Todos os tipos de corpos. Todos os tipos de amor. Mesa da curadoria aborda as diferentes formas de fazer literatura

19 de novembro de 2022 - 21:56 #

Foto: Chico Gadelha

O primeiro debate da mesa dos curadores desta quarta (16) foi entre Apêagá e João Paulo Lima, que falaram sobre os corpos na literatura, seguido por José Falero e Dalva Maria Soares, com mediação de Talles Azigon, sobre amor e texto literário.

Queer, gay, viado, bicha, sapatão, trans, aleijada e todas as dissidências a favor da matéria de composição da literatura. “Quais corpos cabem na literatura?”. Foi esse questionamento que abriu a mesa da curadoria “O mundo e suas voltas” desta quarta-feira, (16), na XIV Bienal Internacional do Livro do Ceará, com a reflexão de que o “corpo pode tudo”, na conversa entre a poeta Apêagá e o ativista, educador e performer João Paulo Lima. A Bienal é uma realização da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult Ceará) e do Instituto Dragão do Mar (IDM). ⁠

Artista da palavra e criadora de conteúdo digital, Apêagá, a pioneira do Slam (campeonato de poesia) no Ceará, autora de Me faço tempestade para não caber em redemoinho pela (2021), da editora Substânsia, explica que iniciou a obra se identificando como não-binária, finalizando a sua escrita como travesti. “Será que você aceita ser curado pela palavra de uma travesti? Será que você aceita ouvir uma travesti falar sobre auto-cuidado? Pra você é confortável ver uma travesti nesse papel a não ser em um processo de marginalização?”, questiona.

Já o autor do livro Viço Manco Voo, João Paulo Lima contou sobre a ressignificação de termos na literatura que seriam ofensivos, como manco e aleijado, como uma poética da deformidade. “O aleijo não é um defeito. É outra maneira de caminhar, de existir, de pensar o corpo, de descobrir o que o corpo pode de outra maneira não bípede. Entender que os corpos podem e não podem fazer algo. Não falta nada no corpo. Sempre excede”, afirma João Paulo, que contou sobre os desafios na dança e artes cênicas.

Amor como potência

A história de amor do escritor José Falero com Dalva Maria Soares é daquelas de transformação e de potência. Juntos há quatro anos, Falero começou a publicar depois do forte incentivo de Dalva. Desde então, publicou Vila Sapo (2019), Os supridores (2020), pelo qual foi indicado ao prêmio Jabuti e ganhou prêmio Ages de livro do ano, e as crônicas Mas em que mundo tu vive? (2021). “Quando a gente se conheceu eu estava em um momento muito difícil de depressão e a presença da Dalva na minha vida me fez eu me sentir gente. Eu me lembro da primeira vez que ela me chamou de amor. Aquilo teve um impacto”, revelou.

A escritora e antropóloga Dalva Maria Soares, que é 21 anos mais velha do que Falero, ressalta que a relação dos dois é uma resistência ao patriarcado. “Eu acho importante esse lance do afeto. De como o afeto salva as pessoas. De como a gente precisa se sentir amado. Eu lembro até hoje do espanto, da expressão no rosto dele de quando eu chamei de amor. E era um ato político até”, destaca.

A relação entre os dois possibilita uma interlocução literária, com influências na escrita de cada um, reflexões sobre o machismo e sobre a construção das narrativas e das personagens, fazendo com que Falero repense o imaginário masculino sobre as mulheres. “A gente tem percebido que a gente constrói conhecimento juntos e eu acho isso muito precioso. A cada treta que a gente tem, ele me obriga a sofisticar os meus argumentos, a gente se melhorar como pessoa”, comenta Dalva, ressaltando a admiração que tem pelo escritor. A mesa foi mediada pelo curador Talles Azigon.

Para saber mais da programação da Bienal Internacional do Livro Ceará, basta acessar AQUI (programação sujeita a alterações).

Em sua 14ª edição, a Bienal Internacional do Livro do Ceará acontece de 11 a 20 de novembro de 2022 no Centro de Eventos do Ceará. Apresentada pelo Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura e do Instituto Dragão do Mar de Arte e Cultura (IDM), o evento acontece em parceria com a Secretaria de  Educação do Ceará (Seduc), Secretaria de Turismo do Ceará (Setur), Secretaria de Ciência, Tecnologia  e Educação Superior do Ceará (Secitece), Programa Mais Infância, Universidade Estadual do Ceará, Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), o Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas do Ceará, a Câmara Cearense de Livro e o Sindilivros CE. O apoio é da RPS Eventos, Sesc Senac, Banco do Nordeste Cultural, Universidade de Fortaleza, Unilab, Universitária FM, TV Ceará, Jornal O Povo/Vida e Arte, Fundação Demócrito Rocha, Pixels Educação Tecnológica, Instituto Juventude Inovação, Secretaria Municipal de Educação e Prefeitura de Fortaleza.