Encontro Mestres do Mundo: sobre corpo, mãos, sons, oralidade, sabores e o sagrado

19 de dezembro de 2013 - 13:36

Um dos momentos mais significativos do Encontro Mestres do Mundo, as primeiras rodas de mestres da oitava edição do evento foram realizadas ao longo da manhã desta quinta-feira (19), nas instalações do Centro de Expansão, no Crato. Divididos em grupos de discussão e experimentação sobre o corpo, as mãos, os sons, a oralidade, os sabores e o sagrado e o que podemos fazer com eles, as rodas se constituem numa rica miscelânea de saberes e trocas de experiências entre os mestres da cultura popular tradicional, os acompanhantes e os demais participantes do encontro.

É uma oportunidade em especial para cada um expor sobre o trabalho que desenvolve, interagir e aprender com a atividade dos outros e, sobretudo, ampliar visões sobre o potencial humano e criativo. Foi o que ensinou na “roda de corpo” o Mestre Aldenir (José Aldenir Aguiar, do Crato), na grandeza e humildade dos 80 anos. “Desde 1955, que eu tô nesse movimento de reisado, e nunca quis competição. Dança do coco é igual, pastoril é igual, bumba-meu-boi é igual, maneiro pau é igual…”, disse, valorizando todas as expressões corporais da cultura popular e admitindo ter buscado aprender com o melhor delas para levar ao seu reisado. Com dois grupos de reisado de congo, um masculino e outro feminino, Mestre Aldenir ainda tem disposição para formar um terceiro, de crianças, que está em criação.

Criação para ouvir e ver foi possível encontrar também na “roda das mãos”, com a exposição das redes de travessa de Mestre Edite (Maria Edite Ferreira Menezes, de São Luís do Curu), além do artesanato confeccionado aos olhos dos participantes-apreciadores do evento, como os trançados de cipó de Mestre Zé Pedro (Pedro Alves da Silva, de Guaramiranga), as cerâmicas em barro da Mestre Dona Branca (Maria Alves de Paiva, de Ipu) e as aplicações de retalhos em tecido de Clécia Fechine, acompanhante do xilógrafo e cordelista Mestre Stênio Diniz (José Stênio Silva Diniz, de Juazeiro do Norte).

Como uma colcha de retalhos da diversidade cultural popular, os tesouros vivos do Ceará também buscam na erudição a fonte de conhecimento para o desenvolvimento de suas atividades. Na “roda dos sons”, foi possível, por exemplo, admirar uma apresentação sobre o fazer artístico do lutier de violinos, Mestre Totonho (Antônio Gomes da Silva, de Mauriti), que aprimorou o dom com a pesquisa sobre harmonização e a história do instrumento. Na conversa, outros olhares e ouvidos para diversos instrumentos, como o coité, a rabeca e o próprio violino.

Entre tantos sons, performances e falas, o VIII Encontro Mestres do Mundo também tem a sua “roda da oralidade”. Foi nela que o Palhaço Pimenta, um dos novos mestres diplomados nessa quarta-feira (18), expôs com toda a graça um pouco da própria história e do encantamento pelo circo, desde que assistiu ao primeiro espetáculo e se apaixonou pela arte circense.

Num exercício de ativação dos sentidos, a “roda dos sabores” promoveu uma degustação simbólica pelo nosso potencial gastronômico. A logomarca alusiva ao quebra-queixo, doce artesanal feito basicamente de açúcar e coco, estampada na blusa de uma das participantes, anunciava do que o grupo tratava: a rica culinária regional e, além do fortalecimento da cultura gastronômica local, a difusão de produtos, inclusive na merenda escolar, a partir de frutas como pequi, babaçu e mangaba.

Num ambiente tão festivo, o Encontro dos Mestres do Mundo também aglutina as pessoas na “roda do sagrado”, em torno da diversidade de credos, experiências religiosas e intercessões entre as festas populares e as manifestações de fé. Amplificando visões, há espaço para a demonstração das diversas compreensões sobre o sagrado, como a de Terezinha de Fátima, acompanhante da Mestre Mariinha (Maria do Carmo Menezes Morais-Paracuru), tesouro vivo do pastoril. “Os elementos da natureza têm muito a nos ensinar. A terra é a nossa base. A água nos dá uma demonstração de humildade ao aceitar se sujar para que fiquemos limpos, além de ocupar os terrenos mais baixos até ir crescendo para depois se nivelar quando não encontra mais espaço para subir. O ar nos traz energia boas e más, dependendo da nossa disposição para o que queremos absorver. E o fogo nos aquece e nos ilumina”.

E assim segue o VIII Encontro Mestres do Mundo. As rodas de corpo, mãos, sons, oralidade, sabores e sagrado voltam a circular nessa sexta-feira (20), também a partir das 9 horas, no mesmo local, o Centro de Expansão do Crato. Com uma programação que começou nessa quarta e se estende até a noite dessa sexta, o evento é uma iniciativa da Secretaria da Cultura do Ceará, em parceria com a Prefeitura do Crato e o Instituto Sociocultural e Artístico do Ceará.