Secult lança segunda parte do Julho das Mulheridades Negras com a voz de mais três lideranças dos Pontos de Cultura no Ceará

30 de julho de 2025 - 17:41

Ação celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela e o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha

Destacar o protagonismo das mulheres negras nos territórios e promover a contribuição e dinâmica social dos Pontos de Cultura que atuam em nosso estado. Com esse objetivo, a Secretaria da Cultura do Ceará (Secult), a partir da Coordenadoria de Diversidade, Acessibilidade e Cidadania Cultural (Codac), realiza a campanha “Julho das Mulheridades Negras”.

Esta ação destaca a força, memória, criatividade e atuação destas lideranças. Reforça o papel histórico do Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado no dia 25 de julho. É também uma celebração ao Dia Nacional de Tereza de Benguela, símbolo de resistência da luta negra no Brasil.

>> Secult promove Julho das Mulheridades Negras e dá voz a lideranças que movimentam os Pontos de Cultura no estado

Na última sexta-feira (25), a Secult lançou a primeira parte da ação com o depoimento de quatro mulheridades. Participaram Kieza Fran (Coletivo Fora da Métrica), Janayna Leite Silva (Grupo de Valorização Negra do Cariri – GRUNEC), Lúcia Maria da Silva (Ponto de Cultura Negritudes: Africanidade é a nossa marca) e Pérola de Oyá(Coletivo Ajeum de Oyá).

O “Julho das Mulheridades Negras” prossegue agora com as vozes de Edilene Bernardo (Ponto de Cultura Um Tesouro Chamado Nordeste), Ghyslaine Araújo (Ponto de Cultura Mucuim de Todas as Artes) e Josiana Quilombola (Associação Remanescente de Quilombo Serra dos Mulatos – ARQSM).

Do Cariri ao Sertão Central, passando pela capital e o litoral, as inúmeras vozes que compõem a campanha revelam diferentes experiências de atuação política, comunitária, religiosa, educativa e artística. O “Julho das Mulheridades Negras” reconhece as trajetórias de quem transforma seus territórios por meio da cultura, educação, ancestralidade e da construção coletiva de novos futuros.

Transformando vidas em Arneiroz

Do Cariri ao Sertão Central, passando pela capital e o litoral, as inúmeras vozes que compõem a campanha revelam diferentes experiências de atuação política, comunitária, religiosa, educativa e artística. É o exemplo da coordenadora do Ponto de Cultura Mucuim de Todas as Artes, do grupo MucArte, Ghyslaine Araújo.

O Ponto de Cultura localizado no Assentamento Mucuim, no município de Arneiroz, celebra este ano a marca de duas décadas de luta. Esta conquista também é parte da trajetória protagonizada pela liderança que também atua como professora de Geografia. “No ano de 2005, com 14 anos, tive meu primeiro contato com a arte e cultura, por meio do teatro. A partir daí foi amor à primeira vista”, situa.

“Conseguimos, através desses processos e da cultura, acessar editais e fazer projetos com o foco principal na valorização da mulher e da mulher negra. Começamos a fazer esse trabalho com os nossos. Começou daqui e tomou proporções que mudaram a vida de toda uma comunidade, não só a minha, mas a vida de toda a comunidade”, explica Ghyslaine Araújo.

Ghyslaine Araújo / Foto: Acervo pessoal

Nestes 20 anos, o Ponto de Cultura desenvolveu trabalhos sobre gênero, diversidade, sexualidade e a questão principal da raça. Para Ghyslaine Araújo, é motivo de orgulho ver como as pessoas que participaram ou ainda participam do grupo, conseguiram adquirir as bases para se reconhecerem e valorizarem suas identidades.

“Enquanto mulher negra, à frente de um Ponto de Cultura, eu tenho muito orgulho e sou muito feliz por estar aqui contando a minha história e dizendo que se eu estou viva, se eu resisti e se meu grupo resistiu por 20 anos, resistimos por causa dessa força, porque mulheres e outras mulheres vieram. E mulheres negras continuam esse trabalho. Graças a elas e graças a todas essas, nós estamos vivas e seguimos vivas”, completa a liderança.

Esperança e luta que nasce do Quilombo Serra dos Mulatos

Mulher, mãe, esposa, ativista, quilombola e indígena, Josiana Pereira Lima, a Josiana Quilombola, é uma liderança do quilombo Mulatos, localizado no território Serra Boca da Mata, no município de Jardim.

Enfermeira graduada, com especialização em Saúde da Mulher e formação em saúde da criança, assistência à pessoa e à família em situação de risco, Josiana também é doula, técnica de enfermagem, agente comunitária de saúde e técnica em saúde. É a primeira presidente da Associação Remanescente de Quilombo Serra dos Mulatos (ARQSM) e a primeira mulher quilombola do território a se candidatar a vereadora.

Josiana Quilombola / Foto: Acervo pessoal

Com firmeza, Josiana compartilha que sensibilizar e lutar por espaço é o caminho a ser trilhado. “Aqui no território, busco incentivar a comunidade, principalmente o protagonismo feminino em frente às lutas e o fortalecimento do sentimento de pertencimento e da preservação da herança cultural.”

Referência na articulação de direitos e fortalecimento da identidade quilombola, Josiana defende a ancestralidade como base de futuro. “Buscamos proteger e valorizar as tradições e manifestações culturais, garantindo, àqueles que virão após nós, conhecer e vivenciar sua herança cultural. Não é fácil, mas lutamos dia após dia e estamos resistindo”, completa.

Maciço de Baturité que reforça a cultura do Nordeste

Pedagoga, escritora, contadora de histórias, mestranda em Educação e gestora cultural do Ponto de Cultura “Um Tesouro Chamado Nordeste”, localizado em Redenção, Edilene Bernardo se reconhece como filha do Maciço de Baturité, território que moldou sua trajetória pessoal e profissional.

Filha de agricultores e neta de Dona Chaguinha, mulher negra e rezadeira, Edilene foi desde cedo atravessada pelos saberes da cultura popular e pela força da ancestralidade feminina. Essa herança motivou a criação do projeto “Um Tesouro Chamado Nordeste”, fundado por ela em 2018 na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), para valorizar a cultura nordestina e enfrentar a xenofobia.

Desde então, sua atuação tem sido marcada por engajamento, sensibilidade e liderança. Além de gestora cultural, Edilene é professora, diretora de cultura, articuladora de redes e referência para outras mulheres negras que desejam ocupar espaços de decisão e expressão cultural.

Edilene Bernardo / Foto: Acervo Pessoal

“Meu papel é ser uma ponte entre saberes, memórias e cultura viva no meu território, meu estado e meu país. Acredito que fortalecer a cultura negra no território é garantir visibilidade, potências e liberdade.”

Edilene deseja que sua caminhada sirva de inspiração para jovens e mulheres negras que, como ela, sonham em transformar o mundo a partir de suas raízes:

“Quero ser uma inspiração para outras mulheres negras que sonham em transformar o mundo — mas que comecem pela sua cidade, pelo seu território. Aí vamos crescendo, ganhando asas e nos tornando cada vez mais essa potência. Sejam as lideranças, ocupem esses lugares”, compartilha Edilene Bernardo.