Por meio de ações de circulação da Secult Ceará, artistas da cena musical do estado promovem e apresentam sua arte em eventos nacionais

31 de janeiro de 2024 - 13:55 # #

Texto: Antônio Laudenir, Secult Ceará

A partir de projetos desenvolvidos pelo Hub Cultural Porto Dragão, vários nomes cearenses levam sua diversidade sonora para o “Porto Musical” (PE) e festival “Vem, Futuros! Verão”, da Oi Futuro (RJ)

Apresentação da banda Procurando Kalu no “Vem, Futuros! Verão” (RJ). Foto: Thayná Facó

Entre janeiro e fevereiro, dois importantes eventos do mercado musical brasileiro conhecerão o corre e talento de vários nomes da cena autoral cearense. No palco, mentes criativas ligadas ao hip hop, samba, reggae, música instrumental, MPB, rock, dentre outras vertentes sonoras.

Oportunidade para circular, desbravar ideias e projetar futuras oportunidades com outros profissionais do ramo.  A projeção dos nomes locais acontece por meio da movimentação e parcerias desenvolvidas pelo Hub Cultural Porto Dragão, equipamento da Rede Pública de Equipamentos Culturais da Secretaria da Cultura do Ceará (Secult Ceará), gerido em parceria com o Instituto Dragão do Mar (IDM).

O primeiro destino de 2024 é a capital fluminense. Em ação com a Oi Futuro, tendo como base o programa “Difusora”, que atua em estratégias de intercâmbio entre artistas, produtores e agentes culturais, o Hub promoveu shows da banda Procurando Kalu e do rapper e poeta 6utto no festival “Vem, Futuros! Verão” (RJ), que acontece nos dias 17, 24 e 31 de janeiro.

Com 10 anos de estrada, o grupo sobralense de art-rock foi atração do primeiro dia de shows do evento e fez elogiado concerto no dia 17 de janeiro. Já 6utto desembarca no Oi Futuro com o primeiro trabalho na bagagem (o disco “Malandragem”) e show agendado para esta quarta-feira (31), fechando a conta do festival.

Com a chegada de fevereiro, outro destaque é a participação de outros 11 nomes da cena musical do Ceará no evento Porto Musical (PE), uma das mais relevantes feiras de negócios do mercado fonográfico no País. Nesta quinta-feira (1º), o concerto “Invasão Cearense” reúne Agê, Ayla Lemos, Carla Ribeiro, Dextape, Diego Silvestre, Lorena Nunes, Luiza Nobel, Marcvs Av, Thais Costa, Zé de Guerrilla e discotecagem de Tauí Castro.

Cada participante possui uma trajetória única nos palcos e estúdios. A formação coletiva, produzida especialmente para esta edição do Porto Musical, revela a riqueza de sons em atividade no Ceará. A ida desses talentos acontece de forma conjunta com o Centro Cultural do Cariri, equipamento da Secult Ceará, gerido em parceria com o Instituto Mirante de Cultura e Arte.

Além do concerto, os artistas estão credenciados e podem acompanhar a programação oficial da feira, repleta de conferências, oficinas e pitchings. Este mergulho no Porto Musical, que acontece até 3 de fevereiro, é uma oportunidade para divulgar os trabalhos e realizar trocas com destacados profissionais da indústria.

Circular e encantar

Diretamente de Sobral (240 km de Fortaleza), Procurando Kalu investiga uma estética surrealista inspirada no Sertão Norte do Ceará. Atravessa referências e linguagens da música, performance, artes visuais e moda. Nesta trajetória, participaram de renomados festivais e plataformas como Maloca Dragão, Cultura Livre, Grito, Mostra AMP e Porto Dragão Sessions.

Zeca Kalu compartilha impressões acerca do trabalho do grupo no “Vem, Futuros! Verão”. “Acredito muito na potência do palco para esse aprimoramento, para tornar o trabalho mais consistente para o público e artistas. Essa troca, a partilha do processo criativo com o público é importante nesse sentido, pois serve como termômetro de várias coisas. Das criações, dos arranjos, da receptividade do público, de quem é o seu público, de conhecer essas pessoas”, destaca.

O saldo, avalia, é positivo em diversas frentes de produção e revela como um projeto voltado a circulação amplia a troca de saberes e ideias com artistas de outras cidades. Em outra esfera, também agrega ao portfólio, entrega novos ares ao processo criativo. “Circular o som, seja dentro do estado ou fora, nos interiores como é o nosso caso, pois somos uma banda de Sobral, é importante. Causa efeito de reencantamento com o processo criativo, fazendo você lançar um olhar mais atento para sua obra. É como abrir sua casa. Então, você vai circular, abrir sua casa para que outras pessoas possam ouvir os sons da sua casa, ouvir o que você fala”, divide Zeca Kalu.

No centro da imagem está Zeca Kalu, músico, compositor, produtor, artista sonoro, performer, artista visual, arte-educador. Foto: Thayná Facó

Nesta quarta-feira (31), o “Vem, Futuros! Verão” recebe o rapper e poeta 6utto. O artista é filho do bairro Sapiranga, em Fortaleza. Em 2020, lançou “Pra você” e “Deixa os menino sonhar”, canções que lhe renderam convite de Bráulio Bessa para participação na série documental “Poesia que transforma” (2021).

Em 2022, lançou as faixas “Blackcat”, “Garoupa” e “Eu vou vencer”. No início de 2023, o artista lança o seu primeiro EP, “Parábolas de Favela”, que conta com 4 faixas e traz o discurso de fé, sonho e esperança alertando do preconceito racial e periférico. 2023 marcou o primeiro álbum cheio, “Malandragem”, também disponível em todas as plataformas digitais.

Nas palavras do rapper, é grande a vontade de ver o calor do público e como eles podem sentir o que ele passa nas músicas. “Sei que será uma troca muito massa, se ligou. A expectativa é das melhores e acho importante essa circulação dos artistas”, avalia, poucas horas depois de pousar no Rio de Janeiro.

Projetos que viabilizam o intercâmbio, conta, deveriam ser uma realidade nacional para os realizadores e realizadoras independentes. “É vital trazer outras perspectivas para artistas que necessitam disso. É uma grande porta que se abriu para mim, para a minha arte, para o artista que eu sou. Vai ser muito massa. Vamo que vamo”, avisa 6utto.

“A expectativa é das melhores e acho importante essa circulação dos artistas”. Foto de 6utto, por @oousmith

Anteriormente, Procurando Kalu e Gutto participaram do “Zona de Criação”. Esta iniciativa do Hub Cultural Porto Dragão propõe a realização de material audiovisual como portfólio artístico. A partir da articulação local realizada, a curadoria da Oi Futuro escolheu os artistas.

“Com a Oi Futuro, nós temos agora um novo canal de circulação para os nossos artistas, com o objetivo de difundir e ampliar a sua capacidade de inserção no mercado nacional”, explica Ivan Ferraro, gestor de Economia Criativa do Hub Cultural Porto Dragão.

Várias vozes, um Ceará

Realizado desde 2005, o Porto Musical reúne um público interessado em criação de redes, contatos, trocas de conhecimentos e geração de negócios. Em 2023, uma delegação composta por dez representantes de festivais canadenses, além de representantes do renomado festival europeu “Womad — World of Music, Arts and Dance”, marcam presença.

O show “Invasão Cearense” acontece nesta quinta-feira (1), às 22h, no Terra Café Bar (Recife / PE). Em meio aos últimos preparativos para o evento, conversamos com Dextape e Carla Ribeiro. Naturais do Cariri cearense, cada participante traz observações acerca da iniciativa e do processo criativo que uniu tantas mentes talentosas.

Apreciador/consumidor da cultura Hip-Hop desde 1998, Luciano Barbosa, de nome artístico Dextape, é MC ativista da região do Cariri cearense. Focado na valorização do som e experimento de novos conceitos, atua como artista multilinguagem. Adentra também o universo da literatura, propondo oficinas que incentivam à leitura e auxiliam na formação literária.

“O show foi formatado pensando a pluralidade, ecleticidade e mistura heterogênea que é a musicalidade do estado. Vai da cumbia cearense ao reggae, ao hip hop — ritmos mais contemporâneos — R & B e blues. Pensa também nestas novas musicalidades que permeiam os rincões do Ceará, desde as regiões metropolitanas do Cariri e da Grande Fortaleza”, descreve.

Na imagem, o artista Dextape. O show “Invasão Cearense” acontece nesta quinta-feira (1), às 22h, no Terra Café Bar (Recife / PE).

Cantora e compositora, Carla Ribeiro acabou de lançar seu primeiro trabalho autoral, o disco  “Corpo Aberto”. A partir de suas performances e tributos, vem colecionando festivais na carreira e venceu a última edição do Festival Cariri da Canção com o single “Olhos Grandes”.

A oportunidade de sair da região e apresentar o trabalho em outro estado, com outros artistas, é fundamental na carreira do artista independente, pois somos ‘nós por nós’. Se dependesse só de mim, não conseguiria por questões financeiras ou não conhecer as possibilidades”, descreve a artista entrevistada.

Carla Ribeiro reforça a importância de mais projetos de circulação em atividade. “Movimenta o cenário, faz os artistas saírem do circuito do estado. É importante para ganhar experiência, ganhar nome e fazer contatos”, completa Carla Ribeiro.

Na imagem, a cantora natural do Cariri, Carla Ribeiro.

O objetivo da apresentação é fazer com que cada artista divulgue a potência e o que tem de melhor dentro da sua linguagem. “Nossa ideia, da ‘Invasão Cearense’, é colocar o estado no mapa do circuito da arte, da música em específico. Para que consigamos colocar na galera que o Ceará, como o Nordeste todo, é uma potência. É também pensar novas relações de consumo da música, com a arte, com os artistas cearenses”, afirma Dextape.

Com outros nomes reunidos, uma edição do show “Invasão Cearense” foi realizado ano passado na Semana Internacional de Música de São Paulo, a “SIM São Paulo”. Naquela oportunidade, o concerto reuniu Nego Gallo feat Emiciomar, Mateus Fazeno Rock, Mumutante, Lorena Nunes, Rafael Martins, Xavier feat Beiramaquina, DJ Bia Turri, DJ Val Pescador e Leo Suricate como apresentador.

Para o Porto Musical, o Hub Cultural Porto Dragão recebeu proposta de continuação da atividade realizada na “SIM São Paulo”. A produtora apresentou uma lista de artistas e a curadoria para esta segunda edição do show foi realizada em conjunto.

“Expandir as possibilidades de negócios e qualificar a atividade profissional na área cultural. O Porto Musical é um evento que possibilita apresentar esse recorte da música cearense para programadores de festivais, mas também possui espaços de reflexão sobre o mercado musical e os processos criativos na música”, divide Leo Porto, gestor executivo do Hub Cultural Porto Dragão.

Conheça os integrantes do show “Invasão Cearense”

Agê é compositor e produtor musical multi-instrumentista, graduando em Composição pela UECE. Nascido em Fortaleza, atua na cena cultural da cidade desde 2017. Já colaborou com OutraGalera, Mateus Fazeno Rock, Mumutante, Di Ferreira, Otto e Silvero Pereira. Em 2021, lançou seu primeiro single e, desde então, segue desenvolvendo uma sonoridade rebuscada do neo-soul, R&B e hip hop.

Ayla Lemos é multi-instrumentista, cantora e compositora natural de Fortaleza, Ceará. Iniciou sua carreira como baterista de forma autodidata e logo em seguida começou a tocar em projetos musicais pela cidade. Desta experiência, agregou à sua musicalidade a vivência com artistas de gêneros variados. Em paralelo, manteve uma rotineira pesquisa musical criando suas músicas e canções e firmando uma carreira não apenas como instrumentista, mas também como compositora.

Diego Silvestre é multi-instrumentista e cantor cearense. Trabalha há 6 anos como guitarrista de várias bandas e artistas em Fortaleza, tendo se apresentado nos principais palcos da cidade e viajado também em turnê por vários estados do Brasil. Sua identidade na guitarra vem da mistura de música experimental com o rock e a música brasileira, buscando texturas, timbres e ritmos únicos.

Lorena Nunes é cantora, compositora, produtora e um dos nomes mais celebrados da nova música do Ceará. Filha de pais paraenses, nascida no Rio de Janeiro e criada em Fortaleza, seu timbre carrega a mistura típica do Brasil e traz referências à música negra como o soul, o reggae, o afrobeat, o samba e o jazz. Já se apresentou em diversas cidades dentro e fora do Ceará, além de palcos internacionais em Cabo Verde, Espanha, Itália, Portugal, França e Bélgica. Em 2024, seu primeiro álbum “Ouvi Dizer Que Lá Faz Sol” celebra dez anos e faz par com o mais recente, “La Mar” (2020).

Multiartista, Luiza Nobel encontra a si na interpretação e na performance de um corpo gordo e poético. Seu projeto “Preta Punk”, com repertório autoral, transita pelos gêneros do soul, jazz, blues e reggae, além de dialogar com a música pop produzida atualmente. Reúne as músicas: Califórnia Neva, Suspeita, 365 dias, Estamos bem – sendo esta produzida pela artista Mahmundi – e Let’s Burn, feat com Nego Gallo. O show é um encontro de diferentes musicalidades com a narrativa autoficcional que debate negritude, sexualidade, gênero, corpo e música.

Marcvs Av é produtor musical, multi-instrumentista, engenheiro de som, compositor e arranjador. Atua há mais de 15 anos nos ramos da música, cinema e teatro, já tendo colaborado com artistas como Di Melo, Mumutante, Mateus Fazeno Rock, Verônica Valentino, Di Ferreira, Jonnata Doll, Mallu Viturino e Nego Célio. Seus últimos trabalhos foram de produção, arranjo, mixagem e masterização do EP “Gravura” de Georgez e dos cinco singles de Agê, artista com quem trabalha na produção de seu primeiro álbum, com lançamento previsto para 2024.

Thais Costa é percussionista, curadora musical e professora, iniciou sua jornada musical nos pré-carnavais de Fortaleza em 2009. Em 2012, fundou o bloco feminista Damas Cortejam, destacando-se como arranjadora percussiva. Sua influência abrange da música afro-brasileira ao experimental. Além de sua atuação como educadora, Thais colaborou com diversos artistas, como Clau Aniz, Adna Oliveira, Carú-Lina, Luiza Nobel, Nayra Costa, Di Ferreira, Lorena Nunes, Pantico Rocha, Fernando Catatau, Marcelo Jeneci, Tarcisio Sardinha e Getulio Abelha.

Das encruzilhadas do Ceará, Zé de Guerrilla usa seus sons como um pedido de passagem pelos caminhos abertos da Latinoamérica. Compreendendo que conexões pelo nosso continente sempre foram uma realidade das nações, Zé se dedica a investigar possibilidades de combinações entre as musicalidades latinas, a fim de refletir sobre o cotidiano vivo da cidade e as repetições das relações a partir da mistura de samples, synths e beats.