7º Fórum Cultura Viva, iniciativa ‘Círculos de Palavra’ abordou temas como território, gênero, povos originários, racismo ambiental e sustentabilidade

Partilha dos Círculos de Palavra Foto: Maria Haydêe
Após um primeiro dia marcado pela ampla mobilização de diversos Pontos de Cultura do Ceará, a programação da 2ª Teia Estadual Cultura Viva prosseguiu nesta sexta-feira (21) com a atividade “Círculos de Palavra”. Esta iniciativa aprofunda a escuta, o diálogo comunitário e a troca de saberes.
Das 8h às 12h, sete Círculos de Palavra aconteceram simultaneamente em diferentes bairros e comunidades do Crato, movimentando cada participante da Teia e fortalecendo vínculos entre os territórios. Cada encontro reuniu mestres e mestras, pesquisadores, lideranças, coletivos, artistas e representações de vários Pontos de Cultura do Ceará.
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Cada tema foi discutido coletivamente e adentrou experiências fundamentais que se interligam com o tema “Justiça Climática em Territórios Ancestrais”, que marca a segunda edição da Teia Estadual Cultura Viva. Este exercício coletivo será fundamental às discussões e propostas que farão parte do 7º Fórum Cultura Viva, marcado para este sábado (23).
“A primeira Teia aconteceu em 2019 e esta segunda edição é um momento de muita amplitude e abrangência. Essa troca entre as pessoas que conseguem ouvir os diversos Pontos do Estado do Ceará representados aqui. Toda essa ação é importante para nos nutrirmos e compartilharmos. Para realizarmos esse intercâmbio cultural, essa troca de experiências que nos faz dimensionar toda a potência desse trabalho feito pelo Cultura Viva”, destacou a Coordenadora de Diversidade, Acessibilidade e Cidadania Cultural da Secult Ceará, Helena Campelo.

Foto: Maria Haydêe
Às 14h, o público se reuniu no átrio do Centro Cultural do Cariri para a exibição do curta “Movimento Insurgentes Cultura Viva”, do Coletivo Ensaio Aberto. Logo após, das 14h30 às 17h, aconteceu a “Partilha dos Círculos de Palavra”, quando mediadores dos sete encontros apresentaram as sínteses, percepções e encaminhamentos dos debates realizados pela manhã.
Realizado pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura (Secult) e pela Comissão Cearense Cultura Viva, a 2ª Teia Estadual Cultura Viva também marca a realização do 7º Fórum Cultura Viva. O Fórum promove o diálogo entre gestão pública e os Pontos de Cultura certificados pela Secult Ceará e pelo Ministério da Cultura (MinC).
O Fórum objetiva a construção de diretrizes e recomendações da Política Estadual Cultura Viva e elegerá as representações do Ceará na 6ª Teia Nacional, que acontece em março de 2026, no Espírito Santo. A 2ª Teia Estadual Cultura Viva conta com parceria da Prefeitura do Crato e recursos da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB).
Vozes unidas no território
No Ponto de Cultura Carrapato Cultural, o Círculo 1 trouxe o tema “Chapada do Araripe: Patrimônio da Humanidade” e contou com a presença de Patrício Melo e mediação de Raquel Karirino, refletindo sobre o valor ecológico, cultural e espiritual da Chapada e seus desafios de preservação.
“Entendemos que este tema precisa ser mais discutido, bem mais valorado, mas que tenha de fato um volume de debates com a população, principalmente com os movimentos. Porque entendemos que não faz sentido um processo de patrimonialização quando a Chapada Nacional do Araripe está correndo perigo”, alertou Raquel Karirino.
O Ponto de Cultura Casa de Quitéria sediou o “Círculo 2 – Mudanças Climáticas e Impactos no Território”, conduzido por Liro Nobre e mediado por Valneide Ferreira. Em pauta, relatos sobre eventos climáticos extremos, vulnerabilidades regionais e formas comunitárias de resistência.

Círculo 2 – Mudanças Climáticas e Impactos no Território Foto: Maria Haydêe
“Foi um momento potente no qual foram colocadas as problemáticas, expectativas e se conheceu a destruição do Litoral, do Sertão e da Serra. Compreendemos que precisamos dos nossos movimentos, principalmente o cultural, pois a cultura não se separa da vida quando falamos da crise climática, da apropriação dos nossos bens e a destruição dos nossos modos de vida”, partilhou a mediadora Valneide Ferreira.
No “Círculo 3 – Raízes Plurais: Feminino, Gênero e LGBTQIAPN+”, realizado no Reisado do Mestre Dedé de Luna, reuniu Cobra Preta dos Santos Galvão, Mestra Marinez e teve mediação de Mestra Mazé de Luna, tratando das interseções entre gênero, ancestralidade, corpo e cultura.
Construindo propostas para o Fórum
“A Teia, a Rede Cultura Viva no Ceará, juntamente com a Secretaria da Cultura, tem aprimorado e construído um lugar de pactuação muito importante. Um lugar de pactuação política, inclusive. Pactuando aqui, no seu lugar de jogo, sociedade civil e poder público sobre como juntamos as mãos para avançar nessa política tão importante que está aí beirando os seus 20 anos. Quando sentamos aqui para discutir justiças climáticas e territórios ancestrais, falamos nada mais, nada menos do que o que fazemos no nosso cotidiano, aquilo que está arraigado com o nosso modo de vida, que é extensão do nosso corpo, ou diria, o nosso corpo como a extensão do lugar onde habitamos”, compartilhou o Chefe de Gabinete da Secult Ceará, Zé Viana Júnior.
No Terreiro das Pretas, o “Círculo 4 – Racismo Ambiental” reuniu Verônica Neuma das Neves Carvalho, Valéria Gercina das Neves Carvalho e mediação de Herlania Batista (ONG Quilombaxé), evidenciando como desigualdades ambientais atingem sobretudo populações negras, periféricas e tradicionais.

Círculo 4 – Racismo Ambiental Foto: Maria Haydêe
O “Círculo 5 – Urbanização e o direito à cidade”, aconteceu no Coletivo Camaradas (Comunidade do Gesso) e trouxe reflexões com Izabela Moreira e mediação de Alexandre Lucas sobre memória, remoções, arte pública e o papel dos territórios criativos na transformação urbana.

Círculo 5 – Urbanização e o direito à cidade
No Ponto de Cultura Povo Cariri Poço Dantas, o “Círculo 6 – Povos originários: saberes e fazeres ancestrais” reuniu Adriana Tremembé e mediação de Valdivino José de Lima Neto (MSI) em um diálogo sobre resistência indígena, fortalecimento cultural e práticas tradicionais.

Círculo 6 – Povos originários: saberes e fazeres ancestrais Foto: Maria Haydêe
Encerrando a manhã, o “Círculo 7 – Raízes que brotam infâncias e sustentabilidade”, ocupou o Ponto de Cultura Procem Casa Luz. Na oportunidade, a fala foi de Neila Rocha com mediação de Mestra Tereza de Zaíra, debatendo educação, cuidado, infância e modos sustentáveis de viver.

Círculo 7 – Raízes que brotam infâncias e sustentabilidade Foto: Cassio Simioni
“Fizemos um debate bem importante, voltado para a cultura infância. Sobre a preservação, das ancestralidades dos territórios por meio também da sustentabilidade. Como a temática dessa Teia ela gere pela preservação ambiental, pela questão de território e pela mudança climática, nós voltamos muito o assunto para essa preservação das culturas infância, dos patrimônios, onde os mestres possam estar repassando seus saberes e fazeres para terem continuidade por meio da infância”, destacou Neila Rocha (Ponto de Cultura Arcos).
Noite cultural celebra tradições e ritmos populares
A partir das 18h, o parque do Centro Cultural Cariri recebeu as Feiras Criativas e Solidárias, reunindo artesãos, artistas, empreendedores e visitantes em um ambiente de trocas econômicas e afetivas.
A programação artística iniciou às 19h, com o “Encontro de Capoeira”, reunindo os grupos Mandinga na Ribeira (Groaíras), Capoeira Angola Orun Aiyê (Fortaleza) e Ukilombo Capoeira (Aracati). Em seguida, às 20h, o grupo Oficarte (Russas) apresentou o espetáculo teatral “Retalhos de mim”, que trouxe narrativas de identidade, memória e resistência.
A partir das 21h, os ritmos tradicionais tomaram o parque com o Coco de Praia do Iguape, com Mestre Chico Casueira (Aquiraz), Xaxado dos 25 anos da Associação Maria Bonita (Umari), Boi Itaitinga, do Ponto de Cultura Acauã das Artes / Pontão Cultura Viva Ceará (Itaitinga).
A noite foi encerrada com o show da banda Mestre Ambrósio (PE), das 23h à meia-noite, reunindo brincantes, artistas e participantes da Teia em uma grande celebração popular. O encontro do grupo pernambucano com o público presente ao Centro Cultural Cariri teve um gosto todo especial, partilhou o músico Helder Vasconcelos.
“Nunca estivemos aqui, então é uma alegria em dobro, em triplo e quádruplo, porque a gente tocar numa cidade pela primeira vez é sempre muito gratificante e aí não é qualquer cidade, não é qualquer região, é uma terra de reis, como diz o Siba na sua escrita, então ficamos muito felizes, orgulhosos, honrados de poder fazer uma festa num lugar tão emblemático”, avisou Helder Vasconcelos.